A B U T R E S
Sol escaldante, brisa quente, vindo de um rochedo um filete de água descia por entre pedras, foi o suficiente para saciar a sede de um homem que, de aparência cansada, parou ali para usufruir dessa necessidade prioritária. A água límpida corria lentamente acumulando-se num espaço entre algumas pedras tendo no fundo areia.
Descansa o homem debaixo de uma pequena árvore que mal dar sombra, olha o horizonte, o sol queima a terra e a vegetação que nela existe, espera que amaine a temperatura para continuar viagem. O céu azul não tem nuvens, o vento sopra irradiando calor, os abutres sobrevoam as redondezas em busca de alimento, no momento só carcaças, vêem aquele homem, talvez queiram espreitá-lo para saborearem a sua carne fresca.
Quase duas horas se passaram, o homem tinha uma certa pressa de empreender partida, seu destino estava longe e a noite seria muito perigosa, necessitava seguir antes que ela chegasse, temia só os abutres famintos. Antes de partir mais alguns goles d'água e encher o cantil. Fez uma concha com as mãos e levou à boca, deliciou-se, bebeu bastante. Antes de sair dali notou que o filete d'água ficava avermelhado, ficou curioso, seguiu o caminho de origem e percebeu um cadáver lá no alto da rocha, seu sangue juntou-se a água clara que fluía de uma brecha do paredão e deixou-a vermelha, não mais poderia beber dela se precisasse. Os abutres devoravam um viajante como ele que não teve sorte. Ficou temeroso, mas tinha que ir em frente, a noite os animais noturnos não o deixariam passar imune, o ataque era evidente, por isso a necessidade de ir embora o quanto antes.
De posse de um galho grosso se viu armado para um caso de ataque dos abutres, com sorte sobreviveria. As aves negras e grandes o observava, estavam decididas a um novo ataque, eram muitas e precisavam de alimento e aquele era ideal. Andou alguns metros, tinha pouca opção de esconderijo, as aves o seguiam, do alto o intimidavam, emitiam sons assustadores, mas o destemido viajante não enfraqueceu, tinha a coragem de um leão. Um dos abutres deu uma rasante e quase arrancou seu chapéu, em outra tentativa a ave levou uma cacetada e caiu ao chão, mas conseguiu alçar vôo. Outros abutres investiram, tentaram bicá-lo, o homem porém se defendia dos ataques, não podia vacilar para não se tornar o almoço deles.
Já cansado e não tendo onde se proteger o homem caiu após um ataque de vários abutres, ferido viu as forças irem embora. O sol queimava seu rosto, estava quase entregando os pontos quando viu um lobo aproximar-se, foi a sua salvação, as famintas aves negras partiram para cima do animal. Respirou fundo o homem, se refez fisicamente e correu alguns passos enfiando-se numa brecha da rocha. Alguns minutos ali foi o suficiente para restabelecer suas forças e enquanto o pobre animal era devorado partiu sorrateiramente por entre as pedras e desapareceu num matagal que existia ali. Apressou os passos mesmo cansado para não deixar a noite pegá-lo de surpresa, pois sabia que não chegaria com vida ao seu destino final.