O último ato
Não se falava noutra coisa na cidade. A mídia a todo instante avisava que seria uma única apresentação daquela companhia estrangeira.
Durante seis meses, Moacyr, juntou dinheiro para comprar o ingresso e assistir a peça.
Dia e hora marcados lá estava ele, foi o primeiro a chegar no saguão do teatro, aguardando para se acomodar. Tinha comprado o camarote mais próximo do palco e ter uma visão privilegiada. Pagou uma fortuna, mas estava feliz. Um pouco nervoso e preocupado com sua barriga, mas feliz.
Começou a peça. Atores em cena. Figurino deslumbrante. Via tudo sem perder um único detalhe. Acústica excelente parecia até que os atores falavam para ele, tal a clareza.
Moacyr estava fascinado com tudo a sua volta, era a primeira vez que ia a um teatro, e esse, era o Municipal do Rio de Janeiro. De um pouco nervoso, passou a muito nervoso. Soltou um peidinho! Achou que tinha se sujado. Passou a mão na bunda por fora da calça, mas não conseguiu confirmar sua suspeita.
Primeiro intervalo. Deixou o camarote e dirigiu-se rapidamente ao banheiro, pois precisava ver se tinha se sujado e porque também já não aguentava mais, tanta dor na barriga. Passou o intervalo inteiro no vaso sanitário. Quando saiu, pode ouvir o anúncio do segundo ato. Correu e se acomodou. A dor de barriga continuava. Moacyr já desesperado, em pé e com calafrios rezava para aguentar até o próximo intervalo. Conseguiu.
Segundo e último intervalo. Saiu correndo em direção ao banheiro. Lá se deparou com todos os reservados ocupados. Esperou saltitando pé em pé e suando frio de tanta dor e vontade de cagar. Quando o último ato foi anunciado, ele acabava de sentar-se ao vaso. Cortou pela metade o que estava fazendo, se ajeitou e voltou correndo. Afinal aquela companhia não iria se apresentar novamente na cidade e ele não podia de jeito algum perder aquele ato. Na pressa, ao entrar no camarote escorregou e caiu. Na queda, bateu a cabeça e desmaiou. Ato contínuo cagou-se todo, ainda desmaiado. O cheiro de merda impregnava todo o ambiente. Os olhares se voltaram para seu camarote, mas não viam nada, pois, ele desmaiado continuava caído ao solo.
Terminou a peça.
Moacyr acordou com os funcionários do teatro levando-o para tomar banho. Descobriu duas coisas; estava todo cagado e não assistiu o último ato da peça.