Folhas de Cinzas
As cinzas das folhas flutuavam no ar daquela manha de inverno, pareciam dançar no ar, quando caíram na mão do pequeno Augusto. Ele espatifou o pequeno pedaço de fuligem e sentiu que deveria seguir o rastro de seu pequeno amigo sombrio. Ele estava com fome e com sede e não se lembrava ao certo o porquê, apenas que tinha que comer, que estava com frio e que tinha 9 anos, mas como os sentimentos de sobrevivência nos guiam para locais ermos e distantes ele seguiu em direção a floresta de pinheiros congelados pelo frio, andou cerca de uma hora com suas pequenas pernas e, observando uma luz alaranjada e rubra ao fundo da paisagem branca de neve e gelada, com pequenos tons mais escuros das cinzas, seguiu em direção a luz do incêndio, apenas era guiado com pelo tato e pelo sentimento de ir até lá.
Augusto era vítima de surdez desde que nasceu, e apenas seguiu para a luz. Andou cerca de meia hora até chegar em umas casinhas brancas, passou por debaixo da cerca, um pequeno pedaço de seu macacão surrado ficara rasgado na cerca. Ele não via ninguém, sentia apenas cheiro de fumaça e uma floresta queimando logo atrás das casas, caminhou lentamente, para uma esquina ao fundo do conjunto cercado e caiu de fome, mas levantou e logo em seguida pensou na mulher que o alimentava todos os dias e do rosto alegre dela. As cinzas nunca paravam de cair. Quando ele chegou a uma rua sem saída e deu de cara com um homem alto e de cabelos pretos. Com um uniforme preto e um cão ao seu lado. A última coisa que o pequeno Augusto se lembra é da parede que foi chutado e espancado e das cinzas caindo em seu rosto de criança. E do frio do metal da arma apontada em sua nuca. E escuridão. Ano de 1944,Dachau, Alemanha.