Varanda
Fazia luar naquela noite. Estava eu no sofá – ali, perto das 10 da noite. Escutava música. Elas, músicas, me fazem grande bem, para a mente. E também para o corpo, relaxo ambos.
Prefiro música à TV. O que ainda vejo é a TV católica. Só.
A companheira – Betânia – estava na cozinha preparando lanche. Não sou de deixar tudo para a mulher fazer, na cozinha. Já passou esse tempo.
Não, aquele era o dia dela, de fazer o lanche. O outro seria o meu.
A sala estava na penumbra – nem tanta iluminada, nem escura. Fazia um pouco de calor, por isso deixei a porta da frente aberta, para a ventilação.
Mas havia a grade, claro. Quase todas as casas são por elas protegidas. Tudo por causa da insegurança que impera nos quatro cantos do país. E do mundo.
Percebi que o luar iluminava o pátio (alguns chamam essa área de varanda). Aqui no Norte é pátio.
Me distraia com a música. De repente vi uma sombra refletida na parede (do pátio). Uma pessoa ali, agarrada na grade. A se movimentar.
Assustei-me com aquilo, a sombra gesticulando, se mexendo. Claro, me deu medo.
Fiquei quieto, meio paralisado. Alguns segundos e a sombra sumiu. Quem poderia ser, naquela hora?
Depois, de novo, a sombra na parede, como um fantasma, uma visagem, coisa do outro mundo. Mas rapidamente sumiu, foi embora. Coisa tétrica, macabra.
Pavorosa.
Me levantei. Betânia na cozinha, fazendo nosso lanche. Fui até a porta da sala. Olhei, ninguém. Fui à grade, nada vi. A rua estava calma, sem ninguém, um deserto.
Um gato cruzou a rua, repentinamente. E desapareceu.
Bom, achei estranho aquele ambiente. Me assustei mais ainda. Ninguém por perto.
Pensei: E aquela sombra se movimentando aqui na grade? Quem seria?
Entrei.
Betânia me chamou: ------ Venha, Rômulo, vamos lanchar. Fui, sentei, comemos. E contei a ela, minha companheira, da sombra estranha na parede do pátio.
Ela mudou o semblante. Amedrontou-se também. Contei-lhe ainda que eu fora ver o que estava acontecendo, o que poderia ser aquilo - não encontrando ninguém.
Plena e total calmaria – tranquilidade que assustava, causava pavor.
------ Você fechou a porta? Ela perguntou.
------ Não, não fechei, a grade está fechada, está no cadeado. Eis que alguém bate palma, três vezes, lá fora.
Ficamos com medo, logicamente.
Betânia disse: ----- Vamos lá, vamos ver quem é...
Fomos. E novamente ninguém. Fomos à grade, nada, rua deserta. De repente Betânia disse-me: ------ Olha, lá vai ali uma pessoa, um homem...
Eu o vi. Disse-lhe: ------ É, Betânia, é um homem... Lá vai ele.
Caminhava apressadamente, já perto da esquina, uns 100 metros de onde estávamos. O ser desconhecido dobrou a esquina, sumiu.
Não sei se fora ele, esse desconhecido, quem bateu palmas – e fez sombra no pátio. Não sei...
Bem, nessa casa (a que estávamos residindo) morou um cidadão – não cheguei a conhecê-lo – que morreu violentamente.
Seu nome era Sinval – Seu Sinval, assim era conhecido. Era motorista de uma funerária.
Foi assassinado a facadas, numa tentativa de assalto, à porta da casa. Essa mesma casa, a que estamos morando.
O crime fez três anos.
Não sabia dessa história – quem me contara foi um vizinho chamado Laércio, que também já faleceu. Morreu de ataque cardíaco.