A MISTERIOSA VILA 31 - REENCONTRO COM ASGARD
Desci da carruagem fui até a cabine, abri a pequena portinhola e libertei o cão, este olhou em direção aos penhascos atentamente como se soubesse ou tivesse avistado algo. Segurei-o pela corrente, mas ele não fez nenhum esforço para se livrar dela, ou se afastar de mim.
Quando o velho cocheiro desapareceu na estrada do desfiladeiro, senti uma desolação brutal, o silencio me dizia algo. O lugar estava da mesma forma, o tempo propositalmente o esqueceu. Me causa arrepios, a brisa fria e penetrante que sopra das entranhas do lugar. De repente, o cão começou a ficar inquieto, a presença de algo foi denunciada pelos olhos atentos da criatura. Procuro em volta, algum movimento, algum som, entretanto vejo surgindo por entre as pedras, uma sombra meio humana, um espectro se aproximando inopinadamente em minha direção, mas o cão não alterou seu comportamento, parecia sentir algo familiar.
A figura era a mesma que já havia visto antes quando ali estive. Montada num cavalo negro de olhos vermelhos, encoberta por uma capa escura que se estendia sobre a anca do animal até quase o chão. Sem rosto, apenas dois globos oculares prateados. O cão não demonstrou nenhum temor, e creio que houve alguma comunicação entre ele e o cavalo. A figura olhou para mim e com voz repulsiva proferiu.
- Me siga, o Capitão Asgard o espera.
Senti um alívio, o chão voltou a tocar meus pés. Imediatamente o segui. O cheiro forte de cravo chegou quase me sufocando. A trilha era mesma, que nos levou ao grande cemitério, vejo as tumbas, os mausoléus com suas figuras enigmáticas e silenciosas, finalmente chegamos ao grande portão de ferro, uma frase esculpida no metal em sua bandeira, me lembrou algo. Creio que esta foi a visão que tive quando cheguei a Kikivo. “Para os que aqui habitam, sendo amigos ou inimigos, de nada adiante dizeres de reconhecimento ou deferência”.
O pesado portão rangeu fortemente as dobradiças enrijecidas pelo tempo. Entrei no grande salão. Não era um sonho, era real já havia vivido aquele momento. Estava em estado de profunda ansiedade, ansiava por encontrar Asgard. Abre-se uma porta, a mesma que antes revelou o maligno, agora revela Asgard. Senti um conforto, germinar do solo do meu coração.
A impecável uma túnica preta, lhe cobria o corpo até o chão. Asgard é um homem bonito, seu rosto, tem traços nórdicos, uma cabeleira prateada farta e lisa, sua altura deve passar de dois metros. Nas ombreiras da capa, um símbolo, duas meia luas bordadas em prata, revelando algum tipo de patente, no peito um brasão da mesma cor mostra um perfil de um rosto oculto pela escuridão, ressaltando dois rubis prateados em forma de olhos.
Creio que seja deferência a um ser superior. Junto a ele dois cães enormes, bem maiores que o que me acompanhava, porém similares em aparência. Asgard se sentou na mesma cadeira que antes foi ocupada pelo maligno. Não via o seu rosto, mas sabia que estava olhando para mim. Reconheci sua voz de imediato.
- Sente-se Aros, fique a vontade - Exclamou ele.
Me sentei em uma poltrona de pedras, em sua frente quase ao centro do salão, a poucos metros dele.
- Solte o cão, ele estará em boa companhia - Exclamou! - Isabelle está bem? está e segura? - Pergunta ele.
Respondo. - Asgard, jamais poderei lhe pagar por este obséquio, serei grato por toda minha vida, farei o que for possível por você meu amigo.
– Mas, e você o faz aqui? Pergunto.
Com a voz pausada e firme, me deixa surpreso e estarrecido, comecei a sentir o aniquilamento supremo fervilhar nas profundezas da incerteza.