1118-CONFISSÃO NO CEMITÉRIO

CONFISSÃO NO CEMITÉRIO

Os assaltantes se dispersaram assim que ouviram as sirenes das viaturas policiais se aproximando. Assalto frustrado, era cada um por si na fuga em carros furtados. Fugiram tão atabalhoadamente que deixaram para trás o Zeca Dinamite, especialista em arrebentar portas, cofres e o que mais fosse necessário para o sucesso dos assaltos.

A policia não teve chance de seguir os bandidos, que sumiram na noite por caminhos ínvios e abandonando carros para se internarem nos matos ou nos canaviais. Entretanto, Zeca foi apanhado. Algemado, empurrado para dentro de uma viatura com espaço especial para meliantes e levado para a delegacia.

Eram cerca de três da madrugada. O Delegado Davanti estava a postos, aguardando o desfecho do entrevero. O cabo Delcides apresentou o relatório da missão e o prisioneiro.

Bandido já escaldado de outros encontros com a polícia, não respondeu ao interrogatório do delegado.

— Vamos dar uma “esfrega” nele, que ele desembucha!

O delegado não era de violência, mas queria a confissão.

— Não, cabo Delcides, não vamos judiar aqui do marginal. — Disse Davanti, que acrescentou:

— Recolha o marginal na cela 2. E vai lá na “zona” e me trás a Lanaturner.

— Sim, senhor delegado!

Vinte minutos depois, chegou o Cabo a prostituta.

O delegado olhou a mulher de alto a baixo: alta, de corpo extraordinariamente bem feito, loura de cabelos longos e ondulados despejando-se por sobre os ombros, um rosto lindo de causar inveja a muita artista de TV. Vestia um vestido Vermelho justo.

— Boa Noite, Lana. Tudo bem?

— Tudo bem, sem considerar que perdi um bom cliente para atender o senhor.

— Não se aborreça. Você será recompensada.

Aliás, pensou Davanti, você me deve ainda muitos favores pelo que já lhe ajudei a sair de encrencas na zona.

— Que deseja que eu faça?

Olhando para o relógio, prosseguiu:

— São quatro horas, já está na hora de encerrar o “expediente”.

— Calma. Ainda dá prá fazer muita coisa na madrugada. — respondeu o delegado, que acrescentou:

— Quero que você faça o seguinte...

***

Por determinação do delegado Davanti, o cabo Delcides e seus auxiliares haviam colocado Zeca dinamite na viatura e o levaram para o cemitério. O portão estava trancado ma o encarregado morava ali defronte, e atendeu rápido à requisição do policial par abri-lo.

Pegaram o marginal e fizeram que lá entrasse e o colocaram sentado em um dos túmulos mais bonitos, algemando apenas uma de suas mãos ao pé de uma cruz sobre o mármore da elegante construção.

— Fica aí bem bonitinho, Zeca, que nada de mal vai lhe acontecer. E não adianta gritar por socorro, que ninguém vai entrar num cemitério de madrugada pra atender grito que só pode ser de fantasma... — disse um dos agentes da lei.

E saíram, deixando o pobre coitado tiritando de frio e de medo, pois sabia que logo seria atormentado por fantasmas e almas penas que povoam todos os locais onde havia morto enterrado.

Quando os soldados saíram, entrou o delegado Davanti com a estupenda prostituta, a quem já havia orientado como agir. Ela entrou no cemitério e dirigiu-se ao local onde jazia algemado Zeca Dinamite.

Quando a viu, seus tremores de medo se transformaram em agitação incontrolada de puro terror. Ante a aproximação da mulher, começou a bater os pés e a puxar o pulso algemado.

Puta que pariu, agora estou frito. É uma vampira, vai chupar meu sangue. Vou morrer seco.

A mulher se aproximou lentamente, e sentou-se na tumba. Seus cabelos brilhavam à luz fraca da lua minguante. Abaixou mais o vestido que revelou ombros de uma beleza sem par, antecipando a visão de seios fartos e voluptuosos.

— Vem, nenê, não sou nenhum fantasma. Veja, coloca sua aqui.

Pegando a mão que estava livre, colocou-a sobre seu seio.

Sentindo o calor do corpo e atendendo ao instinto primevo, Zeca começou a se acalmar. E a mulher continuou no processo de sedução, até que o algemado ficou tranquilo e começou a conversar com ela, enquanto passava a mão pelo sensual corpo.

Um beijo na testa, outro na bochecha, e enfim, Zeca estava sob o domínio da sensual beldade.

— Agora quero que você me diga o nome de seus amiguinhos que assaltaram o banco.

— Mas... mas... se eles souberem que dedurei eles, me matam.

— Não, querido, nada de ruim lhe acontecerá... só coisas boas.

A língua dela passeava pela orelha do coitado, que não demorou a ceder. Contou não só os nomes como também os esconderijos dos companheiros.

Quando tinha tudo bem decorado em sua cabeça, Lana se levantou e disse:

— Quando você for na zona, me procura, tá? Vou lhe fazer um preço camarada.

Saiu rebolando provocativamente, deixando o coitado já com uma evidente manifestação física de desejo, com a esperança de um encontro que jamais aconteceria.

A equipe do Delegado Davanti não perdeu tempo. Assim que Lana revelou o que lhe fora informado, partiram para as buscas, e no albor da madrugada, numa operação que pegou os bandidos de surpresa, vasculharam os covis e prenderam toda a quadrilha.

Recolhidos todos a uma exígua cela, os bandidos jamais ficaram sabendo como pode a policia localizar seus esconderijos.

Acreditavam no silêncio de Zeca. Viram que não tinha sido torturado. Como poderiam desconfiar que uma confissão de seu companheiro havia sido obtida em cima de um túmulo do cemitério?

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 6 de julho de 2019.

Conto # 1118 da Série INFINITAS HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 17/09/2019
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