O PESADELO

Era 3:00 da madrugada. As janelas estavam entreabertas e um vento congelante atravessava a minha corrente sanguínea avisando-me a chegada de algo.
O quarto tinha uma tonalidade acinzentada, as cortinas eram vermelhas, o que me lembrava sangue, e logo acima da cabeceira da cama uma cruz.

Coberta por um lençol fino, o meu tormento aumentava. O vento não cessaria? O que estava para chegar? As perguntas iam embaçando a mente e a angústia já era palpável.

Foi quando não suportei mais e num pulo fechei as janelas. Por alguns minutos senti um alívio, mas o que não imaginava era que um vulto atrevessaria a minha frente derrubando-me. Estava eu louca?
O trajeto até a minha cama nunca fora tão longo. Rastejei cuidadosamente até ela e num instante senti o vento frio novamente, porém, quando olhei para trás a janela estava como a deixei, fechada.

Abismada, levantei-me e fui até a cozinha beber um copo d'água. No caminho, tive a sensação de estar sendo perseguida, meus olhos arregalados atentavam-se a tudo. O copo d'água descia com sacrifício, a cada gole uma engasgada, o medo me cegara de vez. O vulto que me derrubou, o vento que atormentava, o quarto que mais parecia cenário de terror, tudo isso me fazia acreditar que realmente algo de pior aconteceria. Sentia-me literalmente em um filme de terror. Eu que sofreria com as influências malignas.

De volta para o quarto, deitei novamente na cama, dessa vez, um pouco mais calma, quando de repente ouvi uma voz que vinha do jardim:

- Olá...

Respirei fundo e gritei:

- Quem é? O que quer aqui!

Um silêncio estarrecedor tomou conta do ambiente. Olhava para todos os lados e não via ninguém. O jardim estava completamente deserto. As folhas secas no chão lembravam-me serpentes camufladas, não era um jardim de flores, mas sim de horrores.

Fatigada de tentar descobrir os mistérios que me sondavam, deitei-me novamente. Dessa vez, peguei um cobertor velho que estava no guarda-roupa na tentativa de não sentir mais o vento congelante. Cobri-me e cochilei por alguns minutos, até que ouvi um barulho vindo da cozinha e com sangue nos olhos, já sem medo algum, dedidi encarar o que vinha pela frente. Desci desesperadamente com uma faca na mão, estava disposta a matar se fosse preciso, realmente o medo me cegara.

Chegando ao local avistei algo se mexendo, mas não conseguia enxergar o que era. Fui me aproximando lentamente, a respiração estava ofegante, um mix de medo e coragem ao mesmo tempo. Levantei os braços bruscamente e acertei em cheio o alvo. Um rio de sangue escorria pelas minhas mãos, um estado de choque tomou conta de mim.

Correndo desesperadamente em busca da tomada para acender a luz, fui esbarrando em tudo que havia pela frente. Chegando ao local, acendi a luz, olhei para a cena do crime e vi um gato morto com uma faca atravessada na barriga. Fui eu, naquele momento me tornava uma assassina!
As lágrimas desciam junto ao grito de desespero, tão alto, que acabei acordando Dona Celestina, a vizinha.

- O que ouve menina? Pelo amor de Deus! Escutei um grito vindo daqui, o que ouve?

- Olhe! Olhe! Olhe o que eu fiz!

Celestina olhou o gato morto e bradou:

Meu Deus! Por que fez isso? Não entendo!

Estava tão transtornada que não conseguia me pronunciar.

- Menina, tem dias que você está estranha. Andas muito inquieta, tensa, apreensiva!

Demorei para responder, mas com um engasgo saiu:

- Aquele quarto, toda vez sinto um vento congelante vindo da janela mesmo estando fechada. Um vulto me derrubou. Ouvi um barulho aqui na cozinha e vim correndo saber o que era e acabei fazendo isso no desespero!

- Você estava transtornada, bem...ainda está. Venha, lave essas mãos!

Fui até o banheiro com Dona Celestina. Lavei as mãos, as lágrimas iam descendo no ralo juntamente com o sangue daquele pobre gatinho.

-Vá! Vá embora Dona Celestina, quero ficar sozinha!

- Tens certeza?

- Sim!

Dona celestina não insistiu e foi embora. Nem ela queria ficar naquele ambiente horripilante. Limpei o local do crime e novamemte retornei a cama.

E aqui permaneço,  deitada, RELEMBRANDO esse traumático pesadelo.




- Francielly Fernandes.
- 10/08/2017.
Francielly Fernandes
Enviado por Francielly Fernandes em 03/06/2020
Reeditado em 03/06/2020
Código do texto: T6966153
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