O TEMPO É QUEM MANDA cap 2
Capítulo 2
A turma começou a chorar em silêncio. Ninguém dizia nada. Apenas observavam tudo ao redor como a Marcelly sugerira antes. De repente um cachorrinho começou a latir ruidosamente sem parar. Era o cãozinho do mendigo da praça que estava fora dali. Mas o bichinho ficou dormindo. Pedrinho olhou para o cãozinho para o repreender e o que viu chamou sua atenção. Era uma nuvem rosa sobre a igreja. Ela parecia baixar um pouco cada vez que olhava pra ela. Começou a apontar para a nuven e puxar a manga da camisa do Joel sem dizer nada. Joel deu um pulo e todos olharam para a nuvem ao mesmo tempo.
_Eu em, o que é aquilo, gente?
_Parece uma nuvem de meninas.
_Bobagem essa coisa de dizer que rosa é de meninas Teresinha! Parece mesmo é que alguém andou queimando alguma coisa colorida.
_Não parece uma nuvem de fumaça, Marcelly.
_E é o que então Pedrinho?
_Tem cheiro de chicletes!
_Verdade, estou sentindo um cheiro de chicletes, Marcelly!
_Eu também. Mas cuidado! Pode ser uma armadilha.
_Que armadilha o quê! Deve ter uma porção de chicletes lá dentro. E partiu rumo a nuvem correndo. Marcelly só teve tempo de segurar a Terezinha e o Joel pelo braço e gritar bem alto:
_Nãããooo!!!!
Mas era tarde demais. O Pedrinho entrou na nuvem com tudo, desaparecendo dentro dela.
_Porque não posso ir também?
_Calma Joel! Observe o Pedrinho primeiro!
_Eu quero ir. Deve ter doce la dentro. O Pedrinho não voltou.
_Não voltou porque deve estar preso no tempo também.
_Ah meu Deus! Pedrinhooooo!
_Pedrinhooo!
_Não adianta chamar, gente. Ele já entrou na nuvem. Vamos combinar uma coisa: De agora em diante qualquer movimento que a gente tiver que fazer vamos falar com os outros antes? Se ver algo estranho conta antes de tomar qualquer atitude como a que o Pedrinho tomou. Ta?
_Ok! Eu concordo. Se o Pedrinho tivesse perguntado antes não estaria na nuvem agora.
_Eu também.
_Sim Terê, mas eu acho que ele pode estar em algun lugar da praça agora e logo que a nuvem se for a gente vai vê-lo.
Sentaram no bando da praça e puseram se a pensar e observar tudo a sua volta. Marcelly lembrou de algo que ainda não tinham pensado e falou:
_Gente, Porque aqui na praça, só o seu Agnaldo ficou preso no tempo. Nem as crianças e nem os animais.
_Verdade. Não tinha pensado nisto.
_É... porquê será?
_Será que as outras crianças da cidade também ficaram livres como nós?
_A gente podia ver se elas estão livres. E já ameaçava ir procurar alguma criança quando a Marcelly impediu segurando seu braço.
_Espera! E se só na praça a gente tá livre! E se for um campo especial cercado de alguma energia boa infantil. É melhor esperar um pouco.
Os animais brincavam como sempre. Totó, o cãozinho do Pedrinho correu pra fora da praça atrás do gato Siamês da Magaly. Foi um pega até engraçado. A turma riu a valer e até esqueceu, por um momento, das suas preocupações.
O cãozinho vira lata subiu e desceu dos bancos atrás do gatinho e depois segui-o quando ele atravessou a rua. Entraram na casa da Magaly e saíram várias vezes até o cão se cansar e voltar a praça, deitando na grama.
Passaram mais de dez minutos até que a Marcelly disse:
_Se eles conseguiram sair e voltar a gente também consegue. Temos que fazer um teste. Alguém vai e volta.
_Ei! Eu fui na minha casa e voltei lembra?
