Desagregada personalidade.

A época era antiga, tudo indica, pelas vestimentas, pelos objetos, o quarto era branco, mas a cor predominante era o dourado, todos os móveis tinham tons dourados, e outros ate eram de fato, havia a janela toda de ouro, toda linda em seus desenhos parecia um portal para algum lugar de elfos, se estes existissem.

Pois bem, na cama havia lençóis e grandes travesseiros brancos, macios, cheirosos mas Ângela que ali estava não se deitou. Ela estava em uma banheira do quarto, era jovem, cabelos castanhos tão claros, quase loiros, arrumados em uma trança raiz quase despenteada já. Sua pele clara estava sendo esfregada por uma toalha macia, branca também, as mãos que esfregava as costas também eram brancas e joviais.

A dona dessas mãos era uma empregada, vestida de preto e avental branco, seus cabelos loiros, cacheados, olhos claros, lábios grossos e expressão contida e carinhosa, vez ou outra olhava para uma faca de barbear prateada posta em algum lugar do quarto.

Ângela com seu corpo escultural levantou da banheira, enrolada em uma toalha como se fosse uma capa, caminhou até a janela , linda no seu tom dourado, via a partir dali, um vale verde, com flores amareladas, rosadas, brancas que davam a um caminho longe, muito longe dali e começou a sentia seus pés encharcando-se ao pisar em uma grama verde coberta de água, era nítida a sensação da lama que molhava os pés mas não os sujava muito, talvez a cobertura da gramínea impedia que a lama sujasse tanto. Eis que aparece aquele rapaz, olhando a pessoa, perdidamente apaixonado, ouso falar em paixão porque seu olhar era de tanta admiração, ele também era loiro, estava vestido de terno, usava gravata.

Mas aí Ângela voltou para o quarto, perdida, não sabia o que fazer nada tinha sentido, sentou-se agora no banco posto no centro do quarto, agora estava vestida com vestido branco, bordado em renda, típico traje dos séculos XVIII ou XIX, pegou uma escova de cabelo branca pintada de detalhes prateados e dourados, mas não queria se pentear, sentou-se em frente ao espelho da penteadeira, mas não queria se olhar, e começou a se incomodar com a presença da empregada, que só ficava ali parada no centro de quarto, olhando-a com a mesma expressão de antes, quem era você? Ângela tenta saber quem era a empregada, ela se diz chamar Ana. Ana, a empregada.

Mas era sua irmã! Irmã que cuidava de seu banho, que a vestia... Por quê? Devia ser bastarda!

Mas e o carinho que a mesma sentia? Era devoção? Ou era carinho de outras vidas?

Ângela perguntou para Ana quem era o rapaz, que a olhava, como eu saí do quarto? Como ele me viu? Ele existiu? Era uma alucinação? E Será que Ana também era uma alucinação?

Começou a andar de um canto a outro no quarto, precisava descobrir onde estava alguém a havia trancado em seu quarto. Ela estava presa, condenada mesmo em luxo? Caminhou até a porta, estava trancada, não tinha como abrir, não existia um mundo lá fora, não conseguia imaginar nada que existisse após a porta.

Eis que a loucura a consumiu, Ana talvez fosse uma miragem, um espírito talvez, e o rapaz uma recordação do passado, seria por causa dele que estava ali trancada?

...

E aquela mulher atormentada em seu quarto, não era jovem, suas bochechas eram grandes, suas pálpebras eram caídas, seu nariz e queixo afinado, estava vestida de preto, escorada na parede, se escorregando até o chão, sem saber o que fazer, nervosa e com medo, condenada a solidão, sem entender o que a levou a estar ali, sem ter lembranças coerentes até mesmo de saber quem era. Naquele chão frio, sentada, diante apenas do seu medo, se despediu do telespectador:

__ É hora de ir. Há muito que fazer, talvez amanhã você me entenda.

Levantei do sofá, desliguei a televisão e fui para o quarto dormir.

Liliene Maria Rodrigues
Enviado por Liliene Maria Rodrigues em 25/07/2019
Reeditado em 25/07/2019
Código do texto: T6704370
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