O Script
Prólogo
Alguns dias atrás, eu e alguns amigos estávamos acabando de gravar um filme pela rua, quando um sujeito estranho aproximou-se. Era um dia quente de verão, porém usava um chapéu esquisito e um sobretudo marrom.
- Ei, garoto.
-Sim?
-O que vocês estão gravando aí nesse troço?
-Nada de mais, apenas um antigo filme que estava inacabado. Nada de grande importância.
-Fiquei curioso. Eu poderia saber do que se trata?
-Ah,apenas um sujeito perdedor que encontra um antigo carro que lhe muda a vida completamente.
-Parece interessante. Mas, me diga: vocês não gostariam de trabalhar com equipamento profissional?
-O que você quer dizer?
-Estou procurando alguém para desenvolver um filme em uma propriedade não muito longe daqui. Teria algum interesse?
-Talvez. Sobre o que mesmo é o filme?
- Então. Eu ainda não tenho um roteiro pronto, apenas algumas ideias, mas sei de uma antiga propriedade que está abandonada há algum tempo. Dizem que o dono morreu e não deixou herdeiros. O ambiente é perfeito para um filme de terror ou suspense.
-Hmm. Quer dizer que a gente vai ter que desenvolver todo o roteiro ainda?
- Exatamente.
-Olha. Vou ver com o pessoal e te aviso qualquer coisa. Tem algum telefone para contato?
-Infelizmente não, mas pode me encontrar aqui neste mesmo local e horário dentro de 2 dias, caso resolva participar.
-OK. Vou pensar no assunto.
-Vou ir agora.
O sujeito virou-se e logo perdeu-se de vista. Por algum motivo, de repente tudo estava encoberto por uma estranha neblina, mas ninguém deu muita importância, afinal o tempo andava estranho.
No dia seguinte, nos reunimos para discutir o assunto, afinal ainda tínhamos um filme para terminar. O tempo estava ruim para filmar, estava frio e caía um temporal do lado de fora. O combinado era de nos encontrarmos em uma antiga cabana que há meses não utilizávamos. Era uma cabana antiga feita de madeira, era visível algumas trepadeiras e uma quantidade significativa de musgo em suas paredes externas devido a humidade do local, seu antigo dono morrera há algumas décadas em um estranho acidente e desde então o local permanece abandonado. Estando todos no ponto de encontro, dou início à reunião.
- Pessoal é o seguinte, ontem enquanto a gente gravava aquelas cenas, apareceu um cara esquisito, com a proposta de a gente fazer um filme com equipamento de primeira. Poderia ser uma boa jogada para conseguir uma grana extra.
- Quem sabe até conseguir participar de algum festival.- disse Jackson.
- Enfim, antes de mais nada, vale lembrar que temos um filme para concluir. A gente termina de gravar amanhã e, depois de tudo mixado corretamente, tentaremos exibir em algum lugar.
-Ok, mas e quanto a essa tal proposta?
- Pois é, o cara falou que tem todo o equipamento necessário e o suposto “local perfeito” para filmar. Porém, a gente teria que desenvolver todo o roteiro, pois diz ele, que só tem algumas ideias vagas.
-Sei não, hein. Me parece furada.- diz Marty.- Bom demais para ser verdade, tem alguma coisa por trás disso tudo.
- Bem, existe, é claro, uma possibilidade, de ser mera armação de alguém. Mas, o que custa tentar?
-Ok. por mim tudo bem, então.
-Vejo vocês amanhã de tarde para a conclusão das filmagens.
Ao terminar a reunião, o tempo já estava bem melhor, lá fora fazia sol, apesar de estar frio, por causa da chuva. O trânsito voltava a funcionar normalmente e várias pessoas caminhavam pela praça central. Com o tempo então mais calmo, todos se retiram de volta aos seus aposentos para se preparar para o dia seguinte.
Chego em casa, preparo um lanche qualquer, e começo a rever as filmagens. Depois de ter visto toda a gravação, conecto a câmera à tomada para recarregar a bateria e tento dormir. Por algum estranho motivo, começa uma tempestade violenta, com fortes raios e granizo caindo por toda parte. Ponho uns fones de ouvido e deito-me novamente.
Por um momento, lembro-me de minha infância, quando certa vez, eu estava passeando com meu tio em um parque, e um raio quase nos atingira.Na época eu tinha cerca de uns 6 ou 7 anos, porém achei aquilo fascinante e ao mesmo tempo assustador, afinal o raio havia caído a poucos passos de nossa localização e partira uma árvore ao meio.Nunca me esqueci daquele momento .
