O caminho da morte
Fundada em 1883, a estação ferroviária Chave do Faria deu início a Aperibé, distrito de Santo Antônio de Pádua, que acabava de emancipar-se. A pequena cidade, com uma população de pouco mais de 8.000 habitantes, agora teria uma vida independente e mais produtiva.
9 de Agosto de 1992.
Até agora a paz reinava na cidade e por consequência também na única delegacia. Bastião, o único preso, mal abria a boca para dizer alguma coisa, na verdade passava o dia dormindo. Já Mathias e Domingos, os dois velhos agentes que estavam prestes a se aposentar, adoravam tal situação. Diziam que quanto menos complicação melhor, pois qualquer caso mais grave poderia vir a alterar seus planos. Já Godofredo, o novo delegado que assumira a delegacia há quatro dias e que sempre esteve às voltas com as agitações da grande metrópole, estava preocupado com aquele marasmo e não gostava nada daquela calmaria. Sabia por experiência que quando isso ocorria, algo de muito grave estava prestes a acontecer.
Sabendo da aposentadoria dos servidores, já havia providenciado reforço da capital, mas até aquele momento não tinha recebido nenhuma informação sobre os novos agentes que viriam para substituí-los. Tentando acalmar os próprios nervos, o delegado perguntou outra vez a seus ajudantes:
- Para quando é mesmo a aposentadoria de vocês?
- De novo doutor? O senhor já nos perguntou isso mais de mil vezes! Está no Diário Oficial, olha aqui. É agora no dia 16 de Agosto, segunda-feira. Nesse dia já estaremos na beira do rio pescando - os olhos deles brilhavam de alegria.
- Nossa! É para daqui a uma semana. Como vai ser caso aconteça alguma coisa mais séria?
- Se ainda estivermos por aqui nós o ajudaremos com o caso, mas se for depois dessa data o senhor vai ter de se virar sozinho. Quem sabe o senhor já vai contar com os novos inspetores e não precisará da nossa ajuda - Mathias deixou escapar um sorriso matreiro.
- Mas fica tranquilo, doutor. O máximo que pode acontecer é o Naldino roubar outro porco da fazenda de algum coronel e o senhor ter que prendê-lo. E como sempre o sr. Severo, nosso juiz, condenará ele com três meses na prisão a serem cumpridos aqui mesmo na cadeia - Domingos acalmou o delegado.
- Como é isso? Vocês conhecem esse ladrão?
- Claro doutor! Ele é o primo aqui do Bastião - respondeu Mathias.
- E o que faz vocês terem tanta certeza de que isso pode acontecer?
- É que eles se revezam nesses roubos há mais ou menos dez anos, doutor. Um sai da cadeia e o outro entra. São dois safados mais que conhecidos na cidade e não querem nada com o trabalho. Como o juiz foi amigo de infância dos pais deles, indeniza o coronel pelo porco roubado e mete eles na cadeia por um tempo - explicou Domingos.
- Então o Bastião está para ser solto por esse dias?
- Correto. Dia 14 agora ele está fora e provavelmente seu primo entra. Salvo algo novo aconteça, o que não acredito - confirmou Mathias.
Sendo os investigadores crias da cidade, o delegado ficou mais tranquilo. Com a continuidade do papo, ficou sabendo que precisamente no dia anterior à saída do Bastião, seu primo Naldino roubaria outro porco e tudo se repetiria como nas vezes anteriores.
- Parece então que virou folclore da cidade esse acontecimento.
- Quase isso, doutor. No dia 13 o senhor verá a multidão que vai estar na frente da delegacia fazendo a maior balbúrdia. Atualmente até barraquinhas vendendo iguarias são montadas aqui na frente - Os dois riam sem parar.
Os dias continuaram a transcorrer sem nenhuma novidade, para alegria dos investigadores e desespero do delegado, pois até aquele dia não havia chegado ninguém para substituir seus subordinados.
No dia 12, em que Godofredo completava uma semana no comando, para sua alegria parou um carro com placa da capital na frente da velha delegacia por volta das dezesseis horas. Dele, dois homens altos vestidos com ternos pretos desceram e se dirigiram à porta principal do prédio. Seriam eles os novos ajudantes, pensou rapidamente. Recebeu-os com um largo sorriso, mas após as apresentações e cumprimentos, desanimou-se novamente.
