Os Livros Sobre a Lápide
Um garoto de 16 anos voltava da escola quando de repente encontra um gato preto, e por curiosidade o menino seguiu o gato para saber até onde ele iria. O gato entra em um cemitério, o garoto reluta em entrar, mas toma coragem e entra. O gato anda pelo cemitério até parar em uma lápide, o garoto se surpreende ao encontrar um livro sobre a lápide, cuja estava escrita: “L.J. Vá em Paz”.
- Um livro! Num lugar como esse? Vejamos, autor “L.J.” mas qual é o nome do autor? Espera! O autor deste livro está enterrado aqui mesmo! Se eu escrevesse um livro, colocaria meu próprio nome, não só as iniciais. Prazer, Roberto, te apresento o meu livro e olha, coloquei o meu nome nele. Autor Roberto, vê se aprende cara.
O garoto estranhou encontrar um livro sobre a lápide de quem o escreveu e debochava sobre isso.
- Olha só, quando eu morrer, quero ser enterrado junto com o meu livro, entenderam, há há há.
O menino foi para casa levando o livro consigo, quando chegou, tomou banho e depois usou o computador para pesquisar sobre o autor daquele livro misterioso, e encontrou alguns títulos do mesmo. Uma sobre a história de um vampiro, outro contava sobre a difícil decisão de uma mulher que queria abortar o seu filho, havia uma seleção de contos, e alguns livros sobre poesia, mas ele não encontrou nada sobre o livro que achou no cemitério. Ao pesquisar a biografia do autor, não encontrou muita coisa, só que nasceu, viveu e morreu em São Paulo.
- Quem diria que alguém, aos 23 anos, morreria deixando o seu legado na terra? Bom, me lembro que alguns poetas do romantismo morreram muito jovens, mas deixaram uma fartura de consagradas obras primas.
Roberto ficou curioso sobre a história que contava o livro e foi ler, ele olhou a capa e viu o título: Pimpolho. Roberto sorri.
- Era do que minha mãe me chamava quando eu era criança.
Ele começa a ler, e ficou encantado com o livro que contava a história do garotinho pimpolho e suas aventuras na infância.
- Nossa! Até parece que ele está falando de mim, eu me lembro vagamente de cada detalhe da minha infância, e o livro conta detalhes detalhadamente bem detalhados. Até parece que o autor me conhecia!
Roberto fica espantado pela história se assemelhar bastante com a história de vida dele, o apelido carinhoso que ganhou de sua mãe, as festas de aniversário com temas de super-heróis, seus amiguinhos da pré-escola, seus brinquedos, os encontros de família, seus brinquedos favoritos, os livros que sua mãe lia para ele antes de dormir, a canções infantis, os desenhos e filmes animados, tudo bem escrito e detalhado na história, até coisas que ele nem lembrava conseguiu recordar na memória, em suas lembranças mais vagas. Roberto não acreditou e ficou assustado com aquilo que lia.
No dia seguinte, depois da escola ele foi para a casa de sua amiga, Amara.
- Aconteceu algo meio que surreal comigo ontem.
- Como assim “meio que surreal?”
- Olha Amara – Roberto mostra o livro para Amara.
- O que tem de surreal em um livro?
- A história!
- Bom, sim. Talvez por ser um livro de fantasia.
- É fantasia demais ler um livro que conta a sua infância, sendo que não foi você quem o escreveu?
- E se for uma biografia?
- Mas eu nem conheço o autor! E ele conta a minha história, a minha infância!
- Deixe-me ver. – Roberto entrega o livro para Amara.
Amara olha o livro minuciosamente.
- Não tem data de publicação.
- Deve ser porque não foi publicado, isso explicaria o porquê não encontrei o livro na internet.
- E que droga de nome é L.J. ?
- Deve ser as iniciais dele.
- Nunca ouvi falar.
- Eu pesquisei sobre ele e não encontrei muita coisa, ele morreu muito jovem.
