A rua interditada

Semana passada fui chamado para ir a um evento na rua Veracruz. O nome não era familiar, pedi referência e me deram que era próximo de uma rua interditada. Chegado o dia do evento inseri o nome da rua no aplicativo de localização e segui caminho. Chegando ao destino deparei do meu lado direito com uma rua repleta de cavaletes fixos no chão impedindo o acesso e do lado esquerdo a casa em que ocorreria o evento.

Durante o tempo que passei naquele local fiquei especulando a razão da tal rua interditada. Fazendo uma busca no mapa tal rua não tinha nome e parecia ser sem saída. Ao fim do evento fui até os cavaletes, olhei todos os lados, não tinha ninguém e pulei. Estando do outro lado senti uma sensação de aventura.

Retomei minha andança olhando para todos os lados e nada havia, nenhuma casa nem estabelecimento. Depois de alguns metros a rua de fato terminou sem nenhuma saída para qualquer canto. Voltei frustrado por não ter entendido o porquê de estar interditada e por não haver nada rua que justificasse sua existência. Depois de cruzar o cavalete encontrei um conhecido que estava no evento, perguntei se ele sabia da rua interditada. Simplesmente respondeu que está assim há um tempo, mas não sabe o motivo da interdição.

Dirigi de volta para casa ainda especulando sobre a tal rua e ao mesmo tempo tentando manter a atenção. Seria acesso para uma dimensão paralela? Haja imaginação! Seria uma rua que havia casas cujo terreno fora invadido? Seria um erro do urbanista que projetou o bairro? Muitas perguntas e nenhuma resposta plausível.

No dia seguinte no horário de almoço fui até o Departamento de Trânsito tentar achar alguma resposta sobre a rua. Depois de muita insistência consegui acesso com um responsável pelo departamento. Dei o nome da rua e ele desconhecia. Também não constava no arquivo de interdições. Cheguei a chamá-lo para ir comigo no carro e levar até a fatídica rua. Para minha surpresa ele aceitou. Fomos até a rua Veracruz de onde dava acesso a tal rua interditada. Chegando ao endereço o homem afirmou não conhecer aquele lugar, estranhamente não conseguiu dar explicações para mim. Saímos do carro, pulamos os cavaletes e andamos até o fim da rua. É tudo muito estranho uma rua interditada sem motivo aparente. O homem que me acompanhava sugeriu se nos cavaletes poderia ter alguma inscrição. Voltei com muita rapidez, deixando ele para trás e ao chegar lá olhei cada cavalete e no último havia algum nome apagado. O homem me ajudou, conseguiu enxergar Cidade de Alerrus. Que cidade é essa? Enquanto conversávamos sentimos a presença de uma terceira pessoa...

Onde estou? Que lugar é esse? Alguém de branco me disse que estava no hospital. Uma ambulância que passava pela rua viu um homem caído no chão e trouxe para a emergência. Definitivamente não lembrava o que tinha ocorrido. Pedi para chamar o motorista da ambulância. Horas depois ele apareceu e disse que tinha me socorrido na rua Veracruz, próximo da rua interditada. Interditada por quê? Perguntei porque já tinha esquecido tudo que ocorrera. Voltei a minha rotina normal.

Dias depois fui convidado para um evento na rua Levi das Nuvens, o nome era desconhecido, quem seria Levi das Nuvens?. Coloquei no aplicativo e segui caminho, mas num dado momento surgiu congestionamento e por conta própria tentei outra rota. Perdi-me pelo bairro, andando de rua em rua. O aplicativo também se perdeu e não conseguiu recalcular a rota. Por fim parei numa rua deserta, sem nada dos lados. Continuando o caminho fui parar numa estrada de terra, depois voltou a ficar asfaltada. A rua terminou com vários cavaletes impedindo minha passagem. Senti uma sensação de déjá vu. Olhei uma placa que parecia ser da rua e estava escrito: Rua interditada. O aplicativo sequer me localizou. Desci do carro, fui até os cavaletes e do outro lado estava a rua Levi das Nuvens e a casa onde ocorreria o evento. Deixei o carro lá e fui para a casa. Após umas três horas o evento terminou, voltei e meu carro já não estava mais lá. Não havia sinal de que os cavaletes tinham sido removidos, estavam exatamente no mesmo lugar. Voltei para a casa onde ocorrera o evento, mas todos tinham ido embora, inclusive o dono. Isto não parece real. Sentado no chão, cabeça para baixo, até que ouvi uma voz me perguntando: “Quer vir comigo?” Eu me levantei e o segui pela rua. Qual seu nome? Levi das Nuvens, ele respondeu. Você tem o nome daquela rua! Tenho mesmo, mas antes se chamava Veracruz. Foi ideia de um vereador querer me homenagear, disse Levi. Quando ouvi Veracruz toda minha lembrança veio à tona. Por que esta rua foi interditada? Não adianta responder, você nunca entenderia. Agora vamos, tenho algo para te mostrar...

26/11/19

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 26/11/2019
Reeditado em 26/11/2019
Código do texto: T6804237
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