Luz y sombra

O voo de Miami para Havana num DC-4 da Cubana de Aviación, havia decorrido sem incidentes. Alan Newton desembarcou no aeroporto José Martí no fim da tarde de uma sexta-feira ensolarada, e pegou um táxi para o hotel onde ficaria hospedado. Estranhou que Jack Powell não houvesse ido recebê-lo no aeroporto, como haviam combinado por telefone uma semana antes, mas provavelmente o amigo tivera algum contratempo. Ligaria para ele mais tarde, assim que estivesse instalado.

No hotel, após acomodar-se, chamou a recepção e pediu que telefonassem para a residência de Powell; a solicitação foi retornada poucos minutos depois.

- O número que o senhor forneceu, apenas chama e ninguém atende - informou a telefonista.

- Bem... obrigado. Talvez ele não esteja em casa - respondeu, desapontado.

Newton tinha o endereço de Powell, no bairro de Regla, mas concluiu que talvez fosse melhor deixar para ir lá no dia seguinte pela manhã. E o que ele iria fazer com uma noite livre em Havana? Naturalmente, ir jantar numa das mais afamadas casas noturnas da cidade, o célebre Tropicana! Newton tomou um banho, colocou seu melhor terno e desceu para o saguão do hotel, pedir um táxi. Na recepção, o atendente o recebeu com um sorriso.

- Mr. Newton... há uma señorita esperando pelo senhor no lobby.

- Eu não pedi uma acompanhante - atalhou Newton secamente.

- Nem nós intermediamos este tipo de serviço, senhor - retrucou o atendente, ofendido. - Ela disse que tem um recado para o senhor... do seu amigo Powell.

- Oh... perdão - desculpou-se Newton, virando-se para o imenso lobby do hotel, onde havia várias poltronas para que visitantes pudessem esperar os hóspedes confortavelmente. Viu a señorita sentada sozinha, esbelta, morena, de vestido, luvas, bolsa, sapatos e chapéu brancos. Uma típica garota cubana de classe média, imaginou. Newton caminhou na direção dela, tentando imaginar porque Powell a enviara, e não viera pessoalmente. Bom, logo iria descobrir, ponderou.

- Buenas noches, señorita... - cumprimentou-a Newton, estendendo a mão. A jovem ergueu-se, muito séria, e respondeu ao cumprimento com um aperto firme.

- Eu sou Natalia Arboleda, senhor Newton - respondeu ela, num inglês impecável. - Powell incumbiu-me de vir procurá-lo, caso não pudesse fazê-lo. Infelizmente, foi o que ocorreu.

- Eu compreendo - redarguiu Newton, sentando-se numa poltrona em frente à ela. - Mas o que aconteceu com Powell?

A jovem mordeu os lábios e segurou a bolsa no colo, com as duas mãos.

- Lamento ter que dizer-lhe isso de um modo tão abrupto, senhor Newton, mas... Powell está morto.

- Morto - repetiu Newton, incrédulo. - Mas... como? Nós nos falamos há uma semana... ele estava bem!

- Powell foi assassinado, senhor Newton - prosseguiu Natalia, abaixando a voz. - E eu sugiro que o senhor não tente ir visitar o túmulo ou fazer perguntas à polícia... o mesmo poderá lhe acontecer.

[Continua]

- [04-02-2020]