QUEM MATOU O MORDOMO?
A mansão era muito requintada, o luxo era uma evidência, alí moravam vários membros de uma mesma família, poucos tinham uma atividade decente, ou seja, trabalhavam honestamente. A "boa vida" reinava nesse suntuoso espaço residencial coletivo, festas eram uma constante nos finais de semana, convidados e mais convidados entravam e saíam ostentando seus belíssimos carros importados, as mulheres mostravam ostensivamente suas jóias e vestimentas, bêbados chegavam a cair pelos corredores e alí mesmo dormiam, uma vergonha. Os donos daquele império já eram idosos e não tinham condições morais para evitar que fatos assim acontecessem, preferiam se trancar no quarto e deixarem a algazarra rolar solta. O pobre do mordomo não tinha sossego e nem dormia direito, só não pedia demissão para não perder a boquinha do ótimo salário.
Salomão era o filho mais velho, morava alí com a mulher e dois filhos menores, trabalhar que é bom, nada, vivia às custas do velho e seu "hobby" era viajar para a Europa. Tito, encostado a ele, tinha uma namorada e alí viviam, gostava da farra, mas tinha um trabalho, era dono de uma loja na cidade e nela estava sempre de frente. Lia, menina mimada, a única mulher entre os irmãos, detestava festas, quando não se trancava no seu quarto saía para a casa de alguma amiga ou ia se encontrar com o namorado, tinha o apoio de Fred, o mordomo. Hermes era o mais novo, fazia faculdade, seu único problema era o vício na cocaína, procurava esconder mas todos sabiam, bebia mais do que todo mundo.
Certa noite de uma sexta-feira o mordomo abriu a porta para um amigo de Hermes, ele viera trazer uma encomenda para ele, encomenda essa que Fred já sabia do que se tratava e não gostava, mas infelizmente tinha que cumprir ordens, nada podia fazer e nem reclamar das gozações do amigo do filho do seu patrão. O rapaz foi direto para o quarto do amigo e lá permaneceu até altas horas. Salomão chegou em seguida, embriagado, deu um tapa sem motivo no mordomo e ficou rindo. Fred teve vontade de reagir, mas se conteve, evitaria problemas já que seu ofensor andava armado. Tito saiu do quarto nesse momento e viu o final da cena, olhou com desprezo para o mordomo e o ameaçou de demissão, até que seria bom, pensou Fred. Era outro que não topava com a cara dele, mas afinal o seu salário era muito bem vindo e agüentava enquanto podia.
No sábado ia ter mais uma festa, muitos convidados estariam presentes, o dia de folga do mordomo foi requisitado a pedido do patrão, totalmente dominado pelos filhos. Quando chegou a hora os primeiros convidados começaram a chegar, Fred tinha obrigação de recebê-los, porém um deles lhe chamou a atenção, era um penetra que aproveitou uma ocasião para se infiltrar e tentar passar despercebido. Foi abordado e posto para fora, apesar de dizer que conhecia Hermes. Este não gostou da atitude do mordomo e disse que ia se comunicar com o suposto amigo.
Manhã de domingo, bebida ainda rolando solta, convidados dormindo dentro de carros e em bancos do jardim, outros bêbados falando asneiras pelo corredor. No quarto Hermes abria os olhos e esfregava-os com insistência, estava sob o efeito de drogas. Lia, já arrumada, deixou o quarto e foi para a sala de refeições para o café da manhã. As empregadas já estavam a sua espera, só estranharam a ausência de Fred, que costumeiramente alí estava todos os dias. Nesse momento entrou no recinto uma terceira empregada aos gritos e de olhos arregalados, dizia que Fred estava morto no banheiro, uma faca estava cravada em seu peito.
Afobação geral, todos correram para se inteirar do fato, o motivo e o autor do crime eram desconhecidos.