A MISTERIOSA VILA 19 - O ESCONDERIJO
Os dias foram longos, a espera por notícias de Asgard os tornavam lentos e agonizantes. O motivo de ficar enclausurado era por precaução, ali no porto haviam olhos e ouvidos ocultos entre a vielas e becos. Não lembro bem, se no quinto ou sexto dia de confinamento, ele me trouxe a esperada noticia de Asgard. Meus nervos já estavam palpitando de ansiedade, mal conseguia conciliar o sono. A notícia foi que o Gaivota não estava mais lá no porto, por ordem de Asgard, ele havia sido levado para outro local remoto da ilha, nem mesmo ele sabia onde. Asgard estava agindo, e eu confiava cegamente nele.
Ao final da tarde ansiando pelo chamado, me deitei na estreita cama, observando uma casinha de marimbondos agarrada aos caibros do telhado, imaginei...aquela minúscula fortaleza, defendida por pequenas criaturas, unidas e ferozes, a torna quase impenetrável. Assim era a fortaleza do maligno.
De repente, o velho bateu na porta do quarto. Levantei-me em um pulo felino, abri o ferrolho e sai rapidamente. Ele já estava vestido em sua velha túnica de couro amassada e cheia de vincos esgarçados pelo tempo. O dia estava escuro e encoberto por pesadas nuvens cor de chumbo, então a notícia que eu tanto esperava chegou. O velho olhou para mim e disse.
- Prepare-se!
Naquele momento, eu tive a certeza que não haveria retorno, era o prenúncio da batalha da vida ou da morte. Juntei meus pertences dentro do alforje, coloquei o sabre na bainha de couro, deixando exposto somente o belo cabo de marfim, o qual esmaguei entre os dedos lembrando o que Asgard disse a respeito dele.
O clarão do relâmpago deixou o ambiente pálido, projetando fantasmagóricas sombras nas paredes do galpão, como se me quisesse me dizer algo em particular, em seguida, a completa escuridão nos deixou cegos e o silêncio, foi quebrado pelo estrondo titânico do trovão.
Chegou a hora. Como fantasmas entre as sombras, caminhamos em direção ao cais. Quando chegamos próximo a borda de pedras que dava acesso as embarcações, ouvimos um assobio vindo de uma delas amarrada ao outro extremo. Nos apressamos sobre a estreita ponte de madeira, e acessamos ao convés. Havia dois homens, eram dois guerreiros, um deles se dirigiu a mim, observei que seu rosto era tão envelhecido pelo sal e o sol, que era impossível dizer sua idade. Ele me olhou diretamente nos olhos e disse.
- Vamos navegar, vamos ao encontro de Asgrad.
Acenei que sim com a cabeça.
O outro homem ligou o motor, e iniciamos a navegação em direção ao mar aberto. O barco dançava ao sabor das ondas. Os relâmpagos iluminavam o mar, tornando a superfície da água em um grande espelho, a cabine era iluminada apenas, por um candeeiro com óleo de baleia.
O coração apertou, o peito ardeu, encontrarei meu amor ou a morte.