Pela terceira vez hoje, o número está aparecendo na tela de seu celular. Pela terceira vez, não vai atender. Porque nunca atende números desconhecidos. Tem medo. Medo de surpresas desagradáveis, daquelas que tiram-lhe o sono. A última que teve, em uma madrugada de não muitos meses atrás, foi uma mensagem com as seguintes palavras: Sei o que faz na calada da noite. Depois daí, não conseguiu mais cair no sono. Quando amanheceu o dia, ligou para o número no modo privado; caiu na caixa postal. Uma hora mais tarde, usou o telefone público que fica a três quadras de onde mora. De novo veio a instrução da operadora: Deixe seu recado após o sinal. Somente após vários dias, sem qualquer mais mensagens de tal espécie, foi que, considerando a possibilidade de engano ou de trote, conseguiu recobrar parte da tranquilidade.
Assim que o aparelho para de vibrar e a tela se apaga, ele acessa o histórico de chamadas. A primeira foi às 11:11. A segunda, às 17:17; e a terceira, agora, às 23:23. Quem está tentando se comunicar quer que ele perceba que são horários propositais. Com isso, sente-se perturbado. O número, os quatro primeiros dígitos indicam que se trata de uma linha fixa, de Vila da Felicidade mesmo.
Antes de fazer o que acaba de decidir, efetuar o bloqueio dessas chamadas, a tela se acende de novo e, de novo, com o mesmo número. Apoquentado ao extremo, ele atende de modo intimidativo.
A voz do outro lado diz calma e articuladamente: — A vida é o presente que muitos não merecem. A morte lhe virá esta noite.
Como se o telefone tivesse passado a queimar feito brasa, ele o lança para longe de si e, em um movimento brusco, levando a cama a ranger aliviada, vai à porta menor do armário. Depois de revirar histericamente o acúmulo de medicamentos na primeira prateleira, finalmente encontra o blíster de Clorpromazina. Esperançoso de estar acometido por inesperado delírio, arranca um comprimido, o segundo do dia, pega o squeezer de cima da mesinha de cabeceira e, em um rápido grugulejo, engole-o.
Mas há algo do qual não tem conhecimento. A água está envenenada.
Assim que o aparelho para de vibrar e a tela se apaga, ele acessa o histórico de chamadas. A primeira foi às 11:11. A segunda, às 17:17; e a terceira, agora, às 23:23. Quem está tentando se comunicar quer que ele perceba que são horários propositais. Com isso, sente-se perturbado. O número, os quatro primeiros dígitos indicam que se trata de uma linha fixa, de Vila da Felicidade mesmo.
Antes de fazer o que acaba de decidir, efetuar o bloqueio dessas chamadas, a tela se acende de novo e, de novo, com o mesmo número. Apoquentado ao extremo, ele atende de modo intimidativo.
A voz do outro lado diz calma e articuladamente: — A vida é o presente que muitos não merecem. A morte lhe virá esta noite.
Como se o telefone tivesse passado a queimar feito brasa, ele o lança para longe de si e, em um movimento brusco, levando a cama a ranger aliviada, vai à porta menor do armário. Depois de revirar histericamente o acúmulo de medicamentos na primeira prateleira, finalmente encontra o blíster de Clorpromazina. Esperançoso de estar acometido por inesperado delírio, arranca um comprimido, o segundo do dia, pega o squeezer de cima da mesinha de cabeceira e, em um rápido grugulejo, engole-o.
Mas há algo do qual não tem conhecimento. A água está envenenada.