Piangere di Merle

14 de março de 1988, la estava eu, em um bar no centro de Londres onde bebia um bom whisky swing scotch e escutava o cantarolar de um sax que estava a tocar suas melodias juntamente com um piano e o bater das gotas de chuva no teto. Quando de repente, escuto a sineta do balcão a minha frente, por pura curiosidade eu me viro para ver quem a havia tocado, é nesse momento que minha atenção se vê prendida por uma dama de cabelos ruivos e sardas em seu rosto, olhos tao azuis quanto o mais profundo oceano e pele tao branca quanto porcelana, seu corpo parecia balançar ao ritmo do jazz e seu sorriso demonstrava uma fria felicidade incompreendida.

Enquanto meus ouvidos admiravam a música e minha boca degustava a bebida, eu me viro para a bela moça e digo - Olá! prazer, meu nome e Merle, e o seu? - Então, com um belo sorriso tímido e um olhar cativante ela se volta para mim e responde - Prazer, meu nome é Becky! - Eu, já encantado com seu ser, torno a perguntar - O que uma mulher como você faz num bar como esse à essa hora da noite? - Com uma voz doce que parece combinar com o jazz, ela me diz - Eu moro perto daqui, estava terminando um quadro e decidi vir aqui molhar a garganta - Admirado com o que ela acaba de me falar eu digo - Que surpresa! não se vê muitas pintoras hoje em dia. Eu poderia ver suas obras? - E então ela responde - Claro! Por que não!? Mas antes, por que não aproveitamos a musica e dançamos, é uma ótima maneira de terminar a noite! - Espanto! nunca esperaria que uma dama como essa me convidaria para dançar, ainda mais a um som lento e tranquilo como o jazz que estava a tocar. Eu então aceito sua proposta e a levo para o meio da pequena pista de dança. Ela coloca suas mãos em meu pescoço enquanto levo as minhas pela sua cintura, ela chega mais perto e aproveita o ritmo, a musica fazia parte dela! O seu balançar era hipnotizante, aposto que ela percebeu minha expressão de pura admiração pela sua beleza e pelo seu corpo, nada mais passava em minha cabeça a não ser aquele momento. O ritmo acelera, e ela vira de costas para mim, seu corpo me seduz cada vez mais e mais, aquele momento parecia eterno e eu queria que fosse! Antes que a musica acabasse, ela se achega próximo ao meu ouvido e diz - Vamos para minha casa, lhe mostrarei minhas obras! - E depois de ter dito isso ela me sorri, sorrio de volta e aceno com a cabeça dizendo sim. Ela me leva pela mão ate a porta do bar, pega seu casaco que estava pendurado e seguimos a pé em baixo de chuva ate sua casa.

Chegando la, ela me faz sentar em seu sofá, me oferece uma chicara de chá e eu aceito. Seu apartamento ficava no vigésimo andar, sua sacada dava uma visão esplendida da cidade toda! De la se via todas as luzes, pessoas, prédios, casas, bares, tudo que se possa imaginar. Ela senta do meu lado e pergunta - Onde você mora Merle? Mora com alguém? - Eu então respondo - Moro mais ao centro da cidade, meus pais faleceram a um ano então vivo sozinho em meu apartamento. - Ela pareceu se comover com minha situação, e como forma de tirar minha atenção do ocorrido ela me pergunta - Aceita um vinho? - Eu aceito de bom grado.

As horas se passam, a conversa flui - Ela parece estar gostando de mim ou estou tao bêbado que estou imaginando coisa? - Eu me pergunto. Ela me beija sem ao menos eu esperar sanando minha duvida, ela me leva ate seu quarto, me empurra em sua cama transformando uma simples noite rotineira em uma noite inesquecível.

Amanhece, esta um clima frio. Olho para o lado e vejo apenas um travesseiro vazio e uma pilha de roupas, sinto cheiro de torradas e cafe, me levanto, coloco minhas roupas e vou ate a cozinha. Ao me ver ela diz com um sorriso palido - Bom dia! - E eu a digo - Perdao por dormir demais, a noite foi longa! - Ela esboça um pequeno sorriso timido para minha resposta. - Tem cafe e torradas, espero que goste! - Ela me diz! - Eu adoraria ficar mas tenho que ir! - Ela insiste para eu ficar, para pelo menos tomar um simples cafe com ela, sua voz doce me faz ficar, alias, e o minimo que eu poderia fazer por uma noite tao espetacular proporcionada a mim. Apos conversarmos enquanto tomavamos o cafe, eu a pergunto sobre suas obras, logo ela se mostra animada para me mostrar. Ela me leva ate um comodo com forte hodor a tinta e pouca iluminaçao - Como ela consegue passar tanto tempo num lugar como esse? - Penso comigo. Ela me apresenta suas pinturas, uma mais estranhamente bela e unica que a outra! Todos os seus quadros havia como foco principal pessoas, pessoas com olhares morbidos e roupas de pura elegancia, sempre palidas e cores escuras, tudo aquilo me causou uma certa estranheza que me fez querer sair daquele comodo umido. Eu elogio suas obras, mostro interesse por elas, falso interesse, aquelas pinturas me traziam um sentimento o qual nao queria sentir novamente. Quando começo a me direcionar a porta daquele quarto ela fecha a porta, olho para suas maos e nelas estavam uma paleta de cores, as mesmas cores usadas em todas as pinturas e um pincel. Em seguida ela sorri para mim e pergunta - Posso te usar como modelo? Você é perfeito para o meu proximo trabalho! - Eu meio envergonhado com sua proposta respondo com um gagueijo - Claro, adoraria- Nunca havia feito algo assim na vida, mas, que mal a nisso?

Ela me leva ate uma cadeira, me entrega uma cartola e uma bengala, sentasse atras de sua tela e começa a pintar, se passa alguns minutos, por algum motivo começo a sentir meus labios formigarem, minha visao começa ficar turva e sinto meu corpo enfraquecer - O que esta havendo comigo? - A pergunto com uma voz de desespero e confusao, ela de tras de sua tela sorri e me responde - É apenas... Arte Merle! - Enquanto minha mente se enche de confusao eu começo a cair da cadeira, e enquanto deslizo lentamente por ela, Becky levanta de seu lugar e vem ate mim, fazendo gestos e sons com sua boca parecendo querer acalmar uma criança chorona. Quando ela chega perto de mim eu lhe pergunto - O que voce fez? - Ela me olha como se desejasse me seduzir, e me responde ao pe do ouvido - Nada demais, apenas te transformei na minha melhor obra! - Aquilo me causa desespero, medo, confusao. - O que esta acontecendo Becky? - Ela torna a me responder - Precisava de alguem para me inspirar, e sua elegancia e beleza me conquistaram - Enquanto minha respiraçao se tornava pesada, ela me colocavava sentado ao pe da cadeira, com o pincel que estava em sua mao, ela o crava em meu peito parecendo ser um gesto de misericordia, como se quisesse acabar com meu sofrimento.

Apos o ultimo suspiro sair de mim, ela coloca meu corpo sentado na cadeira novamente, veste a cartola e cruzas as maos de um cadaver sobre uma bengala velha. Ela começa a pintar aquela cena, começa a retratar o olhar morbido, o mesmo olhar de suas pinturas anteriores estava ali, as mesmas cores, o mesmo sentimento, a mesma solidao. Ela finaliza seu quadro, larga o seu pincel banhado em sangue e tinta, e acompanhado de um suspiro ela diz - Voce se chamará Piangere di Merle!

FIM.

Odini
Enviado por Odini em 15/04/2019
Código do texto: T6624460
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.