VALE DAS FLORES - CARTA II
Carta II
Tailândia, 05 de fevereiro de 1958
"Juan,
Ainda não recebi sua resposta, imagino que seja pelo fato de que os emissários tenham mais dificuldades de enviar o que vocês nos escrevem do que entregar as nossas cartas para vocês. Anseio por noticiais suas e que sejam boas.
Infelizmente as minhas não são muito agradáveis.
Algumas coisas vieram acontecendo de uns tempos pra cá. Uma delas foi o desaparecimento de alguns refugiados. Na manhã seguinte de quando te enviei a primeira correspondência, uma barraca amanheceu sozinha. E isso ocorreu ontem de novo. Eram duas pessoas sem família e sem parentes, porém os soldados estão em busca deles.
Segundo, um pequeno rumor de um ataque que pode acontecer aqui no abrigo chegou até nós. Não sabemos se a notícia é verdadeira, mas quanto mais rápido vocês vencerem essa guerra, melhor para todos os lados, já que fica difícil viver normalmente com essa ameaça.
Sua irmãzinha mandou beijos e fez um desenho seu todo rabiscado com uniforme verde e uma arma na mão. Ficou engraçado e triste, já que ela não sabe o que realmente está acontecendo.
Seu pai ainda está na labuta diária para obter mantimento. Alguns soldados estão tendo que sair por causa da necessidade de recrutar mais homens. São tempos difíceis. Já chegamos a ficar um dia e meio sem ter nada pra comer.
Ainda não queremos ir para o Vale das Flores, pois lá é um lugar pior do que aqui, embora seja mais seguro. Creio que até final de abril as coisas podem melhorar.
A única coisa que me consola é escrever pra você aguardando uma resposta sua nem que seja dizendo: “Mamãe, estou bem”.
Sinto muito sua falta. Ao receber minha carta, não demore a responder, por favor.
Com amor,
Sua mãe Jadhina.”
Continua...