_Verdade! Podemos sair daqui. Vamos em busca de outras crianças. Mas antes de sairmos ouçam: Ninguém fala com as outras crianças até que elas falem com a gente tá? Porque se ela falar com a gente é porque não está presa no tempo. Se a gente tentar falar com elas vai acontecer o que aconteceu com a Lucy. Entenderam?
_Ta certa! Nossa eu não tinha pensado nisso!
_Nem eu Joel! Credo a gente tem q pensar em tudo. Marcelly pelo amor de Deus toma cuidado! O que a gente vai fazer sem você?
_Bobagem Terezinha! A gente ta junto. E vamos resolver esse mistério. Vamos lá! Vamos procurar alguém mais que esteja livre.
E saíram andando juntos de mãos dadas para evitar que algum se extraviasse dos outros distraídos com qualquer coisa. Quando um avistava uma criança avisava aos outros.
_Vejam, é a Derma! Vamos nos aproximar dela devagar. E observar.
Chegaram perto da Dermalina, a filha mais nova do Alfaiate aposentado. Muito extrovertida ela sempre falava pelos cotovelos. Certamente falaria com eles assim que os visse. Mas ela olhou pra eles e fixou o olhar parada como se olhasse através deles. De repente ela arriscou falar. Vocês estão bem ou viraram zumbis também?
Foi um alívio geral. Abraçaram se aos risos e lágrimas. Tinham mais um pra se apoiar.
_poxa gente que bom encontrar vocês. Eu e o Juba já estávamos ficando doidos.
_O Juba também que legal! Cadê ele?
_Foi procurar o Tadeu. Mas a gente ta com medo porque o Juca foi falar com o Dedéu e os dois agora tão lá fazendo os mesmos gestos ha muito tempo. Meu celular apagou e eu to sem saber que horas são agora.
_Ninguém tem como saber. Os celulares digitais são perigosos. Melhor não tentar comunicação com ninguém. Mas para todos os efeitos a hora é a mesma desde que isto começou, ou seja, são 5 e 40. tinha dez minutos que tinha começado a Malhação.
_Nossa Marcelly como você consegue ser esperta assim? Eu tava olhando a hora no celular. Mas a última vez que olhei era exatamente essa a hora. E nem percebi que ele tava parado também.
Marcelly e o Joel se apressaram a olhar seus celulares mas o celular marcava exatamente a mesma hora também. O tempo estava parado também no celular.
_Verdade! E agora temos que continuar tentando achar mais alguém.
_Olha, nós andamos por aí e não encontramos ninguém. Talvez estejam em casa assistindo a Malhação.
_Não acredito nisso porque se fosse isso já teriam notado que a tv parou e teriam saído de casa pra ver o que estava acontecendo. Mas vamos olhar dentro das casas e ver quem achamos livre.
Saíram de mãos dadas e foram olhando dentro de cada casa que estivesse com a porta fechada.
_Não podemos chamar ninguém por isso vamos cantar uma canção pra atrair a atenção de quem estiver livre?
_Boa ideia!
_Amei!
_To dentro! Assim a gente atrai também o Juba que deve ta por aí. Que tal cantar o hino da escola?
_Tá doido! Aquele hino horroroso que todo mundo odeia?
_Esse mesmo. Já que todo mundo odeia seria estranho andarmos cantando pela rua. E todos que estivessem livre íam querer saber quem é o babaca que ta cantando.
_Pode funcionar!
_Beleza Marcelly! Quem mais topa?
_Eu topo, Joel.
_Eu também, pessoal.
E começaram a cantar o hino, feito na gincana do ano passado, e que todos juraram que foi marmelada ganhar.
_" A gigante , empedernida e feliz,
Escola querida e gentil
que ensina a gente pela vida
a amar e proteger o Brasil..."
_Urgh. Não dá pra parar não?
_Canta Joel! - disseram em uníssono! E deram uma gargalhada.
