Morte na Estrada

Carlos vinha acelerando dentro de seu Gol pela estrada rumo a Belo Horizonte. Já eram nove da noite e ele tinha pressa para chegar em casa, descansar e ver a esposa e a filha. Voltava de uma reunião de trabalho na cidade de Lafaiete. No som tocava música sertaneja. Ficara o dia todo fora de casa a trabalho, não via a hora de tomar um bom banho e relaxar.

Sempre que podia ultrapassava algum carro, para poder adiantar a viagem. Estava agora vindo colado pela traseira de um caminhão, cantarolava a música que tocava no rádio e batia as mãos no volante como se fosse um instrumento de percussão. Não pensava agora nos negócios, deixara os assuntos do trabalho na reunião que já acabara.

Chegara então a hora de fazer a ultrapassagem. Pisou no acelerador e entrou na contra-mão, então se deparou com uma carreta que vinha a toda velocidade. Não teve como evitar a batida, o choque foi tão grande que seu carro foi gravemente atingido, chegando a um estado de grande estrago.

Ao despertar estava em pé na beira da estrada, seu carro totalmente destruído embaixo da carreta. O dono da carreta estava em pé também, com o rosto sangrando olhando o que sobrara do carro. Carlos então chegou perto do caminhoneiro e perguntou-lhe se estava bem, mas o caminhoneiro não notou sua presença e continuou calado olhando o desastre.

Foi então que Carlos olhou para dentro de seu carro e notou que havia alguém ali, esmagado no que sobrara do banco do motorista. Foi chegando perto e notou que era ele mesmo que ali estava, coberto de sangue e desfigurado.

O carro de bombeiro chegou então acompanhado por uma ambulância. Desceram os profissionais e começaram a trabalhar para retirar o corpo dos destroços.

- Ei, eu estou aqui, estou bem – gritava Carlos para os bombeiros e enfermeiros, mas eles assim como o caminhoneiro não notaram sua presença. Ele parecia estar invisível aos olhos deles.

Foi então que tiraram o corpo do meio dos destroços, Carlos notou que era ele mesmo ali, sendo colocado numa maca. Como isso poderia estar acontecendo? Como ele poderia estar vendo seu próprio corpo?

Os enfermeiros tentaram todos os tipos de técnica para revidar o corpo mas nada adiantou, ele já estava sem vida. Levantaram então a maca, colocaram o corpo dentro da ambulância, e começaram a prestar os primeiros socorros ao motorista da carreta que tinha apenas pequenos cortes.

Carlos gritou novamente:

-Ei, estou aqui, estou bem! – mas foi em vão, estava totalmente invisível aos olhos de todos.

Foi nesse momento que surgiu uma luz na estrada que só Carlos notara, e de dentro saíram dois homens altos, todos de branco. Em volta deles havia um brilho como se fosse uma grande áurea.

- Venha conosco, Carlos. É chegada a sua hora.

Eles eram os únicos que podiam vê-lo ali, de pé.

- Pra onde vocês querem me levar?- retrucou o homem desorientado.

-Para seu novo lar. Você cumpriu sua missão aqui na Terra. Embora você esteja indo mais cedo por um descuido, é chegada sua hora.

-Eu não vou com vocês, quero voltar para minha casa. Quero ficar com minha mulher e minha filha.

Então Carlos saiu correndo e entrou na ambulância onde estava seu corpo coberto, estirado na maca.

Agora estava começando a entender o que acontecera.

Na ambulância ninguém notou sua presença, nem na funerária enquanto preparavam seu cadáver no caixão. Chegou então a hora do velório, e ali estavam sua esposa, sua filha e todos os seus familiares e amigos velando-o tristemente.

Ele andava de um lado para o outro aflito, fitava o próprio corpo no caixão, o rosto deformado devido o acidente. Sua esposa chorava muito, enquanto tocava suas mãos frias. Sua filha, com apenas nove anos soluçava num choro profundo. Sua mãe também estava ali, com um lenço enxugando as lágrimas que lhe escorriam o rosto.

Ali ficou Carlos presenciando tudo, estava invisível aos olhos de todos. Ai se alguém pudesse ouvi-lo, se alguém pudesse vê-lo, poderia dizer que não chorassem, que estava ali vivo acompanhando tudo. E acompanhou tudo mesmo, até o enterro no cemitério. Viu o caixão ser enterrado enquanto todos escondiam os olhos com óculos escuros.

Foi então que apareceram para ele novamente os dois homens de branco.

-Venha conosco, Carlos. Já passou da sua hora. Você acompanhou seu velório, veio até seu enterro. Fez mais do que devia. Agora venha conosco, seu novo lar lhe espera.

-Não vou com vocês coisa nenhuma. Vou para casa e ficarei zelando por minha esposa e minha filha.

E assim ele fez. Foi para casa, mas não gostou do que se seguiu. Sua família estava triste, em luto, choravam a todo momento. Carlos tentava conversar com a esposa, com a filha, mas era em vão, elas não o viam, não o ouviam. Então uma grande angústia tomou conta dele, que começou a ficar muito deprimido. Chorava muito enquanto sentava num canto da sala. E a tristeza naquele lar só aumentava. Foram dias angustiantes, quanto mais ele se chateava, mais via sua esposa e filha chorarem, mais via elas tristes.

Queria vê-las felizes, mas aquele luto não passava. Queria se mostrar presente mas era invisível. Só então teve um lampejo, uma idéia. Ajoelhou-se no chão e começou a orar pedindo a Deus que trouxesse de volta a alegria para aquele lar.

Foi aí, após longas súplicas, uma luz se fez em sua frente, e dali saíram aqueles dois homens de branco que ele vira na estrada e no cemitério. Um deles lhe disse:

-Se quer paz para você e sua família venha conosco. Aqui você não pode fazer nada para ajudá-las, só irá trazer mais dor e sofrimento.

- Eu queria ajudá-las- dizia Carlos- mas só vejo-as sofrendo. Como posso ajudá-las?

-Venha conosco, você precisa se tratar, precisa ir para o seu novo lar. Temos alguém encarregado de olhar pela sua família. Quando chegar o momento certo você poderá se comunicar com seus familiares através de sonhos, e poderá trazer mais paz para eles.

-Se é assim eu vou com vocês. Tudo que eu mais quero é ver a paz novamente reinando nessa casa e em mim.

Então os dois homens o abraçaram e levaram-no através do portal de luz.

Ali começou uma nova fase para Carlos, iria viver num novo plano. A princípio tudo era mistério para ele, mas aos poucos ele iria se habituar, com a ajuda de seus novos amigos, ao seu novo lar, onde iria aprender e evoluir muito.

FIM

Higor Santos
Enviado por Higor Santos em 07/05/2019
Código do texto: T6641167
Classificação de conteúdo: seguro