O TEMPO É QUEM MANDA CAP. 5
Capitulo 5
Na hora do almoço os grupos começaram a voltar pra escola. Um grupo do ensino médio, formado por Eleô, encontrou uma senhora idosa em sua casa, sentada na sua cadeira de rodas quase desmaiada de fome. Ela estava sozinha. A filha cuidava dela mas tinha saído pra trabalhar e não voltara. A velha começou a gritar assim que viu os rapazes. embora fraca ainda conseguiu ser ouvida. Era obesa e a cadeira de rodas estava quebrada. Morava num lugar alto. Com dezessete degraus e a escada de acesso estava aos pedaços. Os meninos subiram e deram alguns biscoitos que tinham pegado num supermercado. A velha comeu tão rápido que engasgou. Deram lhe água e ela se recuperou. Continuou comendo, mais devagar, pois foram lhe dando um biscoito de cada vez. Assim que se acalmou e ficou satisfeita com o biscoito revelou que era a mãe do Tonhão e perguntou se tínhamos visto o filho.
_Não o vimos, mas vamos cuidar da senhora. Estamos na escola de ensino fundamental e médio. É uma situação diferente então não se preocupe que estamos trabalhando pra tudo voltar ao normal. - A velha surpreendeu a todos quando disse:
_Eu sei que o tempo parou. O Antonio está fazendo de tudo pra corrigir a besteira que ele fez. Sim porque só pode ser ele que fez isso. Mas ele vai conseguir podem confiar. Só que ele sumiu e me deixou aqui sozinha. Acho que pensa que a Penha ta aqui comigo. Se vocês verem meu filho, avisa que eu to sozinha aqui.
_Vamos voltar pra escola e voltar com ajuda pra tirar a senhora daqui.
_Eu fico aqui pessoal. Dona Emê não pode ficar sozinha aqui.
_Que bom meu filho. Deus lhe pague. Pega meu remédio da diabetes que ta na mesinha de cabeceira do meu quarto. Desde que fiquei sozinha não consegui tomar.
_Ok! Podem ir pessoas.
_Ok! vamos indo então. Tchau.
_Tchau, Bicudo.
_Tchau, Eleô.
_Vamos embora rapazes. Temos que voltar aqui depois.
_Certo, Tadeu. A gente volta logo, ta?
_Tudo certo, amiguinhos. Podem ir. Vai ficar tudo bem.
Os rapazes desceram as escadas com cuidado e voltaram logo pra escola. Sabiam que já estava na hora do almoço e teriam mais gente pra ajudar no resgate da dona Emê.
Antes de almoçar, conversaram com o Papa Leopoldo, que organizou uma expedição de resgate a dona Emê, digna de filmes de ação. Cordas e roldanas foram instaladas na casa da mulher. Uma equipe aguardava em baixo e a outra descia a cadeira. Junto a cadeira ,preso pela cintura estava um dos garotos da turma da casa do Joca. Segurando dona Emê pra firmá-la na cadeira. Cordas machucariam a pele sensível da velha.
Já no chão, a cadeira de rodas da mulher foi colocada sobre um carrinho com rodinhas improvisado, com quatro patins amarrados. Quatro alunos iam empurrando a cadeira morro acima até chegar na rua. Na frente da expedição, Papa Leopoldo guiava os passos de cada um. Tudo muito organizado e logo estavam de volta a escola onde mama Natalina havia feito uma comida especial pra diabéticos. Conhecia dona Emê e sabia de seus problemas de saúde. Quando a idosa chegou comeu calmamente uma refeição maravilhosa e bem suave no tempero.
A tarde chegou sem novidades. Todos haviam chegado de volta de suas excursões pela cidade. Preparavam-se pra contagem quando se deram conta de que o Resma ainda não havia voltado. Murylo e Marcelly não tocaram no nome dele mas estavam preocupados. Todos jantaram e se acomodaram para o descanso da "Noite".
