A MISTERIOSA VILA 27 - A FUGA DA FORTALEZA
A travessia até a traineira foi rápida, lançamos o cão à frente para abrir caminho, ele era a nossa unica opção. Esperamos nervosos o animal chegar sem ser molestado, ele nadou rapidamente e assim que chegou a traineira, cravou suas grandes unhas felinas na plataforma da popa, subiu, e calmamente sentou-se em posição de guarda vasculhando com seus olhos cinzas e brilhantes, as redondezas das águas escurecidas permeadas pela sombra da montanha. Aguardamos alguns instantes, e nos lançamos nas águas. Isabelle segurou-se firmemente em meus ombros, nadamos com vigor entre Asgard e Dragon.
A criatura continua atenta vigiando as águas em nossa volta. Creio que algum anjo deva ter nos guiado na travessia, pois não fomos molestados pelos temidos tubarões tigres. Mas, o mal nos persegue e pode nos alcançar a qualquer momento, nossa fuga é traumática.
Iniciamos a navegação imediatamente em direção ao pôr do sol, o oceano estava calmo e sereno, era como se nada houvesse acontecido, talvez fosse o luto pela perda no nosso guerreiro Sorem. As agulhadas no peito, retorciam nossos corações e deixavam um nó na garganta, quase nos impedindo de falar. Asgard tinha comigo uma dívida astral, nós sabíamos disso.
Tentando anestesiar a dor, nos afastamos deixando para trás o grande e bravo Sorem. A noite nos abraçou e o céu escureceu placidamente, o silêncio se fez presente no oceano, apenas o barulho do casco cortando as águas frias do oceano, nos acompanha. Embaixo do deck da traineira, segura e protegida pelo denso casco de madeira, a saleta de comando abriga Isabelle. As horas foram passando e minha ansiedade nervosa crescia. Mas, aquela noite era diferente, como em uma moldura a óleo, a luz pálida da lua espalhava seus raios prateados sobre a água, como lagrimas escorrendo sobre a face tomada pelo pranto. Estranhamente, o oceano demonstrava tranquilidade, mas, alguma coisa inexplicável se esgueira no vazio do meu peito. Na fortaleza tive a visão do maligno, ele sabia da nossa presença.
Navegamos mais da metade da noite, e ao chegarmos nas vizinhanças da ilha do Urso, avistamos o Gaivota, ele flutuava serenamente sobre as águas, fiel e paciente, esperando por nós. Nos aproximamos e atracamos a contra bordo, beijei avidamente seu convés. Asgard tomou uma decisão estratégica.
-Aros você navega até próximo das Ilhas de Faroé, la encontrará os pescadores, então se misture a eles, ficara invisível.
- Leve o cão com você, ele será seus olhos e o guardião de Isabelle.
Quando tentei argumentar sobre minha vontade de ajuda-los, ele foi pragmático.
- Aron, isso não é negociável.
Eu, Isabelle e o cão, embarcamos no Gaivota, Asgard e Dragon, seguiram para a Ilha ao encontro dos outros, e do inferno eminente.
Sem palavras, partir com o sentimento de culpa, algo me dizia que jamais o veria novamente. Sou um homem do mar, fui forjado nas adversidades, mas preciso levar Isabelle a um lugar seguro.
O Gaivota, sentindo em sua alma de barco a nossa aflição, deslizou na noite fria e pálida, com o vigor e a sutileza de um cachalote. Navegamos até chegar aos grandes fiordes, lá estavam eles, os pescadores de bacalhau, as luzes amarelas dos candeeiros a óleo de baleia, dançavam cintilando a noite como vagalumes amarelos, voando sem direção, sobre a superfície do mar. Foi uma ligeira sensação de reencontrar a família. Isabelle agora esta sem aquela sonolência de quando a encontrei, recobrou a lucidez. Eu já sentia um fio de felicidade chegando com os débeis raios do sol.
Minha vida, concerne ser parte de Isabelle, já a tomei em meus braços por longos minutos, e a beijei várias vezes, jurei para mim mesmo, que jamais nos separaremos, estamos perto de chegar a linda Kikivo, e rever nossos amigos, Arthur, Ariel e os outros. Já posso sentir e quase ver materializando-se o nosso lindo chalezinho de pedras coloridas, sua imponente chaminé expelindo a fumaça em direção ao céu, posso sentir no balanco das roseiras pendentes das jardineiras das janelas, a chegada de Isabelle, o cheiro da ravina já nos invade. A moça dos olhos verdes, está de volta.
Mas, meu pensamento me inquire como um algoz, a lembrança do maligno, me faz sentir como um animal selvagem preso a armadilha do caçador.