Sombras da noite

Sombras da Noite

Félix Hilton

Naquele dia o agente federal Marx acordou tenso, fora designado a levar oito presos de alta periculosidade para a prisão federal de segurança máxima de outro estado, pois não estavam conseguindo contê-los devidamente por causa da pandemia que assolava o planeta. Tinham direito de sobreviver diziam seus advogados. Odeio cada um deles, mas ordens são ordens.

A viatura o pega exatamente às seis horas da manhã.

Marx: Bom dia capitão.

Grazo: Bom dia, vamos a esta missão que em nada me agrada.

Marx: Nem se preocupam com a nossa segurança, são de altíssima periculosidade.

Mudam de assunto e contam suas aventuras amorosas, ambos deixaram suas esposas em casa e estavam em períodos de ótimo relacionamento, vangloriavam-se.

Passam pela entrada do Centro prisional e logo vão dando ordens para algemar os presos que aguardavam remoção, queria poder mandar amordaçá-los também, mas a lei não o permitia. Zero tinha uma língua afiada que o atormentava.

Sete e quinze exatamente pousa o avião preparado para transportá-los, um deles era cadeirante, mas mesmo assim nada impedia de ele tirar a vida de alguém em um piscar de olhos, Pietro não tinha alma é o que diziam.

Direcionaram um a um e os algemavam em suas poltronas com todo o cuidado, eles eram obrigados a manter o silêncio, mas a regra nunca cabia a Zero que se divertia dizendo que iam viajar de avião como pagamento por bom comportamento. Os outros guardavam silêncio, mas o fogo dos olhos queimava o prazer de trabalhar no sistema.

A maioria estava presa a mais de vinte anos, três deles eram idosos, os outros tinham doenças que os tornavam alvo da pandemia. Todos os agentes torciam pelo covid – 19.

Terrone: O voo terá duração de uma hora e 32 minutos, sairemos em 4 minutos.

Arrumados os últimos detalhes o avião alça voo no horário exato, todos calados neste momento.

Quatorze minutos depois quando sobrevoava a mata fechada da floresta amazônica o avião é atingido por um projétil que conseguiu passar pela estrutura metálica quase atingindo o piloto, segundos depois outro tiro que desestabiliza o avião e o lança floresta abaixo, sem conseguir controlar dá tempo apenas de escolher uma área mais livre para a queda.

Os galhos das sequoias permitiram a sobrevivência deles, mas os braços de dois deles foram deixados nas poltronas, os outros se machucaram bastante, mas havia medicação a bordo.

Atordoados pela queda tiveram que tirar um a um e medicá-los, o sangue não estancado devidamente levariam à morte Jaime e Lídio, o sangue jorrava e ouviam-se os gritos de dor, o branco que tomava conta de suas faces anunciava o pior.

O piloto estava bem, assim como o copiloto, os agentes não se machucaram, e haviam avisado a torre de comando sobre a queda.

Marx: Fizeram isto para matar os presos, ou dar a eles chance de fuga?

O certo é que podiam estar correndo perigo, organizaram-se ao redor dos destroços para proteger a vida de todos.

Mesmo durante o dia a claridade não era muita, mas as luzes de emergência do avião clareavam a paisagem.

Árvores imensas os rodeavam, e sabiam que logo chegaria o resgate. Marx deveria ter falado de seu sonho, mas agora era tarde.

Duas perdas, muitos feridos, e o silencio da mata cortada pelo som dos animais que estavam mais próximos deles, por enquanto pássaros, mas o cheiro do sangue atrairia predadores se estivessem ali no cair da noite, mas era totalmente improvável.

Grazo anuncia que os tiros vieram de perto dali a noroeste pelo ângulo de entrada feito na cambagem do avião.

O arsenal de armas era bastante grande neste tipo de missão, mas não se sabia a quantidade de mercenários que haviam planejado o provável resgate.

Todos estavam medicados, mas continuariam algemados mesmo com as dilacerações que havia em seus corpos.

Minutos depois uma notícia que os deixaria extremamente preocupados, os sinais de localização do avião estavam sendo bloqueados, de alguma forma os mercenários que os haviam derrubado prepararam uma luta sem plateia.

Ferdinand é perito em animais perigosos, seu papel agora é orientar sobre os perigos da noite se ali permanecerem.

