PESADELO
Era uma bela manhã de domingo. Da varanda, ele olhava o horizonte com orgulho. As árvores, os pássaros, o lago, as montanhas. Toda a beleza e vastidão da propriedade ainda lhe causava admiração. Esticou o corpo. Caminhou até a área de recreação no quintal. As crianças já brincavam animadas. 'Papai! Papai! Olha só o que eu sei fazer'. Disse uma delas pulando do trampolim na piscina. Ele sorriu e acenou. Caminhou até a mesa. Sentou-se. Tomou um gole de suco. Sentiu braços macios envolvendo seu pescoço. 'Bom dia'! Disse ela, beijando-o carinhosamente. 'Bom dia'! Respondeu de volta, sorrindo e vendo-a caminhar deslumbrante em direção às piscina. Recostou-se na cadeira. Naquela altura da vida, estava em paz. Era um vencedor. Fechou os olhos por um instante. Acordou assustado, sem saber aonde estava. A cabeça doía insuportavelmente. Do seu lado na cama repousava uma desconhecida. Nua. Levantou-se. Caminhou sem rumo pulando por sobre o amontoado de latas, garrafas e poças de vômito espalhados pelo chão. Pessoas estranhas dormiam amontoadas pelos cantos. Nuas, seminuas. O som alto e grave da música eletrônica vindo lá de fora colidia com seu corpo e fazia doer ainda mais sua cabeça. Entrou no banheiro. Procurou uma aspirina no armário. Tomou logo duas. Jogou água no rosto. Olhou para o espelho e sorriu aliviado. Tudo não passara de um pesadelo.