A ultima ligação.

Eu podia o barulho de sirenes lá fora vindo ao longe, sabia que vinham na minha direção e alguma coisa dentro de mim me dizia que vinham para mim e que tinha motivos para isso, mas, eu não conseguia me lembrar o real motivo para isso. Me vi no chão, com a visão ainda embaçada e com a visão turva, olho em volta e vejo uma garrafa vazia, de um pretenso uísque barato e acredito que isso já explique a minha falta de memória.

Na verdade, eu nem mesmo reconheço o ambiente em que estou, mas a julgar o a mobília e o cheiro forte impregnado de cigarro, eu estou num quarto barato de um motel barato e ou eu estou fugindo de alguém, ou eu estou aqui com alguém, mas não lembro e nem percebo a presença de ninguém, me apoio na cama box que está molhada, concluo que seja suor, afinal de contas por estar num quarto de motel, talvez eu tenha suado bastante.

As sirenes se aproximam mais, sem olhar em volta eu me dirijo a porta do quarto que dá para uma garagem, deve ser umas nove da manhã, eu olho através das grades da garagem e o movimento parece o mesmo um carro dos mais recentes sai de uma das suítes mais caras, enquanto isso um carro mais simples entrar na suíte em frente a minha, tudo parece estranhamente normal, volto para o quarto para vestir as minhas roupas, minha vista já está melhor e a cabeça também, mas a memoria ainda está sob uma névoa escura.

As sirenes estão cada vez mais próximas... Ao entrar novamente no quarto, eu sou surpreendido ao olhar para a cama e ao reparar que o molhado que antes eu acreditava ser suor, na verdade se trata de sangue mal limpo, limpo as pressas, meio sem habilidade para isso; me apresso para procurar as minhas roupas e de certa forma, eu torcia para que minhas roupas não estivessem cheias de sangue e de repente, as sirenes começaram a fazer sentido... Começo a vasculhar pelo quarto e lamento pelo meu péssimo costume de atirar as roupas pelo quarto todo antes de fazer sexo, me arrependo disso nesse momento.

Numa fresta da cama eu encontro a minha cueca e que por sorte e ao mesmo tempo indiferente ela não está suja de sangue, mas, quem iria parar para ver a minha cueca no meio da rua?

Minhas calças estão penduradas no gancho da parede, acho por bem conferir os bolsos, celular, carteira, chaves de casa, confiro a minha carteira, o dinheiro, meus documentos. Meus cartões e até mesmo umas duas camisinhas, visto as calças e fecho o cinto, agora preciso achar a minha camisa; enquanto eu procuro a minha camisa, eu acho uma calcinha toda enrolada num cantinho escuro. Deveria haver alguém aqui comigo. Mas, não vejo ninguém e há sangue na cama, as sirenes começam a entrar no estabelecimento...

Depois de uma procura vacilante, encontro a minha camisa em cima da porta do banheiro, não sei por que cargas d´água a minha camisa está ali, mas, eu praticamente salto por cima da cama para poder apanhar a minha camisa; assim que a puxo, olho para a banheira de hidromassagem... Fico imerso em uma “pseudo” realidade entorpecida... Havia uma mulher deitada na banheira sem água, e pescoço dela estava roxo, ela claramente havia sido enforcada; no exato momento em que a vejo, eu sinto a minha cabeça doer, eu resolvo me olhar no espelho do banheiro, o sangue seco desenhava uma trilha entre a minha sobrancelha e o meu queixo, o uísque deve ter tirado o gosto ferroso da minha boca e com certeza esse deve ser o sangue que vi na cama.

Eu escuto os carros de polícia freando em frente ao meu quarto, é mais do que um, julgo ser desnecessário, já que estou sozinho, tenho um pensamento que me faz olhar as ligações do meu celular, a ultima foi para o 190... Enfim, tudo se reconstruiu em minha memória, eu liguei para a polícia, para denunciar a mim mesmo e novamente ao olhar para a moça na banheira, lembro que ela não é a primeira, mas, liguei para a polícia na intenção de fazer dela a última. Deixo o dinheiro do pernoite em cima do móvel ao lado da cama e ando em direção a garagem, assim que levanto a porta da garagem, os policiais apontam armas para mim, mostro que estou desarmado e me deito no chão. Sou colocado no banco de trás da viatura e me levam embora, ao sair do motel, grito para que, estiver na cabine da recepção que o dinheiro está no quarto.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 26/09/2019
Reeditado em 07/09/2020
Código do texto: T6754543
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