O PARQUE DO TERROR - SATÂN, O CÃO COMPANHEIRO

SATÂN O CÃO COMPANHEIRO

O cão era repulsivo, babava como um cavalo doente, uma nódoa esverdeada, escorrendo sem parar pelos dentes afiados e sujos.

Mara pode notar tudo isso segundos antes de correr, mas não havia mais escapatória. (Por que, porque fui me enfiar nesse beco sem saída?).

Ela forçava as grades do portão alto de ferro, na esperança de não-sabia-o-quê. Talvez alguém nas janelas acima, daqueles apartamentos pudessem a ouvir. Talvez alguma alma que acordasse com gritos de seu desespero.

-Alguém, por favor!

Sua voz eccou pela madrugada tremida e morta, como num último suspiro de um filme de terror maistream americano. Ela não podia acreditar que morreria assim; despedaçada pelo cachorro do Carlye, o cão Satãn, conforme fora apelidado pelos jornais da cidade de Santos. Ela não podia admitir que como jornalista pudesse ter sido enganada pelo assassino e pega de surpresa naquela emboscada ridícula. No início não acreditava naquela história de um assassino que atacava suas vítimas com um cão. Aquilo era ridículo. Mas não, agora podia ver que não era. Fora mandada ali àquele fim de mundo pelo seu chefe e constatara que tudo era verdade.

Tinha as fotografias registradas na câmera do fotógrafo morto há pouco, seu parceiro de profissão. Mara conseguiu pegá-la enquanto passava pelo corpo dele, jogado na estradinha de terra a dois quilômetros de distância.

Quando sentiu a primeira mordida do animal a dor foi tão forte que não pode sequer pensar em mais nada. Podia tão-somente sentir o calor do sangue escorrendo pelas costas; o cão teria pulado em seu pescoço? Esse era o único pensamento que pode formular antes de sentir e ver grande parte de sangue escorrendo pelo chão depois de sua queda. Estava tonta e sentia um intenso frio e queria apertar seu próprio corpo para protegê-lo de tudo, do frio, da ameaça; mas não podia mais se mover; seus olhos se fechavam involuntariamente. Ela pode ouvir uma última canção, vinda de não-sabia-onde:

Canções que minha mãe me tocou

Nos dias distantes que desapareceram

Perdidas em suas pálpebras

As lágrimas se foram; banidas desvaneceram

Agora eu as ensino a meus filhos

Cada medida melodiosa

muitas vezes as lágrimas estão saindo como risos

muitas vezes fluem como um rio de um história

Macabra, macabra

Solitária, solitária

Mortal e impiedosa

Perigosa, perigosa

Alexandre Scarpa
Enviado por Alexandre Scarpa em 02/12/2018
Reeditado em 13/12/2018
Código do texto: T6517137
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