Não demorei para pegar no sono e dormir como uma rocha.
Capítulo I
08:03 AM
Acordo com uma leve dor de cabeça, abro a geladeira e pego um sanduíche que sobrou da noite passada. Visto-me e vou até o quarto preparar o material, ao que o telefone começa a tocar.
-Alô?
Silêncio…
-Alô? Tem alguém aí?- repito.
O Telefone permanece mudo. Após alguns segundos, desconecto a chamada.
Pego minha velha bicicleta e saio para dar uma volta e analisar o cenário a ser gravado. Vou até uma antiga catedral abandonada, perto da praça principal, o prédio deve ter mais de 200 anos, entretanto, parece estar em boas condições apesar da idade. Chego mais perto e vejo que a porta está destrancada, e resolvo entrar para examinar melhor.
Lá dentro, tudo escuro, iluminado apenas pela pouca quantidade de luz que passa pela porta e uma pequena janela em uma das paredes. A poeira é excessiva e torna difícil de se respirar lá dentro. Tapo a boca e o nariz com uma camiseta que levo comigo por precaução. Com um pouco de esforço consigo achar um candelabro com algumas velas antigas porém, ainda em bom tamanho.
Pego meu isqueiro para acendê-las, porém ao aproximar a chama do pavio, ela se apaga novamente e não consigo mais acender o fogo, presumo que tenha ficado sem gás. Dou uma tateada perto do candelabro para ver se consigo encontrar algum fósforo ou outra coisa que possa usar para acender. Depois de algum tempo, consigo então achar o maldito fósforo. Abro a caixa e vejo que só restam 4 palitos de fósforo na caixa. Primeira tentativa e o fósforo apaga ao chegar perto do pavio. Segunda tentativa, o fósforo apaga novamente. Na terceira tentativa finalmente consigo acender as velas, que iluminam boa parte do saguão. Percebo alguns objetos mal iluminados ao fundo e, ao me aproximar, imagino ser de alguma espécie de ritual que alguém fizera há vários séculos atrás.
No altar há vários símbolos estranhos e alguns me chamam atenção especial, se bem conheço são desenhos de runas entalhados na pedra. Além dos símbolos é possível ver um punhal e um cálice dourado. Começo a ficar meio nervoso com a situação e dou meia volta, na parede é possível perceber alguma mancha ou algo escrito, mas está escuro demais para conseguir ler. Apago as velas e volto para casa.
Já em casa, tomo um banho e vou para a cozinha comer algo. Para não perder tempo, aproveito e faço a verificação de todo o equipamento.
Ao entardecer, encontro com o resto do grupo no local para começar a filmagem.
Antes de começar a filmagem, leio novamente o script:
“Cena final.
Igreja Abandonada. - Entardecer
`Zé adentra no recinto mal iluminado. Ao vasculhar alguns símbolos desconhecidos, algo o golpeia por trás, sem que ele perceba.
*Corte de Cena*
Ao acordar em um local desconhecido, Zé ainda desorientado se vê cercado por fogo e a sua frente apenas o farol enfraquecido do carro amaldiçoado. Ao perceber o que está acontecendo, Zé é atropelado pelo mesmo várias vezes e tudo escurece.’
Fim“
Adentramos o local e começamos a filmar, após algumas tomadas da cena final, o carro incendeia e o equipamento perde totalmente o foco, ficando com uma imagem completamente borrada e com sinais de interferência.
Essa porcaria de câmera quebrou de novo. Espero que ainda dê pra resgatar parte das filmagens. - Digo, fazendo sinal para os outros.
Já era. Vamos dar o fora daqui antes que estrague mais alguma coisa. O carro já foi pro saco mesmo. - responde Raul.
Passadas algumas horas, chegamos na casa de Jackson para terminar a mixagem das cenas.
“Finalmente, nosso primeiro filme.” - Digo para mim mesmo.
01:25 AM
Ao chegar em casa, deito no sofá e acabo adormecendo. No dia seguinte, pego o equipamento e vou até o ponto de encontro como combinado.
-E então, tudo pronto?- pergunta o sujeito.
-Acredito que sim.- respondo.
-Então, sigam-me.
