em briga de marido e mulher (não) se mete a colher

Albert e Amelia não suportavam mais as brigas do casal no apartamento acima, atrapalhavam o seu próprio casamento. As estações e feriados se repetiram já no fim do ano desde que haviam se mudado mas as brigas continuavam e pioravam. Na última Páscoa, a esposa desceu trajada para não ser reconhecida tentando esconder um galo em sua testa da briga na noite anterior do tamanho de um bombom Serenata. Ninguém se intrometia, e Amelia se questionava por que ela própria nunca o fez. É possível ajudar quando a própria vítima não o pede? Seu marido bebia, Albert já se deparara com o mesmo repetidas vezes falhando subir as escadas para o apartamento. Na véspera de Natal, enquanto se preparavam para dormir, Albert e Amelia perderam a chance do sono quando algo bruscamente se quebrou acima. Louças e móveis se estatelando, se mesclando à resmungos agudos indistinguíveis. Um último baque com um urro furioso, e então completo silêncio. Amelia e Albert permaneceram imóveis por minutos aguardando qualquer som, e nada. Por fim adormeceram rendidos ao cansaço da rotina, e acordaram com uma manhã de Natal branca de neve mas acolhedora com o aquecedor do apartamento. Nada se ouvira durante o dia no apartamento acima. Tampouco no dia seguinte, e no último dia do ano a ausência do marido abusivo era questionada pelos moradores. Viajara para a casa dos pais, fora a explicação retraída dada por sua esposa. Albert e Amelia premonitaram a reviravolta insustentável, mas a paz morna que asseava seu apartamento agora era sustentável. A caldeira que mantinha o calor daquele prédio pelos aquecedores naquele final de ano invernal trabalhava diariamente, e a cada dia, pela madrugada, aquela esposa abusada depositava na mesma um reforço com partes decapitadas de seu marido naquela noite escondidas em seu freezer. E naquele último dia do ano, ela depositara por fim suas últimas partes, as mãos que tanto a agrediram. A cuja mulher inspirou e expirou profundamente o inverno dolorido do seu coração enquanto assistia as mãos do falecido se queimarem com estalos do que o mesmo tanto já quebrara nela, e por ora, podia sentir novamente o calor lhe acolhendo.

ilLoham
Enviado por ilLoham em 16/01/2020
Reeditado em 01/11/2023
Código do texto: T6842936
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