- Olha, se o livro parece com a sua vida, deve ser mera coincidência, o melhor que você deve fazer é colocar o livro exatamente onde o encontrou.
- É isso mesmo que irei fazer.
Roberto estava decidido em levar o livro de volta e nunca mais pensar nisso, então no dia seguinte, depois da escola, ele vai até o cemitério e ao chegar na lápide de “L.J.”, se surpreende. Um novo livro apareceu sobre a lápide do autor desconhecido.
- Isso só pode ser brincadeira, e de muito mal gosto!
Por curiosidade, Roberto pega o novo livro, deixando o outro lá, e volta para casa. Novamente ele pesquisa sobre o livro e mais uma vez não encontra nada.
- Mas que decepção!
Roberto mira os olhos sobre o título: “Cabeça Grávida”.
- Não pode ser, agora ele está brincando com o meu apelido da escola.
Roberto começa a ler por curiosidade, e fica chocado, agora o livro contava a história de sua vida na escola. Ao ler uma parte do livro que chamou muito sua atenção ele entra em êxtase enquanto um flashback passa em sua mente.
- Parabéns, Roberto, você tirou 10 em todas as matérias, queria que todos os meus alunos fossem tão dedicados quanto você.
- Obrigado, professora.
Os colegas de Roberto começam a fazer chacota com a inteligência dele.
- Olha só, tirou 10 em todas as matérias, se continuar assim vai superar o Albert Einstein e o Stephen Hawking.
- Aposto que ele voltou no tempo para roubar a inteligência dos gênios.
- Não, ele voltou no tempo para comer o cérebro deles, igual um zumbi. – Os meninos do fundão começam a rir da piada de mal gosto.
- O Roberto é de outro planeta, o planeta dos cabeçudos.
- Mas que crânio casca grossa. Tem muitas camadas de inteligência.
- A cabeça dele é tão grande, até parece que está grávida.
- Vai nascer um Einstein dentro da cabeça dele. A cabeça dele vai explodir de tão grande, aí vai cuspir todos os gênios da história.
A maioria dos alunos gritam para todos ouvirem: - Cabeça grávida, cabeça grávida, cabeça grávida...
Amara tenta defender o amigo.
- Não liga pra eles, Roberto, são todos uns bandos de invejosos.
Roberto fica irritado com todas aquelas piadas de mal gosto e sai da sala em prantos...
Voltando para a realidade depois de um momento de lembrança, Roberto sente-se nostálgico ao ler as aventuras mais loucas que teve com seus amigos, como quando eles foram ao parque do terror e tiraram várias fotos com os personagens de vários filmes de terror, ele ainda se lembrava que naquele dia faltou pouco para se borrar de medo no labirinto da morte, onde havia zumbis causando altas confusões e arrepiando geral, por sorte eles tinham armas de brinquedo para se defender dos monstros, atirando bolas de água na cara deles. Ele ainda se lembrava, esse dia foi inesquecível. A história terminava contando sobre o seu aniversário de 16 anos.
- Cara, que viagem!
No dia seguinte, Roberto vai novamente à casa de Amara falar sobre o novo livro que encontrou.
- Encontrei outro livro.
- Outro? Cara, que sorte. Se eu encontrasse livros por aí, leria bastante.
- Não é brincadeira, eu encontrei outro livro no cemitério, sobre a lápide do "L.J." e o livro conta outra parte da história da minha vida. Você não acha estranho?
- No mínimo, acho loucura. Quero ver.
Roberto entrega o livro para Amara.
- Cabeça grávida! Isso só pode ser sacanagem! Alguém está tirando uma com a sua cara. Quem escreveu te conhece com a palma da mão. Acho que estão te perseguindo.
- Você acha que não foi o "L.J." quem escreveu? Que pode ter sido mais de uma pessoa?
- Não sei quem escreveu, mas tenho certeza absoluta que não foi um escritor morto meia boca. Devolva este livro e nunca mais volte para aquele cemitério, você me entendeu? Pode ser perigoso, Roberto. Podem estar te perseguindo, você pode estar correndo perigo.
