Ô Tovo, quantas hoje...?
Tovo era aquela figura esquelética, sombria e quase etérea. Os olhos bem pretos, mais que fundos,e uma barba rala, curta, dramatizavam aquela presença ambulante ocasional na cidade. De roupa clara, chapéu de palha, no mais das vezes era visto acompanhando a mãe, e a uma certa distância.
Tudo indicava provirem da zona rural, que o empoeirado dos trajes e sobretudo, o ensebado do inseparável saco branco que Tovo trazia às costas, tão-somente consolidavam.
Jamais os vi baterem a alguma porta, oferecendo ou pedindo algo. E era em Tovo que a atenção do populacho se concentrava. Corria a boca pequena que padecia duma tara, embora jamais ouvi falar de flagrante. Deduções, quiçá, partiam e se reforçavam da visão daqueles olhos fundos, sinais tidos como de obsessão e desforço físico com o vício solitário. E que, aliás, não era apanágio de jovens forasteiros, maravilhados com a ebuliência das musas, presentes, pretéritas e futuras, que seduziam os mais empedernidos corações. Os moços e meninos e vai ver até que os já encanecidos varões do burgo, animados pelas alucinantes visões, não partissem também para a solução caseira e mais prática, ainda que insatisfatória para o encaminhamento, transferência e despejo dos fluxos vitais...
Mas o Tovo passou a ser uma referência emblemática. E a caçoada mais frequente que recebia da rapaziada era:
- Ô Tovo, quantas, hoje?
E na resposta, não era incomum a chegada aos dois dígitos, sem ao menos provocar espanto...
E entre curiosos, mais ou menos ousados, e o inquirido, quase sempre cabisbaixo e lúgubre, apenas uma certeza: na solitária e solidária orgia, Santo Onã, a todos unia...