AVERSO | CAPÍTULO 2 – GOTAS DE CHUVA

CAPÍTULO 2 – GOTAS DE CHUVA

“Meu nome é Sylph Zan, um jovem que parou de contar sua idade após os vinte anos.”

Usando longas vestes pretas, com um longo cabelo branco, magro e medonhas olheiras, Sylph mais parecia sair de um filme de terror de vampiro dos tempos antigos, seus sapatos marrons surrados e evidentes meias rasgadas sendo possíveis serem vistas pelas frestas dos seus sapatos, revelam o seu total desmazelo.

Logo ele se levantou e foi até sua escrivaninha, desligou a tv e ligou o seu computador.

“Chega de televisão, estou farto desses vislumbres do cotidiano depressivo dos homens.”

Quando o computador carrega Sylph imediatamente vai até a pasta onde esta seu livro, a pasta recebe o nome de “O Homem Vazio”.

“Minha história inacabada e reescrita tantas vezes que até perdi a conta, acredito que nunca irei terminar esse livro, toda vez que chego próximo ao final e releio o que acabei de colocar ali, me sinto receoso além de ver algo em mim em tudo que fora escrito, isso me incomoda de alguma forma.”

Sylph se levanta novamente e vai até o interruptor atrás da porta e acende a luz do quarto, o ambiente iluminado não se torna menos depressivo do que realmente é.

“Luz para as trevas”

Sylph retorna para o computador, senta-se e olha fixamente para a tela e com o arquivo do seu livro aberto ele começa a ler as primeiras páginas, mas logo para, olha para o teto e fecha o arquivo.

“Ainda não esta da maneira que eu gostaria.”

Cabisbaixo e passando a mão pelo seu rosto estendendo seus dedos até os cabelos, Sylph transmitia uma feição de frustração.

“Eu queria ligar pra alguém, mas não existe para quem ligar, acho que eu estou no meu fim.”

Sylph desliga seu computador, se levanta e encosta sua cadeira na escrivaninha, vai até o interruptor e apaga a luz, deita-se na cama e novamente observa as gostas de chuva na janela. Seus olhos vão se tornando cada vez mais pesados, sua mente vagarosamente vai se esvaziando e tudo que Sylph pensa é como ele poderia se tornar como aquelas gotas.

“Nesse momento é tudo que desejo, apenas escorrer-me em algum lugar sem destino, apenas sendo o que sou sem preocupar-me onde isso me levará”.

Antes que sua mente sumisse por completo Sylph houve o som de algo vibrando que quebra todo o transe que o levaria a dormir.

“Mas o que é isso? Que barulho é esse?”

O som não para e Sylph então estica sua mão por cima da cabeceira da cama para alcançar o interruptor, assim que o alcança acende a luz do quarto e olha atentamente ao redor do quarto, logo vê que o som que ouvira esta vindo do seu celular vibrando em cima da escrivaninha.

“Meu celular? Isso é tão incomum, quem poderia estar ligando pra mim a essa hora da noite?”

Sylph se levanta e vai até a escrivaninha, pega o celular e observa que tem um número não identificado na chamada, o número é também muito estranho e incomum, sendo 87786#$312, ele então arrasta seus dedos na tela para aceitar a ligação, coloca o celular em seu ouvido e fala:

- Alô? Quem é?

Ninguém responde e a ligação cai.

“Certamente era o que eu esperava provavelmente alguém ligou aqui por engano.”

Sylph vai até as configurações do celular e retira o modo “vibrar”.

“Eu preciso dormir”

Coloca o celular novamente em cima da escrivaninha e se vira para ir à cama, mas eis que percebe que a luz do celular acende novamente, Sylph se vira e percebe que há mais uma vez uma ligação, sendo do mesmo número de antes, então ele pega o celular e o coloca em seu ouvido e diz:

- Alô? Quem fala?

Uma voz misteriosa responde com um sussurro arrastado e muito sobrenatural:

- As gotas dançam na janela.

A ligação cai e Sylph retira o celular do seu ouvido e fica por alguns segundo o encarando.

“Tudo bem isso foi estranho, eu acho que foi um engano ou eu estou dormindo e ainda não percebi, mas se for será que deveria tentar voar? O que estou pensando, isso foi real e eu estou acordado.”

Sylph coloca o celular em cima da escrivaninha novamente.