Depois de uma hora que todos haviam se deitado, e ao se certificarem de que todos dormiam profundamente, Professor e aluna saíram atrás do Resma. Encontraram o endereço no arquivo da escola e partiram pra la.
A casa dele parecia em total silêncio. Não poderiam chamar a atenção dos pais dele por isso tentaram ver pela janela do quarto dele. Resma não estava la. Cantaram a música da escola, canção de escoteiros e nada funcionou.
_Marcelly, será que você consegue pular a janela do quarto dele se eu te apoiar?
_Moleza!
Murylo juntou as mãos com as palmas pra cima. Ela pisou as palmas das mãos dele e foi içada pra cima, até que alcançou a janela. Entrou e logo depois voltou e pos as pernas de volta pra procurar o apoio. Descer foi mais fácil do que subir. Acabou no colo do professor.
_Obrigada!
_Ok e daí me conta o que encontrou la dentro.
_Ta tudo revirado no quarto dele. Parece que alguém quebrou o pc dele com violência.
_Mas e ele nada?
_Não. Só a mãe na sala dormindo.
_Dormindo?
_Sim.
_Será que aconteceu alguma coisa com ele?
_Vamos procurar por ele na cidade.
_Procurar onde? murylo estava visivelmente chateado com o sumiço do menino.
_Murylo, não fique assim. Ele é um moleque safo. Deve ta por aí. Que tal a gente procurar no laboratório do Tonhão?
_Boa, se ele não achou nada aqui deve ter ido em busca de respostas.
_A gente precisa descansar.
_Lá a gente descansa um pouco.
E foram caminhando silenciosos até a subida do morro das pedras. Quando uma coisa chamou a atenção dos dois. Uma luz muito forte clareou o morro e depois escureceu tudo.
_Jesus Cristo! O que foi isto?
E subiram correndo. Chegando lá encontraram Ricardo sentado no chão rindo muito. A princípio ficaram com medo dele estar preso mas ele falou:
_Entra gente. E continuou a rir. Murylo pensou em dar umas bifas no Resma mas aguentou a vontade e perguntou:
_O que aconteceu na sua casa? Ficamos preocupados. Achamos que alguém tinha atacado você.
Não aconteceu nada. É que aquele pc pifou bem na hora em que eu tava conseguindo ver o que eu tava procurando. Fiquei tão zangado que quebrei tudo. Resolvi procurar o Tonhão e ver o que estava acontecendo.
_ O que aconteceu aqui?
Resma respondeu ficando de pé:
_O Tonhão tentou ligar a máquina mais uma vez.
_E cadê o Tonhão?
_To aqui, pessoal.
Encostado na pia ele olhava a desordem local e a máquina com o vidro quebrado.
_Tudo bem Tonhão?
_Tudo ok pequena!
Tonhão chamava todas as meninas de pequena. Não por causa do tamanho, mas porque era assim que chamavam as namoradas no seu tempo de namoro. Agora tava com uns cinquenta anos e era solteiro mas todas as garotas eram uma "pequena" em potencial.
_Tudo perdido Tonhão?
_Nem tanto Murylo! Tenho um estoque de peças ali atrás pra substituir em caso de acidentes como esse.
_ É uma máquina do tempo?
_Como vocês sabem disso? Aquele linguarudo contou né? Onde está ele?
_Ta dormindo na escola. Disse apenas que viu um brilho aqui em cima e lembrou de suas pesquisas. Você não pode condená-los. Sabia que estamos todos presos numa brecha do tempo graças a estas suas pesquisas?
_Em? Verdade mesmo? Quem mais ta preso?
_A cidade toda Tonhão. Achei que você soubesse.
_Podia ter me contado quando chegou aqui Ricardo.
_..??
_Deixa que eu falo, Ricardo. Você tem medo de explodir com o planeta ou de morrer de calor por causa do efeito estufa e por isso nos condenou a todos a viver assim. Sem nossos pais e amigos. Na escola temos mais de 30 crianças e cinco adultos isolados do mundo. Inclusive sua mãe que foi abandonada sozinha em casa.
