Ecos da Noite - Memórias da Terra

(Os Pensamentos de Laura)

As lembranças me trazem o desejo de querer vivê-las novamente.

Pois todas as boas experiências que eu tive ficaram apenas em minha mente.

E neste lugar onde eu me encontro não existe mais esperança, apenas o medo e a solidão estão presentes, combinando de forma melancólica com as tristes memórias desse terrível ambiente, causado por um desejo, resultando em um acidente.

Quando menina o meu sonho era me tornar uma astronauta.

Desejo pouco comum, mas que por toda a minha infância foi uma paixão que me alimentava.

Encantava o meu olhar em muitas madrugadas, em dia de lua cheia lá estava eu com a luneta que eu havia ganhado de presente, feliz eu a observava, ficava encantada.

Eu tinha um carinho especial pela lua, não apenas pela sua beleza, mas por todos os seus mistérios e segredos.

Principalmente em época de lua de sangue, quando ela se veste com o seu lindo vestido vermelho.

Me formei como cientista, trabalhei por muito tempo com desenvolvimento e pesquisa.

E acompanhei o processo de criação dessa base lunar, um projeto ambicioso financiado por uma jovem chamada Marietty, para extração de mineral, eu fui uma das que foram chamadas para vir até aqui trabalhar.

A base recebeu o nome de Diana, nome inspirado pela Deusa da Lua na mitologia romana.

Marietty sempre foi uma pessoa misteriosa, raramente aparecia em público.

Vivia afastada em uma mansão herdada por seus pais, isolada em seu próprio mundo.

Pouco se sabia sobre ela, havia boatos que Marietty era envolvida com alquimia.

Mas era tudo especulação, por causa de seu isolamento muitas lendas em torno dela surgiam.

Durante as extrações de minério eu encontrei um artefato de pedra com inscrições desconhecidas, tinha um brilho natural, era muito linda.

Fiquei intrigada com aquele achado, uma oportunidade a mim foi oferecida, um poder que eu jamais pensava que existiria, agi de forma egoísta, estou arrependida.

Foi a partir disso tudo que o desastre se iniciou, e foi a razão de tantas vidas serem perdidas.

(O Início da Dor)

Sofia sai correndo pelos corredores da estação chamando por sua mãe.

Assustadas, as pessoas correm desesperadas, uma fumaça sufocante se espalha por toda a área, a estação se torna inabitada.

Vozes de agonia se espalham por cada canto da estação, medo e desespero tomam conta de cada coração, atormentados, todos enlouquecem sem solução.

Sofia não consegue encontrar a sua mãe, os trabalhadores da mineração caem mortos em razão da fumaça, é uma misteriosa névoa clara, o único som que se ouve na estação lunar são os gritos das pessoas desesperadas.

Essa névoa vai matando todos que estão pelo caminho, o inferno se estabelece em cada dor, medo e grito aflito.

A garota se esconde em seu quarto, a energia na estação acaba.

A escuridão predomina e a pobre menina se gela desesperada.

Ela ouve uma voz pedindo ajuda, e tem a sensação de que está vindo em sua direção.

Seu coração dispara e sente um frio que a deixa sem reação.

Ela escuta alguém chorando, lágrimas de uma criança em desespero.

Seu coração acelera, a solidão da escuridão vai lhe enchendo de tormento.

Sofia chora cheia de pavor, e ao mesmo tempo a sua mãe também está á sua procura.

É uma luta pela sobrevivência, e entre a confusão alguém carrega o peso de uma grande culpa, e percebe o desastre que causou por em razão de sua loucura.

Laura realizou um desejo que não deveria ter sido pedido.

Nesse artefato encontrado por ela existe um segredo que trás uma consequência irreversível, só deixando a dor pelo caminho.

Causando a morte de todos, são vitimas do egoísmo de Laura, desejando trazer de volta a vida de uma pessoa que ela amava.

Seu marido havia morrido a seis meses, ela criou um pequeno santuário dentro da base.

Colocou a sua foto sobre ele para matar a saudade.

Uma imensa tristeza que por ela ainda não foi superada.

Desde a sua morte ela ficou traumatizada e cheia de mágoas.

Sentada várias vezes ao lado do santuário vivendo do passado.

Pensando em sua vida na terra e como estava feliz vivendo em sua companhia, mas agora está tudo acabado.

Uma descrição desconhecida, em Laura uma visão foi transmitida, uma sensação de que um desejo por ela poderia trazê-lo de volta a vida, uma pedra que por gerações ficou escondida, permaneceu adormecida até ser encontrada.

Seu poder revive novamente, era uma oportunidade que ela não desperdiçaria.

Todos estranhavam e perguntavam a razão do cuidado que ela estava tendo com esse estranho artefato, veio a possibilidade de algo impensável.

Mas que traria uma consequência dolorosa para todos que estivessem do seu lado.