- Mas isso é impossível, eu encontrei esse livro por acaso, quem deixou lá não podia imaginar que eu o encontraria.
- Olha, eu não sei, estou muito confusa, devolva o livro e não volte para lá, para o seu próprio bem.
Roberto volta para o cemitério, e novamente encontra outro livro, e fica pasmado ao ler o título. Mesmo não querendo ler, a curiosidade fala mais alto, ao chegar em casa foi correndo para o computador e não encontrou nada sobre o bendito livro. Ele começa a ler atentamente a cada detalhe e com as mãos tremulas, ele vai imaginando as cenas que passam sobre sua cabeça, e, ao chegar no final, arregala os olhos, assombrado com o que lia. O livro contava sobre Roberto indo ao cemitério e encontrando livros sobre a lápide de um autor bem pouco conhecido. No dia seguinte depois da escola, novamente ele vai à casa de Amara falar sobre o novo livro.
- Eu fui lá no cemitério e encontrei outro livro.
- Não me diga que você...
- Sim, eu peguei o livro.
- Mas é perigoso, Roberto, eu te disse.
- Olha o título deste.
Amara arregala os olhos ao ver o título.
- Não! Não pode ser, é brincadeira, só pode. Você acha que...
- Eu não sei. Não sei o que pensar.
- Você acha possível alguém escrever algo que ainda não aconteceu, e acontecer depois de ter escrito?
- Não sei.
- Quais são as chances de isso acontecer, digo, em probabilidades.
- Não faço ideia, pode ser as mínimas chances possíveis. É certo que isso não aconteça.
- Então não tem o que se preocupar, Roberto. Você está se metendo com coisas além da sua imaginação. Eu não voltaria para lá se fosse você, e digo mais, queimaria esse livro se estivesse em seu lugar, eu te aconselho a fazer isso, para o seu próprio bem!
Roberto volta para o cemitério pela última vez, e ao chegar na lápide de "L.J." começa a falar com o morto.
- Quem é você? "L.J." porque escritor você não é, ninguém te conhece, sabe o que você é? Um piadista, um piadista de péssimo gosto, você se diverte pelas custas dos outros fazendo piadinhas com a vida alheia, acha isso engraçado? Eu vou dizer o que é engraçado, uma história sobre você mesmo, sim, eu vou escrever uma história sobre você e vou escrever sobre sua morte, coisa que a internet não mostra, eu mostrarei. Eu vou descrever bem lentamente cada detalhe sobre como você sofreu ao morrer, e vou gostar muito, ouviu? “Ah, eu escrevia livros quando estava vivo, e continuarei a escrever depois de morto, vocês verão”, então isso, você só sabe fazer isso? Gostava tanto de escrever, que não se contentou com a morte, e ainda escreve, mesmo depois de morto? E claro, tinha que encontrar um bode expiatório para suas escritas. Eu vou dizer uma coisa "L.J." você escreve muito mal! E me conta, quanto tempo demorou para você escrever este livro? E o título? Muito engraçado, não podia ter pensado em uma coisa mais idiota! “A Morte de Roberto!”, isso é ridículo! Então você acredita mesmo que um assassino vai entrar num cemitério para matar o seu personagem principal? Não faria sucesso algum, ninguém leria isso. “Ah o personagem principal morre no final, que triste, nossa, chocante”, não seja melodramático! Fique sabendo que eu sou muito inteligente, não há uma matéria que eu não tire nota 10, sim, eu sou o cabeça grávida! Não me venha com essa de que entende sobre literatura, eu sei muito sobre teoria literária, e posso dizer com consciência que você não passa de uma amador "L.J." eu disse amador? Não, é ofensa comparar um amador com você, um amador escreve muito melhor que isso, sua escrita é muito pior do que piegas! Eu escrevo melhor do que você "L.J." você não é digno de ser chamado de escritor. E não me venha com essa de que no final do livro um tal de Roberto morre, e eu não vou acreditar que tem um assassino às minhas costas, pronto para me dar uma facada...