A MISTERIOSA VILA 41 – A SAGRAÇÃO
Durante os sete dias da sagração, o silêncio só foi quebrado pelo criptar das chamas amareladas dos archotes nas paredes de pedra do grande salão. Lá fora sob a luz forte e prateada da lua,
ouvia-se os soluços sentidos da criança. Todos permaneciam em total mutismo. Após longos sete dias e noites misteriosas, finalmente a cerimônia é terminada. A dama sai da câmara acompanhada pelo capitão, nas mãos eles trazem duas urnas de madeira. Asgard é convocado pelo casal. A imponente figura do Capitão permanece em silêncio. A dama fita docemente o comandante com seus lindos olhos verdes e ordena:
- Comandante Asgard, a nobreza dessa missão lhe será honrada. Em seguida lhe entrega uma das urnas e diz. - Nesta urna, contém o líquido que é parte de Aros, ela será depositada na sua catacumba para cumprir o ritual humano. Em seguida lhe entrega a outra urna e diz. - Esta outra deverá ser depositada no Gaivota, antes da lua mudar de fase, a traineira deverá ser conduzida por você até a Ilha do Urso onde será naufragada, o oceano guardará os segredos de Aros.
Com as urnas nas mãos, Asgard sente o cheiro de cravo exalando ao mesmo tempo que assoma positivamente com a cabeça. A dama e o capitão, ocupam as duas cadeiras no centro do salão e solicitam que Asgard sente-se ao seu lado. Então tudo é revelado.
Um dos feitiços mais poderosos da história, bem como uma das maiores conquistas do vampirismo permitiu que alguém transcendesse a morte na forma de um elixir. Asgard ouve tudo como se tivesse passado da realidade a um pesadelo. Era mesmo Isabelle em carne e osso ou talvez... outra coisa.
Quando ainda era um jovem, o Capitão violou a lei da natureza do clã e pagou caro por isso; perdeu sua amada. Ele foi amaldiçoado e deportado por cem anos, pela família.
Ele migrou juntamente com um pequeno clã de poderosas criaturas, diretamente para Baltimore. Lá ele fez a guerra e ficou temido pelas suas práticas malignas. Mas em seu coração frio, pulsava a centelha da dor da sua verdeira alma gêmea. Foi então que conheceu Isabelle e sua irmã, as filhas do taberneiro. A semelhança delas com sua amada, o fez se apaixonar perdidamente pelas duas. Desesperado pela dor do abandono, ele sequestrou uma delas, e por acidente a matou naquela fatídica tarde em que Aros havia chegado em Baltimore. E a chegada de Aros mudou completamente o rumo do seu plano maligno.
Para desfazer a maldição do clã, ele teria que casar e ter filhas gêmeas, uma seria o mal, a morte o fim. A outra seria o bem, a imortalidade e o retorno da sua amada, assim cumprir-se-ia o adágio. Somente Isabelle tinha os dotes necessários para o sacrifício. Porém o acaso uniu as almas de Isabelle e Aros. O Capitão ficou desolado e furioso ele iniciou a busca por ela e o aniquilamento de Aros. Quando tomou Isabelle, lhe prometeu a liberdade e a imortalidade. Somente assim se libertaria também da culpa e traria sua amada de volta.
Em nome do amor por Aros, Isabelle aceitou e bebeu o elixir, somente assim poderia continuar amando e sendo amada. Se não era possível amarem-se como humanos, se amariam como criaturas da eternidade.
Depois de revelar toda a verdade para Asgard, ela partiu para Baltimore em companhia do Capitão. Sua missão era realizar a mesma cerimônia, para trazer de volta o grande amor do maligno. Após vinte um dias, ela retornou e se abrigou em seu quarto a espera da volta de Aros. Sua filha do bem, ficou guardando seu sono. A outra filha do mal, ficou guardando o túmulo do pai. Quanto a Asgard, assumiu o posto de senhor da legião. Aros o pescador, guerreiro e amante, agora era imortal.