-Mantendo a iluminação o perigo é bem menor, mas mesmo assim cuidem-se, há escorpiões tutyus, se os picarem podem matá-los, o jacaré Açu também é bastante comum, mas somente se houver afluentes rasgando a floresta, neste local exatamente eu não tenho informação, estamos agora sem coordenadas, o mais perigoso são as jararacas, aqui elas são marrons esverdeadas com riscas, são extremamente hostis, mas lembrem-se as cobras são surdas, então vendo alguma fique imóvel e grite por socorro, e estava me esquecendo do sapo ponta de flecha, ele é amarelado e tem pequenos discos nas patas, vendo algum não se aproxime e de o alarde, não vão querer enfrentá-lo.

Zero: Ficar 28 anos preso e agora morrer sendo alimento de bestas feras noturnas, acho que esse passeio foi um presente de grego. Mas vou ficar feliz de morrer junto de tantos amigos.

Marx: Nem os prisioneiros são seus amigos, vê se fica de boca fechada.

Zero: se alguém for picado por escorpião vou ficar olhando até que vá para o inferno, vou rir até me arrebentar.

Grazo: Se todos se cuidarem ninguém vai bater as cachuletas mais, vamos pensar em sobreviver e ser resgatados, logo chegam os inimigos, ou será que são amigos de um de vocês? Esta é uma questão que logo veremos, mas pensaram errado ao jogar-nos neste inferno. Vivo no sistema prisional há 27 anos, sei bem o que é inferno.

Todos a postos, a noite caindo e a escuridão tomando conta da selva, as luzes do avião tem vida longa então estavam de certa forma tranquilos.

O tempo passa rapidamente e a tensão aumenta, com a escuridão já completa rasgada somente pelas luzes teme por um ataque eminente.

Cinco minutos depois uma série de disparos de longa distância apagam as luzes deixando a negritude tomarem conta de todo o ambiente, pequenas lanternas eram utilizadas, mas sem a abrangência necessária para se defender. Óculos de visão noturna e armas a laser os ajudariam a abater os desgraçados mercenários, mas estavam em desvantagem Grazo sabia disso.

Minuto depois uma série de tiros risca a noite, todos estavam atrás de troncos onde havia outros perigos a temer.

Um grito de desespero seguido de um ataque cardíaco visivelmente tirava a vida de Juarez, na certa um escorpião escondido entre os galhos secos. Grazo sabia que não adiantaria tentar salvá-lo, deixou caído e voltou ao seu lugar.

Alguns instantes depois Zero é atacado por uma cobra enorme que se enrola nele rapidamente, sem poder se defender deixaram-no a mercê do animal que logo o esmagou com a força de seu “abraço”.

O terror toma conta dos presos algemados, mas Marx se nega a soltá-los, era perigoso demais.

Alex o atirador de elite pede ordem para atirar. Minuto depois outros tiros, desta vez com o revide de Alex que provocou a baixa de pelo menos dois adversários.

Mas alguns instantes e outros são ouvidos, novamente a baixa era comemorada por Grazo e Marx. Alex era o melhor atirador que conheciam.

O próximo ataque seria definitivo, jogaram luzes em todo o local e entraram atirando evitando apenas acertar Renato que até agora estava calado, acertaram os outros presos matando-os, Marx levou um tiro de raspão e Grazo um no ombro direito. Alex derrubou outros quatro, não restavam muitos, mas já sabiam quem era o mandante.

Instantes se passaram e toda a mata silenciou após uma sequência de tiros, sobreviveu apenas Renato e dois dos mercenários que comemoravam o resgate sobre os corpos jogados na selva que seriam alimento de animais selvagens até o amanhecer.

Renato: Muito bom camaradas, achei que ia ser mais fácil, mas vamos ao próximo passo, sair daqui.

Já sem algemas despede-se dos amigos de cela silenciados para que ele pudesse ficar livre e vão em direção ao helicóptero que os aguardava.

Subindo em direção à liberdade são abordados por helicópteros das forças armadas e abatidos.

O grito de terror ficou preso ao silêncio da mata.

Sérgio Ricardo de Carvalho
Enviado por Sérgio Ricardo de Carvalho em 07/09/2020
Código do texto: T7056795
Classificação de conteúdo: seguro