_Mas minha irmã está la com ela.
_Não, não voltou pra casa. Deve estar presa na sua última ação como quase todos os adultos dessa cidade.
_Droga, não pensei que os outros estavam assim. Não sabia, eu juro! Como está minha mãe?
_Ela é forte e vai sobreviver.
_O que eu fiz meu Deus!
_Brincou de Deus.
_Olha Murylo, não me condena. Não sabia que essa máquina era tão poderosa!
_Mas é , você nos colocou numa fria cara.
_Desculpa meu. Vou consertar isso.
_Como vai fazer isso?
_Essa máquina, Resma, é uma máquina feita pra viajar no tempo. Os ajustes que fiz nela, porém levaria o tempo a parar pra que a gente não ficasse a mercê das coisas que estão por acontecer neste planeta. Vocês notaram, é claro que estamos tendo calores insuportáveis. Há maremotos, terremotos e tsunamis aos montes por aí. Os países estão preocupados mas não o bastante pra conseguir frear os erros das pessoas.
Pensei em parar o tempo. Assim as pessoas poderiam continuar a fazer besteiras sem nos prejudicar. Mas cada vez que tento fazer a máquina funcionar acontece uma coisa errada. A primeira vez saiu uma fumaça doida que me fez regressar uns dez anos no tempo. Ainda bem que sou velho o suficiente pra saber dessas pesquisas e por isso consegui voltar. Ela era cor de rosa porque a cortina da sala entrou com uma ventania dentro da máquina.
_Espera aí, se uma criança de dez anos entrou nessa nuvem o que lhe aconteceu? - perguntou Marcelly lembrando do Pedrinho e da Mariana.
_Pode ter voltado pra barriga da mãe ou desaparecido.
_Nãoooo!!!
Marcelly não aguentou a informação e desmaiou. Murylo amparou a aluna e a deitou num sofá.
_Essa foi muito forte pra ela. Você tem álcool aí?
_Sim. Ali ó. E apontou pra uma estante de aço.
Murylo passou álcool nos pulsos da menina e a fez cheirar um pouco suas mãos. Ela foi voltando a si devagar.
_Diz que é mentira! Que o Pedrinho e a Mariana não existem mais, diz!
_Calma Pequena! Eles voltam assim que eu regular essa geringonça.
_Tem certeza?
_Quase certeza. É só uma questão de lógica. Assim como eu fui e voltei ao passado e futuro várias vezes eles também devem voltar a essa época.
_Espero que sim. Assim como eles muitos devem ter entrado naquela nuvem rosa dos infernos. E que cheiro era aquele?
_Era o cheiro da cortina. Inventei uma cortina com cheirinho de chicletes.
_Você é doido! As crianças veem aquela nuvem rosa e sentem o cheiro de chicletes e caem na armadilha. Entendeu o quer que eu desenhe?
_Verdade. Não tinha pensado nisto. Mas não se preocupe, vou regular essa máquina para voltarmos no tempo até a hora em que tudo começou a acontecer. Melhor ainda antes de eu ter regulado a máquina pra todos.
_Demora?
_Tenho que consertar ela de novo. Isso leva um dia inteiro se as peças estiverem aqui.
_Tomara que estejam. Murylo, vamos voltar pra escola? To cansada. Você fica, Resma?
_Sim eu fico para o caso do Tonhão precisar de alguma coisa.
_Pessoal, será que eu posso ir com vocês e descansar na escola?Quero ver minha mãe. Eu não durmo ha muito tempo. Cabeça descansada rende mais.
_Verdade, venha conosco e amanhã a gente volta os quatro com você.
_Quatro?
_Sim, O Basto será de mais ajuda que nós três.
_Sim aquele linguarudo sabe tudo que eu preciso e onde consigo.
Voltaram pra escola e encontraram todos dormindo. Tonhão deitou no chão, perto da mãe. Ela dormia numa cama improvisada na biblioteca e ele não acordou-a.
continua...