Passado algumas horas caminhando, saindo da zona urbana é possível avistar ao longe uma cabana de madeira velha e abandonada, praticamente isolada da civilização, rodeada por várias árvores nativas. Chegando mais perto é possível avistar um pequeno lago adiante da cabana, no qual é possível ver alguns peixes pulando para fora da água e um píer apodrecido.
-Ok, este é o lugar.- diz o sujeito - Acredito ser um bom cenário para o filme.
-Bem, vamos dar uma olhada.-respondo.
Dou uma volta pela casa e examino atentamente detalhes como portas e janelas. De uma janela meio quebrada, dá para se enxergar um pouco do interior da casa, apesar da falta de luminosidade. Lá dentro percebe-se alguns móveis velhos e empoeirados, mas nada de especial. Tento abrir a porta da frente, mas a porta está emperrada. Dou uma passeada pelo lago analisando o perímetro. Após algum tempo, resolvo fechar o acordo e volto para casa.
10:00PM
Pego um caderno de anotações e começo a pensar em alguma coisa para o filme.
Após certo tempo anoto algumas ideias no papel:
“Turma de amigos perde-se ao ir para um acampamento e encontra uma velha casa abandonada perto de um lago. A paisagem é bonita e um tanto convidativa, assim o grupo resolve acampar por ali mesmo.”
-Bem, já é alguma coisa. - Digo para mim mesmo e anoto mais um pouco.
“Tony arromba a porta de trás e ao entrar na casa sente um ar mais pesado que o normal, mas deixa passar despercebido devido ao cansaço da longa caminhada.
Pega sua lanterna e vasculha a casa por alguma fonte de luz, após algum tempo, acha algumas velas em um balcão na cozinha, todas posicionadas na forma de um círculo e as acende com um isqueiro que carregava em seu bolso. Feito isso, pega as mesmas e espalha algumas pela sala para se ter um pouco de iluminação no local. Após dar uma limpada nos móveis empoeirados da sala resolvem examinar o resto da casa para ver exatamente onde cada um iria ficar. Ao subir as escadas, antes de chegar ao andar superior, Mark percebe um forte odor de enxofre de origem desconhecida e retorna para o lado de fora da casa para poder respirar um pouco.
Após alguns minutos, cobre seu rosto com um pano que carregava na mochila e tenta subir novamente ao piso superior. Os degraus já muito velhos não deixam de ranger a cada passo dado e o forte cheiro já estava bastante amenizado. A poucos degraus para o piso superior um dos degraus se parte ao meio e Mark quase cai, mas consegue se equilibrar e chegar ao segundo piso. “
01:00 AM
Olho para o relógio, largo tudo e deito de bruços na cama, já cansado.
Capítulo II
Acordo ofegante como alguém que busca desesperadamente por oxigênio.
Estou em um quarto empoeirado, sem muita luminosidade.
O pouco de luz que há no local vem de uma janela quebrada.
Tudo está coberto por panos mofados e antigos. Por um breve momento, avisto uma estranha sombra em algo que suspeito ser um velho espelho quebrado e, então, desaparece.
“Como diabos vim parar aqui?” Penso.
Tento procurar uma saída, mas não consigo encontrar qualquer porta no local além da pequena janela quebrada. Começo a sentir uma estranha sensação de claustrofobia.
Ouço passos se aproximando, parecem vir de trás de uma parede, mas logo o ruído desaparece. Sinto como se alguém estivesse parado logo atrás de mim, apenas observando.
- Quem está aí?? - Pergunto em voz alta.
Ninguém responde. Nada além de silêncio absoluto.
Tento olhar por fora da janela, mas não consigo ver nada além de um campo devastado. Penso ver um espantalho ao fundo. “Estranho, de uma hora para outra, aquele boneco me parece tão familiar…”
A cama caindo aos pedaços parece ser extremamente confortável de repente.
Algo está terrivelmente errado por aqui.
O som de algo quebrando ecoa bem acima de mim. Tento gritar para chamar atenção de quem quer que esteja por perto, mas a voz simplesmente não sai da minha boca, como se algo lentamente me sufocasse.
Estou completamente paralisado.
Sinto algo se aproximar.
5:45AM
Acordo ofegante e suando frio.
Outro daqueles pesadelos estranhos que há dias me perturbam.
Levanto e fecho a janela que esqueci aberta devido ao cansaço.
Lavo o rosto com água fria e demoro um pouco para acordar totalmente.
Preparo um café e permaneço estático, olhando para o nada através da janela.