O homem dos olhos verdes
Em uma sala completamente branca, praticamente vazia, pouco arejada, ocupada com apenas uma poltrona branca, onde se sentava um homem robusto, loiro de olhos verdes, usava um paletó preto com camisa florida e um cachecol de listra, passava todos os seus dias na segurança do cômodo, preso em seu próprio entendimento.
Havia uma janela, única, que ocupava uma parede inteira, impenetrável, inquebrável, onde durante o dia todo o homem dos olhos verdes poderia assistir a vida. Via tudo o que acontecia mas não conseguia viver estava preso, imóvel, inútil e não poderia fazer nada a respeito, era preso por cordas amarradas na poltrona, mal podia se levantar que caia na poltrona de novo. Sempre olhando para a janela.
Um dia, sem mostrar nenhuma emoção, saiu da cadeira e foi arrebentando todos os fios, eram muito fortes, o prendiam naquele lugar. Correu. Arrebentou. Bateu no vidro, uma, duas, três vezes. Quebrou. Então mesmo todo machucado, ensanguentado e perdido, ficou feliz porque agora pulou a janela e foi viver, viver traria toda a paz que sozinho não pode sentir.
Quando se deparou com o mundo fora dos vidros, se assustou, era tanta dor, mentira, solidão. Um verdadeiro caos. Se sentiu tão despreparado, livre mas perdido e percebeu que com todo vida ali presente, viver não era aquilo e percebeu que talvez, só talvez, viver na jaula com os fios de apoio era de verdade, era tudo que precisava. Precisava ter entendido que a sala era uma proteção contra o mundo e os fios eram coisas boas no fim, evitavam que caísse em si mesmo.
Era tarde demais, os cortes abertos, ossos quebrados, ele se pôs no chão e nunca mais saiu de lá.