Conto pra ela...?
Sei que ela povoou - e ensopou - os sonhos de uma geração, e até mais além. Como aquém. E não há descrição que justifique o seu poder de sedução. Mesmo sem que desse a menor pelota, pra mim, ou pra toda a patota. Mas os deleitosos e delituosos delírios continuavam. E alucinações abundavam, enquanto perdas líquidas para os ralos escoavam...
Bela, cativante e bem casada da Velha Serrana quantas quebradas não rodava. E ninguém a abordava? Nem para um cumprimento, um gracejo...
Resolvi, comigo mesmo, tomar a pulso a situação. Puro punho era mera frustração. Ao amigo Jean Douze, seresteiro, poeta, e reputado galanteador, confidenciei que, numa manobra aparentemente despretensiosa, conquistara a graça. Dei poucos detalhes, mais insinuativos...Ele fuzilou-me com o olhar do mais cruel ciúme e da admiração ao cume, e visivelmente desconcertado, achou um jeito de mudar de assunto. Nos nossos vinte anos assuntos não faltam, nem se pautam. Malgrado a inconveniência do tema, mantivemo-nos leais e frequentes amigo.
Décadas depois, com um certo vazio na consciência, mais pesado do que o pecado, e já nós ambos às portas da senectude, resolvi desmentir-me.
A incredulidade do parceiro foi ainda maior. Já não admitia desfazimento de sonhos ou pesadelos pretéritos, de um tempo tão abastecido de ilusões.
E se foi o Jean Douze sem que chegássemos ao menos à cor dum acordo. Conto pra ela...?