Diversidades (reedição)
Diversidades sim são muitas em nosso mundo,
esta história, uma atribulada vida, por causa do radicalismo,
o que aconteceu pra muitos apenas nada de anormal,
mas para ela um grande acontecimento sobrenatural!...
(dedico esta história à Iraniana Sakineh Ashtiani,
quem sabe quando um dia quando ultrapassar o tempo, ela poderá
desfruatar dignamente, muito feliz sua vida com seus filhos, e
netos também, como no desenrolar desta história.)
A discussão estava acirrada, Hernane e Helana estes dois irmãos desentendiam verbalmente sobre tuas crenças, ele católico e ela evangélica, gêmeos 24 anos, os ânimos dos dois estavam em ampla evolução, o debate não chegava a ser extremo, mas ficava muito acalorado, Hernane não concordava com a expansão de seitas pregadoras do evangelho cada uma a seu modo, aceitava pelo menos aquelas que possuíam uma igreja central para ter uma coerência de ensinamentos.Helana evangélica tão convicta, como a convicção de seu irmão ao catolicismo, também dizia não aceitar coisas infindáveis na aceitação católica, dizia que esta religião propagava abertamente superstições completamente descabidas.
D.ª Laila, a mãe destes dois jovens inteligentes, ardorosos e combativos em suas convicções, mantinha uma certa apreensão, sabia que os dois irmãos se desentendiam mas se amavam apesar de tudo, mas quem poderia saber se um dia o desentendimento chegasse ao extremo e possa motivar uma separação de irmãos! Apreensiva nos seus pensamentos, exclamava:
--- Eu eduquei estes meus filhos na religião católica, os incentivei pra seguir o caminho que quisessem, mas não pensei que fosse assim, Aí é que se dá querer ser uma mãe avançada! Depois desse breve gracejo, uma alternativa pra se zombar de si próprio como se usa algumas pessoas especiais, em momentos difíceis que acontece nesta vida estranha, às vezes triste e sem saída para um rumo estável, um jeito de contornar a situação para a mente não entrar em reboliço, levando qualquer pessoa até mesmo no desespero. Mas no tocante de pessoas especiais D.ª Laila lembrou-se de sua mãe, D.ª Sarakir, nome adotado aqui no Brasil, porque ela veio de muito longe, um país longínquo adepto de outros costumes, tão estranhos principalmente para nós brasileiros vivendo nesta maravilhosa e aconchegante nação.
--- Laila então exclama em seus pensamentos: minha mãe, Sarakir! Esta sim que com seus 100 anos, ainda maravilhosamente lúcida continua sendo muito especial, de uma precisão e sabedoria incríveis, vou fazer ela me ajudar neste dilema inquietante, pois seus netos lhes herdaram geneticamente a inteligência, impulsividade, bondade, sabedoria e esperança alicerçada por uma fé admirável! Numa decisão rápida procura D.ª Sarakir e diz:
--- Mãe, a sra. precisa me ajudar, a diversidade de opiniões de Hernane e Helana estão indo para um caminho uma tanto perigoso!
D. ª Sara estava sentada na varanda, era um começo de tarde, horário preferido por aquela sra. incrível, de idade muito avançada, 100 anos de idade, não é pra qualquer um não!Ela era incrível porque sua mente permanecia bem jovem. Conhecedora do que estava acontecendo, diz:
--- Laila, minha filha, eles já podem conhecer toda a minha história, não é mesmo?
--- Será, mãe? Não pode com isto deixar os dois mais divididos nas suas convicções do que já estão?
--- Não, é justamente por isso que eles devem estar a par do país que eles vivem, da época que estão vivendo, poderem desfrutar de todas as coisas positivas e maravilhosas que estão ao alcance de tuas mãos!
E assim D.ª Laila, que tinha tuas qualidades também, deu um jeito e logo seus filhos: Hernane e Helana, estavam sentados aos pés da avó, que para eles ela também era muito especial.
--- Então, Vovó querida, o que tem pra nos contar? Perguntam os dois uníssonos, quase numa só vós.
--- Vocês sabem um pouco de minha história, de onde eu vim como vivia não é?
--- Sim, vó, a sra. veio daquele país onde as mulheres tinham que viver totalmente cobertas dos pés à cabeça, os homens mandões aproveitavam em todos os sentidos das coitadas!... falou Helana com ar de gracejo--- E as mulheres não podiam manifestar suas opiniões, só os homens que tinham razão!...rebateu Hernani, alfinetando também.
--- Então escutem com toda compreensão e seriedade agora, porque só agora que vão conhecer toda minha vida, antes mesmo de vocês sonharem em nascer, começa D.ª Sarakir tua história.
Na minha mocidade tive uma educação religiosa rígida, no meu país a transgressão das regras de alguns do livro religioso, estaria sujeita aos mais duros castigos, até à morte de modo totalmente cruel, mas só as mulheres que mais pagavam, simplesmente por serem mulheres! Criaturas inferiores sem o direito de se manifestar. Fui uma garota rebelde pelos padrões de lá, principalmente naqueles tempos dos meus 20 anos me rebelava continuamente.
--- Vinte anos, Vó? era mais nova do que eu agora!... Intervem Helana.
--- E agora entendo porque minha irmã é tão teimosa, puxou à vovó! Alfineta Hernane, dizendo: até agora nós sabemos vó, que a sra. comeu o pão que o diabo amassou, lá naquele país bem longe, mas não sabemos tudo, sempre percebemos que ainda tem tanta coisa no ar!...
