PELA NOITE AFORA ( micro conto)
Ela acelerou a caminhada.
Já vinha notando a presença do carro que a seguia em baixa velocidade desde que ela entrou no quarteirão.
Ela sentiu medo.
Segurou a bolsa com força e continuou andando. Faltava ainda mais uns dois quarteirões até sua casa.
Ousou olhar para trás. Era um carro preto, talvez um opala, ela não entendia muito bem de carros.
Olhou à sua volta para ver se via algum estabelecimento aberto para que pudesse entrar, mas àquela hora da madrugada não havia nada. A rua estava deserta e silênciosa. Ela era a única caminhando ali naquele momento.
Ajeitou o sobretudo por causa do frio que àquela hora era congelante e pensou se não estava na hora de correr.
Aumentou ainda mais a velocidade e percebeu que o carro fez o mesmo.
Ela entrou em pânico. Agora tinha certeza de que estava sendo seguida.
Costumava ver na TV notícias de mulheres que estavam sendo atacadas por um mâniaco dirigindo um carro, mas nunca havia ligado para isso, agora, no entanto, parecia que ela seria uma das vítimas.
Ela passou a correr.
O carro aumentou a velocidade.
Havia uma esquina à frente.
O carro virou na esquina e parou na faixa de pedestres.
Seria agora! O motorista abriria a porta e a jogaria dentro do veículo, e ela seria estuprada e morta. Sua foto apareceria no jornal.
( MULHER DESCONHECIDA É ENCONTRADA MORTA ).
Diante daquela possibilidade terrível ela abriu a boca e começou a gritar.
O motorista abriu a janela. Era um homem de meia idade que a fitou com surpresa.
- Ei. Você está com algum problema?
Ela o olhou sem entender e viu que dentro do carro também havia uma mulher, provávelmente a esposa do cara.
Ela não conseguiu dizer absolutamente nada.
Ficou ali, em pé, olhando abestalhada para o homem que parecia estar tirando sarro da sua cara.
Por fim o homem balançou a cabeça, fechou o vidro e saiu com o carro.
Ela começou a rir histéricamente. Uma mistura de pânico e alívio.
- Pelo amor de Deus! O que foi isso?! Sua louca!
Ela suspirou e atravessou a rua. Seguiu em frente pela calçada.
Entre os muitos carros que estavam parados ali havia um gol cinza com os vidros escuros. O motorista estava abrindo a porta.
Ela passou pelo carro sorrindo e balançando a cabeça.
Que papelão acabara de fazer! Agradecia a Deus que a pessoa não era nenhum desconhecido.
De repente ela sentiu alguma coisa atrás de si e parou.
Olhou para trás e viu que a porta do gol pelo qual havia acabado de passar estava aberta. O motorista estava em pé, na calçada, olhando para ela.
O sorriso em seus lábios morreu, o medo voltou a dominá-la. Tudo o que ela queria agora era chegar em casa.
Voltou a caminhar, agora mais rápido.
Um ruído se fez ouvir atrás dela. Ela parou novamente olhando para trás.
O homem que antes estivera lá havia desaparecido.
Ela franziu o cenho.
Voltou-se para a frente pronta para retomar a caminhada.
Deu de cara com o motorista.
Ela sentiu quando a faca se cravou em sua barriga.
Seu rosto assumiu uma expressão de pavor e assombro.
Ela abriu a boca e gritou.
A rua estava deserta.
Seus gritos ecoaram pela noite afora.