O primeiro passo

Perto de seu fim, Carlos, na ponte velha da cidade, precisava dar o 1º passo. Simples assim. Com o pé direito ou esquerdo, tanto fazia. Só bastaria isso para que o levasse à queda de 150 metros. Dez segundos no ar. Seus últimos dez segundos.

Mas ele parou. Ouviu um grito. Era uma voz conhecida. Fica imóvel e vira seu velho rosto. Era seu irmão com a carta na mão. Eduardo lamentara nunca ter ficado ao lado de Carlos quando ele mais precisava. Lamentara porque não esteve presente quando a família dele morrera no acidente. Ao ler a carta-suicídio do irmão, foi encontrá-lo e tentar salvá-lo para não tirar a própria vida. Eduardo tenta convencer a dar outro passo para trás e conversar, a primeira conversa entre os dois há tempo, mas Carlos, determinado, nega.

Eduardo, então, na sua última tentativa, pega Carlos e puxa-o com força para longe da beira da ponte. Carlos, sem falar, empurra seu irmão, e lhe dá um soco na cabeça e empurra-o com força caindo sobre a estrada. Nesse momento, na ponte estreita, passava um caminhão velho, sem freio.

O motorista chegou a ver Eduardo. Mas era tarde. E Carlos, naquele instante, nada pôde fazer.

A não ser dar o 1º passo.