Foram cantando até a esquina da padaria onde parara e ficaram rindo da dona Margarida, professora de Latin que tentava ha muitos anos formar uma turma na cidade. Ela levava a xícara na boca e mordia um pedaço do sanduba devagar. Mastigava muito o tal sanduba e molhava o bolo alimentar com o café na boca e exatamente em cinco minutos começava tudo exatamente de novo. Só que parece que o pão da dona margarida não obedeceu ao tempo e acabou. Mas ela continuava a mastigar sem ele. E foi nesse momento que avistaram um menino correndo da rua de baixo em direção a eles. Era o Basto. Sebastião de batismo, mas que odiava esse nome e a turma o chamava assim a pedido dele. Quase caiu ao subir a escadaria olhando pra cima e quando chegou estava num choro convulsivo. Ele estava meio depressivo e andava a esmo desde que isso começou. Ao ouvir o hino da escola concluiu que não estava sozinho e, morrendo de medo de não conseguir alcançar quem estava cantando, correu até quase perder o fôlego.
_Jesus encontrei vocês, que bom... Ai meu ... Deus! Af Af.
_Calma menino! Respira !
_Eu to bem Marcelly só corri demais.
E entre abraços de alegria da turma, contaram uns para os outros suas experiências. Logo depois saíram como uma corrente de mãos dadas cantando aquele hino pavoroso.
No caminho viram crianças sentadas na calçada presas também. Entenderam que estavam presas porque estavam usando o celular.
_Certamente tentaram ligar pra alguém preso. Marcelly falou mais pra si do que para os outros que anuíram.
Ao passarem na rua da escola houve um acréscimo no hino. Saíram de dentro da escola cantando o mesmo hino e chorando, mais de vinte crianças. Foi uma cena muito emocionante de se ver. Ficaram muito felizes. Mais feliz ficou a Marcelly quando descobriu que o professor de música, o Murylo não estava preso. Eles se entendiam muito com o olhar apenas. Andou até tendo um bochicho na escola de que pintou um clima entre eles. Ao ver o professor, ela correu ao seu encontro e os dois se abraçaram entre lágrimas. Marcelly tinha 14 anos. Ficava brincando com as crianças na praça porque adorava aprender novas brincadeiras infantis. Esse era o tema preferido dela e pretendia um dia fazer um catálogo folclórico com todas que conseguisse encontrar.
_Bom pessoal, que bom que vocês também estão livres desse problema. Acredito que é passageiro. Andei investigando as causas e acho que podemos resolvê-lo. Entrem para a escola. Por enquanto será nossa casa. Aqui terão comida e abrigo. Não prometo conforto mas juntos resolveremos mais rápido esse enigma e poderemos voltar para casa. nâo é seguro voltarem pra casa. Qualquer comunicação com os Prisioneiros de tempo pode significar prisão também.
Por incrível que possa parecer ao leitor, as crianças e adolescentes que se salvaram era na sua maioria os nerds da escola. Com algumas exceções que mais tarde se explicarão, esses alunos eram absolutamente capazes de fazer coisas grandiosas. Murylo explicou pra turma tudo que andou pesquisando e como deviam se comportar mas acabou descobrindo que a Marcelly também tinha tirado suas próprias conclusões e ficou ainda mais orgulhoso da menina.
_Pessoal, cada sala de aula tem uma placa na porta com seleção do sexo que a ocupa, pro caso de precisarem ir ao banheiro a noite. Mantenham as lâmpadas acesas. Acompanhem seus colegas, recolham-se e descansem porque na verdade pelas minhas contas já deve passar das 11 horas da noite. Amanhã, ou seja daqui a 8 horas chamo vocês para que a gente acorde e se alimente para o dia que virá.
Cada um acompanhou um grupo de alunos do ensino médio e se recolheu as salas de aula. Lá havia colchonetes que foram comprados pela escola para o acampamento de verão. Estava no final do verão e o calor reinava por isso não precisaram de cobertas. Jorge, um dos colegas explicou que o Murylo tinha um relógio de braço que estava funcionando normal. Acho que eles não foram atingidos por esse problema. Pena que quase ninguém usa relógios hoje em dia. Dormiram até o dia seguinte e foram acordados as 8 horas. A sineta da escola tocou estridente acordando todo mundo.
Continua...