Viver a vida em si

O dever de criar, o dever de amar

não basta serem pais biológicos

se não tiverem a predisposição de amar

machucará o ser em pleno desenvolvimento

Havia uma praça, desses lugares belos cheios de árvores, onde a natureza parece indicar mais as belas criações do Criador, em cada folha do verde deslumbrante parecer dizer: isso é vida! Em cada flor recheadas naquele jardim continuar dizendo que impossível haver maravilhas iguais.

E essa praça estava ali naquela cidade grande, um bálsamo para cobrir os grandes infortúnios que muitas cidades monumentais brasileiras possuem violências incontroláveis, onde o amor parece que vai distanciando. Naquele imenso verde os humanos conseguem alguma paz. Não só os vegetais permitem isso, os pássaros também.

Um casal estava sentado num dos bancos, senhor Orlando e dona Manuela, os dois na faixa dos trinta e poucos anos, não conseguiram ter filhos, amavam perdidamente as crianças, mas deles mesmo não conseguiam nada, os médicos tiraram todas as suas esperanças, filhos biológicos eles poderiam esquecer.

Dona Manuela, ao ver alguns casais passeando com seus filhos, uma pontinha de inveja exclamava:

-- Há, meu Deus! Parece que só com a gente não temos esse privilégio de ter filhos. Orlando retruca:

-- Não blasfeme, mulher!

-- Eu sei, meu amor, é apenas modo de dizer.

De volta pra casa o casal ouve um barulho num mato, semelhante um miado de gato, ao conferirem constatam ser um recém-nascido, uma linda menina, algumas horas havia nascido. Com certeza, eles completamente emocionados pegam a criança e cuidam, as autoridades depois de muita investigação dão a guarda da criança ao casal e com o tempo tornam-se os dignos pais daquele ser.

Manuela e Orlando fazem um juramento de amar incondicionalmente aquela menina, lhe deram o nome de Manuelita.

Ela crescia feliz naquele lar dos seus sonhos, sua inteligência era acima da média, seus dignos pais conseguiam ama-la de uma maneira tal que a infelicidade seria impossível de atingir aquela criança que um dia foi desprezada pela sua genitora.

Com o passar dos anos, o casal estava consciente de que não deveria esconder nada de Manuelita, ela teria de saber de todo seu passado. Uma revolta incontida começava a apoderar daquela mente em evolução. A mãe diversas vezes era chamada na escola por causa de sua filha, a adolescente rebelde não controlava sua imaginação.

Um dia sua mãe a encontra aos prantos no seu quarto em completo desespero, se abriu com seus desatinos dizia:

--- mãe, não consigo deixar de pensar que fui jogada praticamente no lixo, meus colegas nasceram e foram criados com pais normais e eu?!... dona Manuela exaspera e diz:

--- você? Não vês que seus verdadeiros pais estão aqui sempre ao seu lado? Minha filha, nós te amamos tanto, você só vai entender esta extensão desse sentimento quando tiver filhos, sentirás que na infelicidade dos filhos os verdadeiros pais são os que mais sofrem.

a luta foi árdua, mas o amor verdadeiro sempre vence e os valorosos pais contornam a situação até a mocidade de Manuelita. Na formatura de Direito ela é escolhida para ser oradora de sua turma, tal grau de capacidade que seus colegas viram naquela futura advogada, mesmo sendo jovem demonstrava um alto conhecimento desse viver que muitas vezes torna-se muito difícil.

No auditório completamente lotado ela discursa emocionada, fala sobre o ser humano que já nasce precisando de ajuda, o Criador coloca nas mãos dos defensores que são os pais desse indefeso ser, a missão de amparar, é esse amparo que possibilitará o ser humano viver. Nesse instante ela faz um depoimento de sua vida, é o que ela queria dizer, é o que ela não queria esconder:

--- Meus amigos ouvintes, eu fui abandonada pelos meus pais biológicos, mas quis o meu Deus que os meus verdadeiros pais me criassem, me amparassem e eles estão aqui agora, queria para eles assim:

--- Meu pai, minha mãe, fui um peso estrondoso nos seus ombros, como vocês conseguiram me suportar até aqui?

E sua mãe dona Manuela visivelmente emocionada, mas uma coragem redobrada, se levanta e apenas diz em alto e bom som:

--- Minha filha, nós apenas nunca deixamos de te amar!...

NESSA HISTÓRIA E NOS PERSONAGENS SE HOUVER ALGUMAS SEMELHANÇAS COM CERTEZA SÃO APENAS COINCIDÊNCIAS, MAS OS ABANDONOS EXISTEM A CADA INSTANTE DESSE NOSSO VIVER.

E A VIDA CONTINUA NESSE NOVO ANO QUE NASCEU...