Os forasteiros, que fediam a enxofre e nicotina, queriam saber onde poderiam se hospedar por uma noite pois seguiriam viagem pela manhã do dia seguinte. O delegado informou-lhes sobre a pensão e o hotel, os únicos estabelecimentos existente na cidade, e eles preferiram ir para o hotel. Logo saíram rapidamente, mas a aparência deles ficou registrada na mente do delegado. E muito bem registrada, eram gêmeos. Sendo que o que realmente lhe chamou mais atenção foram os anéis que portavam nas mãos esqueléticas e amareladas pelo fumo. Um deles usava o grande anel de ouro com uma pedra de ônix ladeada por duas caveiras, na mão direita. E o outro, na mão esquerda, tinha um anel de prata com as iniciais AM envoltas numa foice. Provavelmente tratava-se das iniciais de seu nome, já que se apresentara como Altair Meira.
O restante do dia transcorreu calmo, e como sempre às 9:00hs da noite, Godofredo fechou a delegacia e foi jantar na pensão que fica do outro lado da praça depois de mandar servir a refeição de Bastião. Como ainda não tinha conseguido alugar uma casa para morar, sua estadia ali mesmo estava reservada. Isso o deixava mais tranquilo.
Como Mathias e Domingos tinham prevenido, o dia 13 amanheceu com a cidade praticamente em frente da delegacia, mas diferente das outras vezes, não havia balbúrdia e sim um burburinho. Saindo da pensão, Godofredo caminhava por entre as barraquinhas em direção ao seu local de trabalho quando encontrou seus auxiliares.
- Chefe! Já sabe o que aconteceu? - perguntou Mathias.
- Claro que sei! O Naldino roubou o porco de algum coronel e a festa está armada.
- Antes fosse, delegado, antes fosse! Dessa vez o pior aconteceu! - reconheceu Domingos.
- O que foi então? - Godofredo se mostrou preocupado.
- Jurandir encontrou o corpo do Naldino lá no caminho que dá no pequeno cais da beira do rio - responderam os dois quase que ao mesmo tempo.
- Quem é esse tal de Jurandir?
- É o velho pescador aqui do lugar. Ninguém sabe quem chegou primeiro, se foi ele ou a cidade - afirmou Mathias.
- E onde é isso? Vamos até lá que eu quero ver de perto.
- É lá na saída da cidade, chefe, mas se prepara que a cena é forte. Falou o Mathias, bem emocionado.
- Está esquecendo que eu vim transferido da capital? Lá o bicho pega todo santo dia! Vamos logo ver isso.
Quando viram o delegado, a multidão começou a gritar por justiça e pedir que o caso fosse solucionado o mais rápido possível. Todos queriam saber quem tinha roubado o porco. A representação estava armada como de sempre. Em fim, o povo ainda não sabia do assassinato. Como o tumulto estava se espalhando e poderia ficar sem controle caso descobrissem a verdade, Godofredo entrou na delegacia, voltou à rua de posse de um megafone e pediu que as pessoas se retirassem em calma porque ele iria trabalhar no caso e manteria todos informados das suas investigações. As pessoas não entenderam bem o pedido, mas como achavam que o delegado não sabia daquela encenação por ser novo na cidade, acalmaram-se e começaram a curtir a festa.
Rapidamente, Godofredo e seus ajudantes se dirigiram ao local do crime. Lá, o delegado não acreditava no que via. Realmente Mathias tinha razão, a cena era dantesca. No corpo nu de Naldino via-se estampado no centro do peito um tridente marcado a fogo. Estava dependurado na árvore de cabeça para baixo, cheio de cortes que pareciam ter sido feitos com navalha. Suas mãos e pés foram decepados, os olhos arrancados e uma foice estava enfiada na cabeça. Na árvore ao lado estava o porco amarrado, que ele tentara roubar, com as partes que foram arrancadas do corpo.
Godofredo procurou pelo local marcas de luta ou alguma pegada que pudesse levar a esclarecer o caso, mas nada foi encontrado. Nenhuma gota de sangue no chão, dando a entender que o crime fora cometido em outro local.
Mais tarde o delegado ficou sabendo de que o porco pertencia à fazenda do próprio juiz da comarca.
Quem teria cometido tal atrocidade? - perguntavam os homens da lei.
Logo a notícia do crime correu que nem rastilho de pólvora pela cidade. Agora, a frente da delegacia virou palco de quase uma revolta. Estavam todos horrorizados com o acontecido porque mesmo Naldino sendo um ladrãozinho barato, era querido por todos e não deixava de fazer parte da vida do lugar.
