Vozes Sinistras – O Começo
Em uma silenciosa noite na cidade de Rottweel, conhecida por seu alto índice de sequestros, um homem que acabara de voltar do trabalho ouve vozes iminentes vindo de um bueiro. Naquela noite, ao escutar a estranha voz vinda de um bueiro em uma rua deserta, tenta se distanciar, caminhando de volta para casa. Porém, quanto mais se distanciava do bueiro, mais alto ouvia as vozes.
Ao avistar uma sem-teto na rua, ele perguntou à mesma se também não escutava a voz sinistra.
— Devem ter sido apenas os ruídos dos ratos, à noite eles fazem a festa. – disse a sem-teto rindo sarcasticamente.
— Me desculpe senhora, mas tenho quase certeza de que não são ratos! – disse o homem preocupado.
O homem decide então voltar ao bueiro e checar o que era, ao aproximar-se do bueiro fedorento, o homem não enxerga nada. Talvez porque a única fonte de luz fosse um poste velho de madeira, cuja luz não era forte o suficiente para iluminar o bueiro além de sua superfície escura.
— Jammes, socorro... – sussurrava a voz vinda do bueiro. Os sussurros eram captados apenas pelos ouvidos do homem, que se perguntava o que estaria acontecendo. A voz era similar a de sua esposa, que supostamente estaria preparando o jantar, esperando a volta do marido naquela noite. O homem se aproximou um pouco mais do bueiro com a lanterna do celular, a procura da suposta voz, mas não obteve sucesso.
— Apareça! Onde você está? – gritou o homem, segurando a lanterna e deitado de frente para o bueiro.
Repentinamente, o celular do homem descarrega e consequentemente sua lanterna apaga. Deixando o mesmo em uma escuridão aterrorizante, o homem logo sente uma apalpada em suas pernas que simulam puxá-lo em direção oposta do bueiro. Onde havia um matagal.
— Socorro! Alguém me ajude!... – implorou o mesmo segurando com todas as forças as grades do bueiro para não ser puxado pela estranha força para o matagal.
A sem-teto não podia enxergar o que estava puxando o sujeito, mas via o mesmo sendo puxado em direção ao matagal atrás de uma praça local. Sem saber o que estava acontecendo, minuciosamente agarrou os pés dele que pareciam estar no ar, e os puxou para o sentido oposto ao matagal.
— Obrigado... Obrigado... – abraçou a sem-teto com lágrimas de pavor.
Após aquilo, a voz estranha simplesmente sumiu e o homem retornou para casa. Ao chegar à sua casa, sua mulher pede explicações do marido sobre o tal ocorrido, mas o homem se recusa a contar, com medo de aterrorizá-la. — Amanhã, quero que você me conte tudo! Tintim por tintim. – disse a esposa após servir a janta ao seu marido e complementando com um beijo.
O homem tinha o costume de jantar em sua sala de estar. Porém naquela noite o homem sentou-se à mesa para com a sua esposa poder jantar.
— Jammes, hoje não era o seu dia de pagamento? – a esposa perguntou calmamente.
O homem com medo de tocar no assunto do caso ocorrido próximo ao matagal lembrou que perdeu todo o seu dinheiro e tentou disfarçar:
— Sim, amor. Mas é que ocorreram alguns imprevistos e só receberei no final do próximo mês.
— Mas Jammes, você trabalha pesado todos os dias, nas minas de carvão do Sr.
Walls. Vejo todos os dias, você acordando às quatro da manhã para chegar cedo ao trabalho, me liga durante seus intervalos só para saber se eu estou bem. Você se mata de trabalhar duro, sendo desvalorizado pelos seus colegas de trabalho.
Como que você espera que eu aceite esse abuso? Você vai receber esse salário! Nem que eu vá amanhã até o seu chefe e faça uma reclamação. – disse a esposa indignada.
— Jammes, esse é o nosso sustendo meu amor... – disse sua esposa desgastando-se em lágrimas.
— E você acha que eu não sei Karol?! – alterou-se o homem.
Ambos lembraram-se da perda da pequena Annie, cujos pais a amavam mais que tudo.
Annie, era a filha única do casal. E que aos três anos de idade, falecera durante um massacre na escola em que frequentava. Os assassinos nunca foram pegos desde aquela época.
