O Devorador de Mentes
A noite estava calma e agradável.
A música soava baixinho ao fundo e o clima frio lhe arrepiava a pele vez ou outra.
Apesar do suposto conforto o sono não veio visitá-la. Outra vez.
Já estava se tornando costumeiro, mas optou por tentar ficar quieta e sozinha, aguardando a inconsciência.
Podia ouvir o próprio coração batendo e a respiração pesada.
A mente incansável, agitada.
Trocou de posição algumas vezes.
Em outros tempos o clima a faria relaxar e dormir tranquilamente.
Mas qual a última vez que havia tido uma verdadeira boa noite de sono?
Provavelmente logo antes daquele caos todo se instalar pelo mundo.
Havia aproveitado bem a calmaria antes da tempestade, mas não estava preparada para que tudo se fosse tão cedo e nem para que a tendência fosse piorar.
Mas o escuro estava ali pra lembrar-lhe disso.
Ela podia não enxergar muito bem, mas ainda conseguia ver as sombras que se formavam na parede do quarto.
Observando com cuidado percebeu, aos poucos, uma grande forma se projetando sobre a sua.
Permaneceu imóvel, respiração pausada, olhos cravados nos movimentos lentos.
A tela do celular acesa, emitindo uma imagem muito parecida com aquela.
A presença palpável e ensurdecedora.
Não podia gritar.
O Devorador de Mentes estava ali.
Sugando sua alma, assim como em milhares de outras casas naquela noite.
Naquela semana.
Naquele mês.
Ele se alimentava dos medos, dúvidas e inseguranças, consumindo a mente das vítimas lentamente.
Não seria tudo de uma vez só.
Ele voltaria outra vez. E mais outra. E outra.
Quantas fossem necessárias.
Fora de controle.
Insaciável.
E, talvez, enlouqueceria cada uma delas.