138 - Cento e Trinta e Oito
Veio o silêncio e todos acharam que os tiros reapareceriam pouco depois. Sem nenhum comentário todos tinham atento o ouvido e se sono havia nos corpos maltratados, acabou. Gastou-se a noite em vigília geral. Os que se moviam audazes ao som de rajadas, do rebentamento de granadas, do troar dos obuses estavam imóveis , tensos, cuidadosos. Ali não havia chefes. Cada homem decidia como agir sabendo que fazia parte de um grupo e nenhum deu o silêncio como bom. Com o sol a terra mostrou-se seca, a vegetação sem viço, os homens cansados e famintos. – A guerra acabou disseram os que vieram ao seu encontro. E a vida que se enrolara em sujidade e suor, em fome e medo, em raivas e dores, parou no limiar de cada um para fazer valer a ausência de tiros, a liberdade de sair das trincheiras, o banho no rio, o regresso dos sentidos à pele sequiosa de contactos. Quando o alferes esfregou na farda a maçã e a estendeu como prova real de um novo tempo, o soldado chorou.