1136-O SEQUESTRO - Policial/criminal
Ela acordou com o barulho ligeiro, indefinido. Barulho diferente.
Mãe é sempre assim. O sono leve, vigilante, na atenção, até mesmo dormindo, ao bebê que repousa em seu berço.
Sentou-se na cama de casal, calçou os chinelos mal e mal e olhou para o outro lado da cama, onde o marido dormia, quando não estava viajando. Naquela noite, o lugar onde ele se enroscava estava arrumado, sem sinais de uso.
Olhou para o relógio digitalm BA sua cabeceira, que em grandes números verdes indicava: 02:54:22.
Silenciosa mas agilmente, passou pelo quarto e chegou à porta de seu quarto que abria para um pequeno quadrado, onde, do lado oposto, a porta de outro quarto estava escancarada.
Ao mesmo tempo, viu um vulto de homem, de costas para ela, descendo a escada para o primeiro andar.
Era decidida e ágil. Quando solteira fora jogadora de vôlei feminino e considerada a melhor cortadora do time campeão nas Olimpíadas Estaduaiss, e guardava a mesma desenvoltura, rapidez de ação e destemor. Percebeu logo que o homem era um ladrão e que levava qualquer coisa, pois tinha os braços dobrados para frente, onde, por certo estava levando o produto de seu roubo.
Meu nenê! Pensou ela e sem titubear, deu uma pancada na nuca do homem, como se cortasse uma bola do ataque adversário. Ele caiu e abriu os braços, soltando o que segurava.
Imediatamente ela ouviu o choro abafado de bebê. Um embrulho bem feito de fraldas e lençóis impediu que a criança, dentro do pacote, se machucasse ao cair no degrau da escada.
Mesmo abrindo os braços, o ladrão não teve tempo para segurar no corrimão da escada, e caiu, rolando escada abaixo.
Marlene pegou o pequeno enrolado de panos, desfez os nós e abriu para que o bebê, sua filhinha de apenas quatro meses, pudesse respira e chorar. Acalentou a criança e a levou para o berço, que, devido à exiguidade de espaço no quarto do casal, ficava no quarto defronte,com as portas permanecendo abertas à noite, para que Marlene pudesse ouvir o mais leve vagido, até mesmo diferença no ressonar da pequenina Cristina.
Só depois de verificar que a frágil criatura não sofrera nenhum machucado, e acalmada pelo doce acalento do colo, é que a mãe desceu com o nenê aconchegado ao colo, para ver por onde o ladrão escapara.
Com surpresa, que se transformou em horror, verificou que o homem estava deitado no assoalho, no inicio da escada. Estava de bruços e ela não viu o rosto. Da cabeça escorria sangue que, ainda rubro e brilhante, se misturava com o emaranhado de cabelos compridos e pingando sobre o assoalho.
Imóvel.
O bebê ainda resmungava, e ela se preocupou mais com ele do que com o ladrão.
Pensou rápido. Olhou para o relógio entre dois quadros, na parede. Três horas e dois minutos.
O sobradinho onde a tragédia estava acontecendo se situava no centro do quarteirão. De um lado, hávia um templo evangélico, do outro, uma casa comercial de muitas portas.
A quem recorrer? Pensou primeiro em telefonar para a polícia, mas não achou que seria bom ela ser abordada por policiais, com perguntas e mais perguntas.
O irmão, Artur! Sim! Ele morava a três quarteirões de distância, era advogado e saberia como lidar com a situação.
Pegou o celular e digitou o numero do irmão.
Continua – conto 1137 – “Desfazendo os nós”
ANTONIO ROQUE GOBBO
BELO HORIZONTE, 11 DE NOVEWMBRO DE 2019.
Conto # 1136 da série INFINITAS HISTÓRIAS