A pobre menina tinha lindos olhos azuis-claros como os de seu pai, cabelos perfeitamente cacheados e macios como os de sua mãe. Além de um pequeno sinal na lateral inferior de sua boca que a caracterizava juntamente com suas covinhas e sua fofura natural de uma criança inocente, que um dia experimentou o gosto da vida, mesmo que não tenha durado tanto tempo. Aos dois anos, queria ser médica veterinária, sempre amou os animais. Preferencialmente ‘cachorros de madame’. Quando completou três aninhos, três meses antes de sua morte, os pais a levaram para um passeio na cidade de Toron, que se localizava perto de Rottweel, lá ela visitou junto aos pais uma casa com objetos sobrenaturais. Sua mãe sempre foi fascinada por estas coisas, porém seu pai evitava aquilo ao máximo.
Em 20 de abril de 2002, um grupo de adolescentes invadiu uma escola onde e atearam fogo e metralharam a instituição onde havia tanto crianças do jardim de infância quanto adolescentes do ensino médio. A pequena Annie e sua amiguinha de dois anos, Jasmine estavam brincando nos balanços do playground da escola quando de repente uma cruel e dolorosa bala, penetrou em seu corpo singelo de uma criança angelical atingindo seu crânio e sua barriguinha. Jasmine teve o mesmo fim.
Após a recordação do terrível massacre na escola de Comneh, a esposa do homem, entra em aflição. O marido tentou acalmá-la.
— Calma amor, pode ir dormir que eu cuidarei da louça... – disse o homem.
— Tá... Tá bom – respondeu com fadiga a esposa.
Ao lavar a louça o homem escutou um barulho estranho, vindo do ralo da pia. Ao se aproximar, jorrou-se uma mistura de restos entupidos da pia com sabão e outras coisas mais no rosto do homem. Após isso, o mesmo escutou vozes da
pia.
— Jammes, socorro... – sussurrava a voz da pia repetidamente.
O homem, já estava indo à loucura naquela noite infernal.
— Me deixa em paz! O que você quer de mim? – ele perguntou aos suspiros.
— Jammes, socorro... – continuava a sussurrar a voz, num tom mais obscuro. O homem pegou um tampão e o pôs no ralo da pia. A voz ainda continuava na mente dele atormentando-o.
— O que você quer voz dos infernos?! – perguntou novamente o homem em estado de insanidade.
Num instante a voz se calou e causou arrepios no homem que desejava a morte mais rápida e breve possível para acalmar seu estado de choque, porém não era ele quem viria a morrer naquela noite fria e tenebrosa.
— A alma dela... Sussurrou a voz nos ouvidos do homem.
Em estado de total aflição e desespero, o homem abre a porta do quarto onde sua mulher estava a dormir. E num grito de desespero ouvido segundos antes de entrar em seu quarto, avistou sua esposa de bruços em cima da cama em um silêncio que causava incômodo. Parecia um anjo delicado com o corpo sereno deitado sobre os lençóis avermelhados que mais pareciam sangue inocente. E de fato eram! Após a morte da esposa, o homem entrou em estado de aflição extrema.
No dia seguinte, mudou-se para uma cidade no sul do continente americano, vivendo uma vida “normal” visitando regularmente uma clínica psiquiatra. Jammes, já não era mais o mesmo e tampouco curtia sua nova vida. Tentou suicídio inúmeras vezes até que cinco anos depois, ele internou-se.
Jammes faleceu de uma forma inexplicável segundo as autoridades locais. De acordo com Sarah, uma das pacientes internadas no local, o homem gritava todas às noites, anunciando que estaria sendo perseguido por vozes estranhas de sua mente. A policial Scarlet, que está investigando o caso, afirmou ao jornal local que vários casos similares a este, já haviam sido registrados desde o início das construções de novos bueiros em Rottweel. Dentre várias convocações e debates com o prefeito da cidade, o mesmo se absteve, tornando-se um dos principais suspeitos envolvidos nos estranhos acontecimentos locais. De acordo com o presidente da Associação de Moradores de Rottweel (AMR), Richard Vallum, várias famílias perderam entes queridos desde o início da construção da nova estação de esgoto da cidade.
“Desde que finalizaram a obra, as ‘vozes dos bueiros’ assombram as vidas de pecadores, ceifando as almas de seus companheiros” – Conspiram alguns moradores de Rottweel.