Um desejo possível que ela tanto sonhava realizar, era uma tentação muito grande para evitar, não pensou duas vezes para pedir que o seu marido ressuscitasse, para poder estar de novo ao seu lado.

Laura foi egoísta, não pensou no sofrimento que isso causaria, e agora carrega um fardo pesado por fazer tantas pessoas sofrerem, está tudo acabado.

Sofia está fraca, ela cai em seu quarto e não tem mais forças para gritar.

Não conseguiu encontrar a sua mãe, partiu sem ter o abraço materno que ela tanto buscava para lhe confortar.

O sofrimento toma conta do lugar, não existe a possibilidade de escapar.

Laura sente um aperto no peito, já pressentindo o inferno que ela não pôde evitar.

(A Pequena Astronauta Sofia)

- A lua está fascinante hoje né mãe, tão cheia e charmosa, realmente maravilhosa. Posso ir com você mãe, em seu trabalho de mineração na estação lunar? Prometo que irei me comportar, não irei conseguir ficar longe de você, promete me levar?

- Claro filha, não se preocupe, eu também não conseguiria ficar longe de você. O seu pai já está lá nos esperando, ele vai ficar feliz em te ver. Eu sei que o seu grande desejo sempre foi de ver a terra do espaço. Dentro de poucos dias o seu sonho será realizado.

- Esperei tanto por esse momento, essa viagem ficará para sempre em

minha memória. Vai ser extraordinário ver tudo ao vivo, pois já cansei de ficar apenas observando as fotos pelos livros da escola. Estou feliz por estar ao seu lado mãe, irei preparando as minhas coisas, não irei levar muito, apenas o que me faça lembrar daqui. Os meus livrinhos de histórias, o rádio, e o CD com as músicas que o meu pai gravou pra mim.

Os pensamentos de Laura são interrompidos ao entrar no quarto e ver

sua filha caída sem vida.

Através do vidro da janela é possível se ver a terra, seu choro é inevitável, ela se sente arrependida, a sua atitude colocou toda a estação em um pesadelo sem saída, em um eterno adeus sem despedida.

Não restou mais ninguém em toda base, apenas as almas agonizando de ódio e infelicidade.

Um clima pesado se estabeleceu em toda estação lunar, o pesadelo apenas acabou de começar.

Corpos por todos os corredores, e ouço o choro de desespero por todo lugar.

Vozes de mães chamando por seus filhos, ou gritando sem esperança por

seus maridos.

Uma pedra antiga e uma ambição incontrolada, consequência terrível e cheia de egoísmo de alguém que te amava.

(O Belo Azul da Terra)

Estou cada vez mais fraca, um silêncio perturbador domina todos os cantos dessa base.

Não se ouve mais ninguém, apenas a ambientação melancólica e o ar de

infelicidade.

Olhei em minha volta e não vi um sinal de esperança.

A vida mostra o seu valor, mas neste momento ela não mais me encanta.

Estou assustada, estou tremendo, me sinto sozinha.

O silêncio me atormenta e a solidão predomina.

Do lugar onde estou eu observo a terra, e só agora eu percebo que ela

possui tanta beleza.

Sinto saudade de você querido, foi difícil para a nossa filha aceitar a sua partida.

Para mim foi uma incontrolável tristeza que a cada dia consumia a minha vida.

Não aceitei a sua morte, queria te trazer a vida de alguma forma.

De princípio foi difícil de acreditar que uma pedra poderia te trazer de volta.

Mas eu estava disposta a tudo para ter você comigo novamente.

Talvez seja um desejo coerente, mesmo trazendo o desespero para

muita gente.

Mas mesmo com o meu pedido feito eu não consegui te ver, o que eu fiz de errado?

Porque você não voltou para mim?

Apenas as vidas foram perdidas, agora estou aqui sofrendo por essa dor

sem fim.

De repente me assusto com um grito de socorro vindo de um dos quartos

do corredor.

Chamando por meu nome, e me acusando de ser a culpada por toda

essa dor.

Sinto essa pessoa se aproximando, cheia de raiva e me xingando.

Abraço com força o corpo da minha filha aos prantos.

Começo a ouvir os passos, parece que não é apenas um, há mais alguém se aproximando.

Ouço uma garotinha chamando por sua mãe, eles tentam me encontrar e o horror vai me dominando.

Escuto a voz de um homem me perguntando onde eu havia escondido a pedra.

Quem mais sabia sobre o poder dela? Não contei a ninguém sobre esse detalhe.

Eu sei que é só uma alucinação, isso não pode ser verdade.

Minha vista lentamente vai se apagando, o brilho da terra vai se perdendo.

Tudo que antes era cheio de vida vai se escurecendo, e meu arrependimento vai crescendo.

Meu último desejo seria de voltar para terra novamente, mesmo sabendo que seria a última vez.

Uma eterna despedida dessa vida que nunca mais viverei.

Lucas Pires
Enviado por Lucas Pires em 25/09/2019
Código do texto: T6753926
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