O delegado acalmou os moradores prometendo que não tardaria em prender o assassino ou os assassinos, afinal crimes bem mais intrigantes ele já havia resolvido na grande cidade.
Quando todos já tinham dispersado da frente da delegacia e a calma voltou a reinar por toda a praça, Godofredo e seus auxiliares começaram a analisar os últimos acontecimentos. Imediatamente lembrou dos forasteiros que chegaram na tarde do dia anterior procurando hotel. Determinou que o Mathias fosse até ao hotel saber tudo sobre os desconhecidos: nomes, profissão, de onde vinham, para onde estavam indo e a que horas foram embora. E quanto a Domingos, pediu-lhe para colher informações pela região, do tipo: a hora em que Naldino saiu de casa, quem foi a última pessoa que o viu e onde, a que horas e quem sentiu a falta do porco na fazenda, quando Jurandir descobriu o corpo na beira do rio, etc. Enfim, pediu que eles colhessem o máximo de informação possível.
Duas horas mais tarde voltaram com poucas respostas. Mathias obteve todas as informações, mas que não levavam a nada porque os forasteiros entraram no hotel na tarde anterior e só saíram às oito horas da manhã daquele dia. Já Domingos muito pouco conseguiu, pois ninguém viu nada. De concreto mesmo só a informação do Jurandir, o pescador que encontrara o corpo.
Baseado no que tinha, Godofredo pediu a Mathias que fosse buscar Jurandir para que este esclarecesse suas dúvidas. Mathias prosseguiu. O tempo foi passando e nada dele e da testemunha apareciam.
Resolveram ir almoçar, voltaram à delegacia e nada. Preocupado, o delegado perguntou a Domingos se era muito longe o local onde encontrar o pescador.
- Não muito. Já era para eles estarem aqui.
- Sabe onde é?
- Claro!
- Então faça o favor de ir até lá ver o que está acontecendo. Enquanto isso eu vou dar uma chegada lá no necrotério para saber se eles podem me adiantar algum detalhe importante.
Jurandir morava do outro lado do rio, mais ou menos na mesma direção onde tinha sido encontrado o corpo de Naldino. E para lá também se dirigiu Domingos.
Quando Godofredo voltou do necrotério, encontrou Domingos sentado no grande banco da delegacia. Ele estava sem cor, quase desfalecido e ainda tremia dos pés à cabeça.
- O que aconteceu, homem?
- Outra desgraça! Encontrei o corpo do Mathias no mesmo local onde estava o Naldino.
- O quê? E o Jurandir, cadê ele?
- Está desaparecido, chefe - respondeu desolado.
- Alguém viu algum movimento estranho ou escutou alguma coisa? Afinal o crime aconteceu agora durante o dia!
- É verdade, mas ninguém sabe de nada... Parecia que eu estava vendo a mesma cena, tudo idêntico ao crime anterior, só não tinha o porco. É de impressionar, delegado. Nesses meus 35 anos de polícia nunca vi nada igual ou sequer parecido.
- Quero ver de perto. Vamos!
Rapidamente chegaram ao local. Vários moradores já estavam por lá e a consternação era geral. Todos em silêncio olhavam para o delegado como que a perguntar o que estava acontecendo na cidade. Uma cidade em que até pouco tempo nem animal aparecia morto nas proximidades.
A cena era horripilante. À primeira vista, era assegurado constatar que o crime foi milimetricamente executado da mesma forma que o anterior. É como se a mesma pessoa que fez aquele, repetiu o ato nesse. Godofredo passou a encarar os casos como a prática de alguma seita macabra.
Mais uma vez, nenhuma pista foi deixada. A cena do crime foi liberada e o cadáver recolhido para autópsia. Agora só restava aguardar o resultado e seguir as pistas que os corpos pudessem revelar.
No dia seguinte, logo pela manhã, Godofredo recebeu os resultados das autópsias, que não eram nada esclarecedores. Relatava que as vítimas, tanto um quanto o outro, morreram de colapso cardíaco causado por um grande susto. As amputações e os ferimentos pelo corpo tinham sido cauterizados com uma substância desconhecida. Por isso não havia nenhum vestígio de sangue.
Para o delegado era um grande mistério a ser desvendado que provavelmente iria lhe tirar algumas noites de sono.
À tarde, como em todo dia 14, Bastião foi solto e prometeu ao delegado que não roubaria nunca mais um porco, mas que não sossegaria enquanto não descobrisse quem assassinou seu primo.