“Acho que foi um trote e coincidentemente ele disse algo que eu acabara de refletir enquanto estava deitado, quais as chances disso ocorrer? Bem, eu diria que zero, mas estamos no mundo real não é?”

Olhando para o celular novamente ele não percebe mais nenhuma luz acesa, mas fica ali em pé o olhando por mais alguns segundos.

“Deixa pra lá, bobagem.”

Novamente apaga a luz e volta a se deitar, desta vez ele olha fixamente para a parede em meio à escuridão.

“Eu realmente desejaria me tornar como as gotas da chuva, acredito que o mundo um dia do nada poderia magicamente tornar as pessoas assim, mas acho que seria ainda melhor se todos fossem como balões, não sei por que exatamente estou pensando isso agora, mas vou achar uma boa justificativa para querer que as pessoas fosse assim.”

De repente uma luz estranha ilumina o quarto quebrando os pensamentos de Sylph novamente, que olha para os lados e então se senta na cama, observa a sua frente que o monitor do seu computador esta com a tela acesa mostrando sua imagem do papel de parede, que são filhotes de gatos dentro de uma cesta de lã.

“Ok, isso é estranho, será que me esqueci de desligar? Talvez.”

Novamente ele acende a luz do quarto e vagarosamente vai até o computador, pressiona um botão logo abaixo da tela e o desliga. Sylph ainda olha para o seu celular, mas não observa nada de estranho, logo sem pensar muito novamente volta a se deitar e apaga a luz.

“Eu queria realmente ser um balão.”

No exato momento em que encosta sua cabeça no travesseiro a luz do monitor acende novamente.

“Mas que diabos...”

Novamente se levanta e acende a luz, mas no momento que acende a luz o monitor desliga, então olha para o monitor e depois olha para a lâmpada do seu quarto, então pressiona o interruptor apagando a luz e o monitor misteriosamente acende, ele repete isso mais duas vezes e pensa:

“Quando apago a luz ele acende, entendi é algum problema com a energia, que maravilha”.

Sylph vai até a escrivaninha, afasta a cadeira e se agacha pela parte da frente para tentar alcançar através da escrivaninha a tomada e puxa-la, leva algum tempo até ele conseguir fazer isso devido a vários papéis que se amontoaram ao entorno, mas ele enfim consegue puxar o cabo.

“Pronto, problema resolvido”.

Ele então se levanta, olha o monitor por alguns segundos se vira e volta a apagar a luz e deita-se na cama, respira fundo e fixa seus olhos mais uma vez na parede através da escuridão enquanto houve a chuva intermitente do lado de fora da janela.

“Talvez eu devesse dormir enquanto estivesse embriagado, isso resolveria parte considerável do meu stress com coisas estranhas desse tipo, mas enfim, onde eu estava? Há sim, procurando alguma justificativa para acreditar que as pessoas deveriam ser todas iguais a balões.”

Quando termina sua última frase em seu pensamento, percebe a luz do monitor acender novamente, Sylph arregala seus olhos e fica imóvel por alguns segundos.

“Tudo bem, isso foi estranho”.

Evitando olhar diretamente para o monitor ele estica seu braço tentando alcançar o interruptor, quando enfim acende a luz ele olha para a tela do computador, mas não observa nada de estranho a não ser o papel de parede de gatinhos.

“Acho que alguma coisa que eu não quero e temo dizer esta acontecendo aqui, mas como parte da minha vida fora montada dentro da minha insanidade, eu temo assumir que o que esta acontecendo aqui seja de fato real.”

Ele então se aproxima vagarosamente do monitor e eis que quando ele esta a centímetros ele se apaga novamente.

“Tudo bem, pode ser que não puxei corretamente da tomada os cabos”.

Ele então se abaixa, empurra alguns papéis que estão atrapalhando sua visão e então vê claramente que os cabos estão soltos e não estão conectados na tomada. Quando Sylph se levanta ele percebe que o monitor esta ligado e um bloco de textos esta aberto com alguma mensagem escrita nele.

“Mas o que é isso?”

Ele aproxima seu rosto da tela e lê a mensagem que ali esta escrita.

“-As pessoas deveriam ser como balões, frágeis, irritantes e vazias-”.

Saah__
Enviado por Saah__ em 13/11/2018
Código do texto: T6501436
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