O Esquartejador (Nono Capítulo)
O tempo passou e o assunto Patrícia sumiu das bocas e das rodinhas de fofoca do escritório. Mais ninguém ousava ao menos pronunciar tal nome. Se ela sumiu, o problema era da família e posteriormente das autoridades competentes. Não havia nada a fazer, e eu em meu lugar só esperaria, com certa cautela, pois fui o responsável pelo sumiço do corpo, entretanto, não tenho participação alguma com seu triste fim.
Ruan veio falar comigo. Vestia uma camisa rosa e gravata de um tom mais escuro, suas bochechas estavam vermelhas e seu andar engraçado.
- Tudo bem parceiro? – Perguntou ele enquanto me dava um leve tapinha nas costas, algo que eu detestava.
- Sim, estou ótimo! A folga me fez bem, estava precisando, o serviço anda meio puxado, como pode perceber. – Falei, mostrando a correria dentro do escritório.
Ruan olhou, fez cara de estar pouco ligando para a situação.
- Tem razão Fabiano. – Ele disse por fim. O vi se afastar e levar toda aquela banha nojenta para longe de mim.
Fiquei ali no meu lugar, com meu computador, minhas coisas. De longe a Katia me deu um oi e eu retribui o gesto. A gostosa da Rose me deu uma piscada bem safada seguida por um sorriso que me fez por pouco não cair da cadeira. Tudo ia bem, até o doutor Bernardo surgir ao lado de dois homens desconhecidos por mim.
Os três caminhavam lado a lado e pareciam vir em minha direção. A mão começou a suar e o coração a bater um tanto quanto confuso. Tremi. Senti a mão de o velho encostar-se a meu ombro:
- Oi Fabiano! Quero lhe apresentar os senhores Duílio e o doutor Saavedra. - O primeiro era alto e gordo, a barriga cobria a cinta que segurava a calça, o outro era o oposto. – Eles são investigadores de polícia e vieram até aqui para te fazer algumas perguntas.
Fudeu! Lasquei-me! Estou frito! Vou ser preso! Não poderia demonstrar o mínimo sinal de nervosismo. A voz deveria ser firme e as minhas respostas tinham de passar o máximo de confiança possível, e o meu álibi precisava ser o melhor dos melhores.
- Podemos conversar em particular? - Questionou um deles, o mais magro.
- Claro!
Levantei-me e apontei para uma das varias salas ao redor do escritório. Fui à frente e os dois me seguiam. Notei o olhar de julgamento de ambos para mim, o jeito como me encaravam me dava medo. Já na pequena sala composta por uma mesa redonda, cadeiras almofadadas, um telão que era usado eventualmente para chamadas de vídeo conferência. Convidei-os a sentar e lhes ofereci café de uma maquina presa na parede perto da porta.
- Bem. – Os dois me olhavam mais ainda.
- Muito bem- Disse um deles, o sorriso sarcástico no rosto e os olhos injetados de cólera a me observar como uma presa fácil. – O seu nome é Fabiano Batista, correto?
- Sim senhor.
- Tem 26 anos, nasceu na Bahia, e atualmente mora...
- Tatuapé. - Completei.
- Isso mesmo. - Complementou.
Enquanto o Duílio me perguntava, o Saavedra parecia estar no mundo da lua. Ele olhava insistentemente para o teto e batia com os dedos na mesa, e isso me irritava, mas era obvio que eu não podia demonstrar.
- Como e quando o senhor conheceu a senhorita Patrícia Andrade?
- Ela trabalhava aqui.
- Alguma vez conversou com ela, dentro ou fora do ambiente de trabalho?
- Aqui quase todos os dias, pois sempre trocamos informações uns com os outros, isso é normal por aqui.
- Entendi.
- É verdade que o senhor deu uma festa em seu apartamento e que a senhorita Patrícia era uma das convidadas?
- Dei sim, e além dela estavam também outros colegas da firma, só o doutor Bernardo que não.
- A festa tinha algum objetivo? Era seu aniversário?
- Não. Faço aniversário em outubro, dia quatro.
Ok! Todas essas pessoas aí fora participaram da sua festa?
- Todas. Menos aquela moça ali. – Falei apontando para a secretária nova, uma jovem de cabelos loiros e corpo roliço, seu nome era Helen.
- Correto. Você suspeita do que pode ter acontecido? Se ela tinha algum relacionamento? Consta aqui nos autos que ela havia terminado um namoro poucas semanas de seu desaparecimento. Alguma vez o senhor ouviu ou viu alguém aqui do escritório mencionar algo a respeito?
Parei para pensar. Então respondi.
- Sinceramente não. Chego aqui, faço meu serviço, pego meu carro e vou pra casa. Às vezes convido o Ruan, meu melhor amigo para irmos a um bar aqui perto, pra tomar uma gelada, porém, ele nunca sequer tratou de um assunto parecido com esse.
Os dois me olhavam, provavelmente suspeitando de algo, e esse era naquele momento o meu maior receio. Meu temor cessou quando o Duílio se levantou me estendeu a mão e me disse:
- Obrigado pelos esclarecimentos senhor Fabiano. Se precisar nós sabemos aonde encontrar o senhor.
- Tudo bem, estou à disposição. – Falei, com vontade de fugir o mais depressa possível daquela sala.
Os dois saíram. O Saavedra sem dar tchau, foda-se ele. Não preciso de machos nojentos e muito menos de dois policiais babacas me bajulando. Foi sair da sala para o Ruan vir em minha direção.
- E aí o que eles queriam? – Questionou.
- Me interrogar. A Patrícia sumiu no dia que eu dei aquela festa.
De repente o Ruan começou a tremer, sua voz ficou diferente, parecia estar com a língua pesada, pois sua voz saia um tanto quanto estranha de sua garganta.
- Você falou de mim pra eles, que eu fiquei com ela.
A minha vontade era ter falado, mas livrei meu grande amigo de uma roubada.
- Nem sequer disse teu nome, meu caro. Agora vamos voltar para o trabalho. – Disse colocando a mão em seu ombro.