Godofredo pediu para que ele não tentasse fazer o trabalho da polícia e o alertou que o criminoso era muito perigoso.
O tempo passava e o delegado não parava de pensar nos estranhos assassinatos que, agora um mês depois, ainda não tinha conseguido solucionar. Não desistiria enquanto não colocasse aquele ou aqueles assassinos na cadeia. Dos novos inspetores que foram locados para a cidade, não tinha nenhuma posição até aquele dia. Cansado e estressado, Godofredo foi até a tendinha que ficava do outro lado da praça, bem em frente à delegacia, a fim de espairecer. Precisava conversar com alguém e se inteirar ainda mais sobre os hábitos da cidade.
Mal acabara de chegar ao local e nem teve tempo de cumprimentar o pessoal. Ao olhar para trás viu um carro, com placa da capital, parar em frente à delegacia. Dele desceram dois indivíduos vestidos completamente de preto que se dirigiram ao interior do prédio. Correndo na direção da delegacia, pensava: “eu já vi esse filme, tomara que sejam os novos investigadores”. Lembrou que também era dia 12, data igual ao mês anterior.
Mais uma vez se decepcionou. Não eram quem ele imaginava e também não eram aqueles forasteiros que passaram por lá antes do crime. Entretanto eram gêmeos, fediam igual aos outros e queriam saber onde se hospedar até o dia seguinte. Mais uma vez informou a localização do hotel. Tudo acontecia como há um mês, até os anéis em cada mão daqueles homens eram iguais ao anéis que os outros portavam.
Godofredo não resistiu à curiosidade e meio desconfiado comentou:
- Noto que os senhores usam anéis bem interessantes.
- Ah, realmente - um deles respondeu dando a entender desinteresse.
- Vocês os têm há muito tempo?
- Não, não. Eu os adquiri tem mais ou menos uma semana.
- Que interessante! O senhor conhecia a pessoa que lhe vendeu os anéis?
- Eu os comprei numa loja de antiguidades. Eu sou um colecionador - respondeu ironicamente.
- Ah! Eu entendo - dessa vez foi o delegado que usou de sarcasmo.
- Não entendo sua ironia, delegado. O anel me chamou a atenção por ter as iniciais idênticas ao meu nome. E como o senhor mesmo pode comprovar, ele data do ano 666 - retirou o anel do dedo e o entregou ao delegado para que ele comprovasse sua história.
Godofredo constatou que o anel datava do ano mencionado.
- Qual o seu nome mesmo? Estamos conversamos a tanto tempo e ainda não nos apresentamos.
- Muito prazer, Armando Mendes - o visitante apresentou um cartão de visita que tinha seu nome e logo abaixo, estampado em letras góticas, sua ocupação, que dizia “Colecionador de Antiguidades”.
- Prazer, Godofredo - respondeu pegando o cartão e continuando o interrogatório, agora mais curioso ainda.
- O anel com as caveiras também é uma antiguidade?
- Sim, eles estavam num estojo de joias e a loja só negociava o conjunto. Me custou um bom dinheiro, mas valeu a pena.
- Que bom que o senhor ficou satisfeito com a aquisição. Pôde ainda presentear seu irmão! - outra vez usou de sarcasmo.
- É verdade! Bem, delegado Godofredo, nós vamos indo. Até breve.
- Até!
Algo no ar não lhe agradava, mas nada podia fazer, afinal aqueles homens acabavam de chegar na cidade. Porém, aquele “até breve” o deixou bastante intrigado.
Godofredo resolveu ficar atento pelas próximas horas. Fechou a delegacia e também foi para o hotel. Lá instalou-se no salão principal de uma forma que podia ver todo o ambiente até a saída. Vigiando dali, não entrava e não saía ninguém de que ele não tomasse conhecimento. Assim passou toda a noite acordado. Na manhã seguinte, precisamente às oito horas, aqueles homens deixavam o hotel.
Sem mais nada a fazer ali, Godofredo foi até a pensão onde ficava para tomar banho, trocar de roupa e voltar para delegacia. Entretanto não chegou no meio do caminho. Encontrou com o tal Jurandir que lhe deu a notícia das mortes.
- Você desaparece todos esses dias e quando volta é com essa novidade?
- Venha ver com seus próprios olhos. Estão lá no caminho para o rio, naquele maldito lugar, o juiz e o Bastião, mortinhos da silva, que nem o Naldino e o Mathias.
