Guiné, samambaia, bambuzinho e imbé...
Eram as quatro espécies vegetais mais comuns que viviam à nossa roda, na tenra infância brumadense, que pra mim foi de 1950 a 1958, ou seja, do berço aos albores da alfabetização. À exceção do imbé, que era envasado, a guiné, o bambuzinho e a samambaia vicejavam em latas, de tamanhos variados, e invariavelmente com a ferrugem a lhes comprometer a imaculice. Ou imaculadagem?
Mas as plantinhas iam bem. Floração dentre elas, que testemunhei, e até me embeveci, só a do imbé. Que tem gente que também chama de guambé. Pouco comuns, mas valia esperar, e não carecia mais que regar. Branquinhas as flores, eram uma festa para os olhos. Mas se devia acautelar: dizia-se serem venenosas as folhas de imbé, dum verde denso, de fé.
Pras outras três espécies, e todas elas ficavam à nossa porta de entrada, numa indicação de que eram protetoras contra alguma coisa, não havia tais preucupantes precauções. Mas tampouco florações. O bambuzinho, cuja folhagem era de um verde clarinho, tinha na verdade era uns espetinhos acúleos - tipo agulha - suavezinhos de vista e toque, mas guardavam uns espinhozinhos protetores que lhes reguardavam a inocência.
A samambaia, a que pelo menos tia Vicentina, nossa eventual pagem e preceptora em horas vagas chamava de sambambaia, me implicava por vezes, por ter por detrás de suas folhas mais antigas uns botõezinhos amarronzados que me comprazia extrair com as unhas, à busca de algum fazer, sem contudo qualquer inclinação para a botânica; e o guiné...? Esse, não constava que fosse venenoso ou ao menos um tiquinho atraente, mas o cheiro de suas folhas era repulsivo, o que lhe garantia a intocabilidade...
O Piru, sim, Piru era assim por todos chamado, já homem feito, e solteirão ainda pelo jeito, irmão dum igual solteirão Guelê, sempre que ia à nossa casa pra tomar injeções que papai lhe aplicava - e para quase tudo quase todo mundo tomava injeção naqueles anos cinquenta - pois bem, brincalhão que era, o Piru, por saber que meu outro prenome é Wangner, regozijava-se em associar meu nome ao guiné: e de boca cheia, benzetacil aplicada, no braço ou veia? caçoava comigo: paulovanguiné...paulovanguiné...Mas a repetição cansava, ao caçoador e ao caçoado,,,e o primeiro retomava então sua seriedade dizendo que seu sonho era deixar a vida de operário para um dia, todo imponente, choferar um caminhão. E até designava a marca International, fazendo questão de pronunciar aportuguesadamente todos os tês... E aí, era minha vez de vingar-me - sempre depois que elel saía, para certificar-me com papai de que a pronúncia correta era internacional...e babau...!