o único em seu caminho é si próprio
*{narrativa inspirada no filme “Black Swan”—2010.
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Eu sempre soube que havia algo pelas beiradas a observar que deveria temer. Um conhecido estranho. Ou um desconhecido íntimo. Aquilo que lhe sonda cogitando um ataque tende a ser imperceptível não importando o quanto se zele. No meu caso, isso formava-se distanciadamente uniforme à minha imagem e pelas sombras, à minha própria sombra ou o meu reflexo. Dualisticamente. Isso agravou-se com o senso de percebê-lo escorado ao vagão à frente do meu enquanto voltava para casa de metrô. Semanas atrás, eu deparei-me com isso ao cruzar uma ruela escura com outro rapaz em minha direção, e estremeci-me paralisadamente ao avistar em seu rosto os meus próprios traços. Ou, como dias atrás enquanto eu ensaiava para o meu próximo papel no teatro do qual faço parte diante de um largo espelho e o meu reflexo cessou os seus movimentos, a me fitar, paralisando-me, e amedrontado encolhi-me. “A arte imita a vida”, isso soa-me como uma premonição, pois estou a me preparar para interpretar um papel gêmeo de doppelgängers. “Black Swan distorce-se da fantasia e se torna uma psicose realística,” fora o que o meu diretor anunciou aos patrocinadores ao introduzir-me com a nova peça. Ele aconselhou-me de que estou a me demandar além das minhas próprias expectativas inseguras. Meu psiquiatra aumentou a minha dosagem medicamentosa. Nenhuma dessas balanças cessou a aproximação disso. Ontem à noite, enquanto penteava a meu cabelo, finalmente avistei paralisadamente a isso cara-a-cara a fitar-me com orbes vis sorridentes, isso havia por fim invadido ao meu espaço mais íntimo e à minha própria frente ao espelho e, abruptamente, senti-me zonzo, decaindo-me à inconsciência. Há pouco, acordei-me espreguiçadamente confortável em minha cama. Sinto-me devidamente no lugar. Enquanto penteio ao meu cabelo, avisto a mim chorosamente mudo refletido ao outro lado do espelho debatendo-se com os punhos trepidantes contra a psicose que nos parte e também nunca nos separou. Hoje, eu sou alguém diferente, preparado para a dualidade vil desta peça com as cortinas de uma nova manhã abertas. Este é o meu dia. Hoje, é a minha vez de brilhar.