VALE DAS FLORES - CARTA IV

Carta IV

Tailândia, 14 de abril de 1958

"Juan,

Meu filho estou desesperada. Nossa pequena Eleonora sumiu! Não sei como isso aconteceu. Meu coração está angustiado até a morte e já não sei como serão os meus dias daqui pra frente. Não sabemos se foi algum soldado déspota que roubou nossa filha para recrutar, ou se abusou dela, mas seu pai e eu estamos sem dormir faz dois dias. Só nos alimentamos porque ou comemos o que temos ou morreremos de fome.

Ah filho meu. Estou cada dia que passa perdendo a vontade de viver. Já questionamos os guardas e todos os demais refugiados para saber se viram nossa filha, mas ninguém sabe dizer onde está. Que inferno de vida é essa?! Eu não tenho como me sustentar, seu pai chora todos os dias olhando para as mãos feridas da caça, lamentando o fracasso de não conseguir guardar sua pequena, mesmo lutando sempre pela sobrevivência da família. Nem ele nem eu podemos reanimar um ao outro. Todos os moradores já estão indo para o Vale das Flores por conta própria. Os soldados nos deixaram e foram para a linha de frente. Fome, frio e as feras fazem parte do nosso futuro. Suspeito de que exista um soldado rebelde no meio daqueles homens que capturou aquelas pessoas desaparecidas e sabe-se lá... não quero nem pensar se minha pequena estiver com eles. Os deuses a protejam!

Embora eu ainda espere noticias suas já não quero mais ficar aqui. Eu e seu pai passamos quatro dias fora do alojamento para procurar nossa filha. Entramos na floresta e nada. Logo agora que eu coloquei a primeira joia de umbigo na minha pequenina Eleonora. Ela ficava tão linda com aquela pedrinha. Agora... filho, prefiro morrer do que ficar sem minha filha por mais um dia.

Eu e seu pai ainda estamos procurando por ela. Não há mais ninguém aqui. E se estou repetindo é pra mostrar que estamos procurando por nossa filha sozinhos.

Copiando a frase daquele livro do Sun Tzu que você me falava, A Arte da Guerra, esvaziaremos as panelas de carne e só descansaremos quando encontrarmos nossa filha. Nossa joia. Nossa única esperança no futuro.

Não voltaremos mais ao alojamento abandonado. Daqui iremos para o Vale das Flores. Espero que Eleonora esteja lá.

Desculpe-me por só te passar essas notícias ruins, mas a guerra tem batido dos dois lados.

Você é forte. Faz de tudo pra salvar sua família. Volte o quanto antes, com vitoria ou derrota. Pra mim essa guerra já me venceu por ter perdido minha filhinha.

Entre feras, frio, fome e ameaça de ataque, só quero minha vida de volta.

Te amo muito filho.

Com amor,

Sua mãe Jadhina.”

Continua...

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 18/04/2019
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