- Não é possível! Pedi transferência para essa cidade a fim de descansar e por aqui ficou pior que na capital! - Godofredo pensou alto.
Quando estava indo para o local dois estranhos vestidos de preto o abordaram. Logo olhou para as mãos deles, mas não viu nenhum anel. Percebeu que também não eram gêmeos e nem fediam como os anteriores.
- É o delegado Godofredo?
- Sim, sou eu - respondeu secamente.
- Eu sou Mário e esse é o Jorge. Somos os novos agentes transferidos.
- Nossa! Até que enfim. Chegaram em boa hora. Venham comigo receber as boas vindas da cidade.
Godofredo não os alertou sobre o que iam encontrar. Queria ver a reação dos seus novos ajudantes. Caminhando rápido, chegaram ao local onde os corpos se encontravam. Os novos agentes estavam paralisados, mal acreditavam no que viam. Dois corpos dependurados de cabeça para baixo na árvore, como nas vezes anteriores, e nenhum vestígio de luta ou sangue.
- Soubemos que nos mês passado nesta mesma data também ocorreram dois assassinatos aqui na cidade. É sempre assim por aqui? - um deles perguntou.
- Segundo seus antigos colegas, aqui reinavam paz e tranquilidade, mas parece que bastou eu chegar nessa maldita delegacia que a coisa degringolou.
- É, soubemos que o secretário de segurança está uma fera e não para de atormentar o Augusto. Quer porque quer o caso anterior resolvido o mais rápido possível.
- Agora que a coisa vai pegar. Esse aí era o juiz da cidade e pelo que sei é primo do Governador. Imagina? Ainda nem resolvi aqueles crimes e agora mais dois. Estamos fritos se não solucionarmos tudo rapidamente.
- Não creio que seja tão difícil assim - previu Jorge, tentando levantar o moral.
Outra vez começava um novo mistério, sendo que agora envolvia um figurão.
O tempo foi passado e os casos continuavam na gaveta sem solução. Ninguém sabia de nada e nenhuma pista que os levasse aos assassinos ou aos mandantes dos crimes era encontrada.
Impaciente com as cobranças do Governador, o secretário de segurança mandou o chefe de polícia chamar Godofredo para saber como estava a apuração daquele monstruoso caso e do que ele precisava para resolver de uma vez os assassinatos.
Godofredo viajou à capital. No início da manhã, já no prédio onde funcionava a sede da polícia civil, dirigiu-se ao gabinete do Chefe de Polícia e não foi recebido amigavelmente por Augusto. Seu superior encontrava-se muito nervoso por estar sendo pressionado pelo secretário de segurança em razão de o delegado não ter solucionado os crimes.
A conversa estava tensa, quase fugindo ao controle emocional dos dois.
- Não é admissível demorar tanto tempo para resolver um caso, mesmo que seja um tanto complicado.
- Concordo com o senhor. Já disse e repito, eu daria a minha vida para descobrir quem são esses assassinos, mas...
O telefone vermelho tocou e Augusto o interrompeu.
- Com certeza é o secretário de segurança querendo saber como andam as investigações.
Atendeu a ligação e confirmou manualmente com o polegar.
- Aguarda aqui mesmo. Vou lá na sala dele e já volto para continuarmos.
Augusto mal acabara de sair fechando a porta do gabinete e apareceram na frente de Godofredo dois homens vestido de preto. Eram gêmeos, fediam a enxofre e nicotina, usavam aqueles anéis que ele tanto conhecia. Mas não eram os mesmos homens que ele encontrara nas outras vezes. Rápido e instintivamente sacou da sua arma e apontando para eles perguntou:
- Como entraram aqui?
- Você nos chamou!
- Como assim? Vocês só podem estar malucos! Quem são vocês?
- Não acabou de dizer que daria a vida para nos ver? Pois aqui estamos e vamos levá-lo. Na verdade somos um só. Pode me chamar de Anjo da Morte.
Nesse instante os gêmeos se fundiram numa só pessoa e desapareceram como fumaça deixando uma gargalhada ecoando por todo o prédio.
Augusto e outros policiais correram para o gabinete. Ao entrarem, depararam-se com a mesma cena dos assassinatos na cidadezinha.
Godofredo estava ali imolado, pendurado na janela basculante de cabeça para baixo. Sua arma ainda estava segura pela mão decepada no chão, abaixo do corpo.