o Esquartejador (Sétimo Capítulo)
Cheguei ao trabalho e logo de cara percebi uma movimentação um tanto quanto estranha. Meus colegas de escritório formavam uma roda e conversavam sobre algo que a principio eu não compreendi. Curioso para saber do que se tratava me aproximei para ouvir a conversa.
- Como assim desaparecida? – Disse um de meus colegas, um magrinho de óculos e bigode mal feito.
- Faz um tempo, ela simplesmente nunca mais veio trabalhar. O doutor Bernardo ligou para ela tentando encontra-la, mas até o momento nenhum sinal.
Deixei o papo rolar entre eles, esperando uma boa oportunidade de colocar a minha colher no meio daquilo tudo.
- Quem é essa moça de que estão falando? – Perguntei.
- A Patrícia. Lembra-se dela? – Disse uma moça de cabelos curtos e loiros e olhos bem azuis.
Então comecei a puxar pela memória, mas não recordava de nenhuma Patrícia. Aquele escritório era muito estranho, pois havia um rodizio grande de funcionários, principalmente mulheres.
- Sinceramente não me lembro. – Disse eu enquanto me afastava do burburinho.
Foi aí que veio um misto de susto, surpresa e pitadas de taquicardia. A moça loira de cabelos curtos sacou o celular e mostrou-me uma foto da tal Patrícia, tal qual foi a minha surpresa ao perceber que se tratava justamente da moça que apareceu morta em meu apartamento.
Meu coração disparou. Tudo começou a rodar feito carrossel e eu simplesmente apaguei. Acordei com o Ruan, a Katia e a Rose quase que em cima de mim. Faltava-me ar, me faltava explicações, só me sobravam medo e desespero. Aquele povo em cima de mim não me deixava respirar. Já recuperado e devidamente sentado em uma cadeira confortável e com um copo de água na mão, comecei a ser interrogado pelos colegas.
- Você saiu com essa moça? – Alguém perguntou.
- Não, não sai. – Respondi.
Veio outra pergunta e mais outra resposta negativa. Duvidas e mais duvidas e eu ficando cada vez menos a vontade com toda a situação. Não sabia mais o que fazer, até que o Ruan intercedeu por mim. Com seu jeito gentil e educado foi aos poucos tirando aquela gente chata do meu caminho. Mas quando eu pensei ter me livrado de um milhão de problemas, eis que o meu anjo protetor, meu salva-vidas se senta ao meu lado e dispara:
- Essa moça estava em seu apartamento naquela noite da festa, não estava?
Não poderia mentir, verdade seja dita, não teria como. O Ruan ficou com aquela moça, mas foi embora, ou pelo menos eu penso assim, entretanto eu estava totalmente embriagado, não me recordo de certas coisas realizadas naquela maldita noite, regada a bebida, cigarro e muitas drogas.
- Estava sim, mas depois eu não a vi mais. – Inventei uma desculpa qualquer. Por nenhuma hipótese não poderia dizer a ele: meu caro amigo Ruan, sim, eu vi a Patrícia, morta, toda ensanguentada e com a cabeça espatifada feito melancia quando cai no chão. Mas foi evidente que menti e omiti a esse respeito.
- E como ela foi sumir assim tão de repente? – Ele perguntou.
- Não sei. Só sei que preciso comer. Não coloquei nada na barriga ainda. – Falei, mentindo sobre tudo, inclusive sobre a fome.
. Saímos juntos para comer. Durante o breve lanche o assunto foi a Patrícia. Só o meu amigo falava e eu de boca cheia concordava com tudo, tentando disfarçar a tensão estampada em meu rosto.