--- Ah! Há aqueles anos atrás, como é penoso lembrar, eu a jovenzinha inquieta, que papai e mamãe teimavam em dizer, se não comportasse não poderiam fazer mais nada, queimaria no fogo do inferno!!! Mas eu tinha absoluta certeza de que minha vida não estava errada de jeito nenhum. As condições financeiras de meus pais, me possibilitaram concluir estudos bem mais do que a maioria das mulheres daquele meu país principalmente naquela época! Respeitava muito minha religião e dos meus pais, predominante lá, e na minha convicção não é a religião que muda o homem, mas sim ele acreditar firmemente que realmente existe as coisas sobrenaturais, que podem sobrepor as coisas terrenas, pois os humanos criaturas incríveis, dotados de inteligência incalculáveis, mas impossível compreender os mistérios do nosso Criador.
Uma vez estudei sobre o cristianismo, fiquei simplesmente maravilhada! Abracei esta religião de corpo e alma, não que repudiasse a religião de meus pais, que muitos que a seguem realmente acreditam seguir o Altíssimo, aceitando seus preceitos. Mas no cristianismo me identifiquei. A possibilidade de amar tanto, mesmo aqueles que nos fazem mal, perdoar sempre, não uma vez só mas muito, muitas vezes mais, os milagres de Jesus, poderes imensos!...
Cada vez mais concluía que a mulher tem um papel importantíssimo no mundo, eu displicentemente já estava sendo observada, por pessoas encarregadas de denunciar os infratores dos costumes, erroneamente confirmantes de blasfemar do livro sagrado, que não difamei, mas já tinha me tornado inseparável do livro sagrado dos cristãos!
Trabalhava com afinco no escritório de uma refinaria de petróleo, um dia levei uns papéis para um engenheiro chefe que era brasileiro, ao chegar em sua sala quase desmaiei, pensei momentaneamente: ---que homem lindo, meu Deus!... Vocês não advinham quem? Era o avô de vocês.
--- Ah! Então o mala de meu irmão não se puxou a ele de jeito nenhum! debocha na tua vez Helana, mas continua vó, está muito bom!
--- É o que estou tentando, mas vocês me interrompem sempre! fala a sra. Sarakir toda animada.
Conversa vai conversa vem nós nos conhecíamos cada vez mais, sentíamos atraídos um pelo outro, tamanha é a atração de um grande amor, mas não podíamos namorar, o fabuloso dr. Eric, avô de vocês era casado, e bem casado com a filha de um figurão naquele país.
Nossa amizade estava tornando tão perigosa!
--- Amizade?... Pergunta, Helana e depois aquele longo sorriso!
Responde D.ª Sarakir: --- amizade sim, bobinha, nem eu nem ele poderíamos se aventurar numa relação mais íntima, apesar de nos amar, ninguém acreditava, mas nunca houve aquilo tão natural entre dois jovens que se amam, um beijo entre nós. Ele pediu e conseguiu sua transferência, porque a situação estava perigosíssima, uma denúncia qualquer eu seria presa e apedrejada. Entretanto ele já sabia tudo sobre mim, comentava que eu era mais cristã do que ele que tinha nascido e criado na religião católica, na terra dele, Brasil o falado país que ele tanto amava, eu pude conhecer pelos teus comentários bem antes de vir morar aqui.
Num inesperado dia aconteceu a tragédia, a mulher de Eric se suicidou, apesar dele ter declarado à ela que nunca a abandonaria, eu já estava a quilômetros dele e não íamos mais nos encontrar. Ela sabia realmente isso pois conhecia a verdadeira integridade do seu marido.
Entretanto o terrível escândalo, manchete no jornal local: aquela que se converteu ao cristianismo, foi a causadora de uma infidelidade, de um casal que se amavam intensamente, felizmente não tinham filhos, porque senão estariam envolvidos num lar de lama!...
Depois um longo artigo que antes de se suicidar, ela inocenta veemente o marido, dizendo que ele foi a vítima de trabalhos satânicos daquela que se converteu.
Eric, numa demonstração de coragem tentou em outro artigo desmentir tudo, da suposta traição, de tudo que se passou de tudo que eu era.
Prevaleceu a acusação da esposa morta, tive de esconder, Eric me colocou num esconderijo, preocupado procurava uma solução para o meu caso, talvez uma fuga para outro país, e porque não o Brasil a tua terra natal? Numa noite combinávamos os procedimentos necessários, (foi nesta noite que Sarakir e Eric tiveram os teus momentos felizes e mágicos de amor, a felicidade foi intensa para ambos e nunca esqueceram, está entre parêntese esta citação, porque ela D.ª Sarakir não revela aos netos, achando que era relato inadequado para os dois jovens, apesar deles já perceberem) mas eu não pude escapar do cerco que se formava contra mim, (continua relatando e tentando disfarçar a emoção) no outro dia mesmo me encontraram e fui presa!
Percebendo a apreensão nos jovens, intrigados com a interessante história, ela diz:
--- Acho que é melhor eu parar!
--- Não, vó, nós queremos saber, repetem cada um deles procurando dissimular a emoção.
Ao ser presa não estava apavorada, acreditava na justiça, mesmo que não houvesse aqui, mas sempre há justiça dos céus! (apavorada ela ficou sim, mentiu em seu relato? Não, seria bem assim, ela não queria que seus netos percebessem o tamanho pavor que ela teve ao ser levada para a prisão, mas naqueles momentos foi implorando: --- sou inocente! Os policiais aos empurrões vociferavam: não é a nós que deve dizer isto, mas sim aos juizes!...
Na prisão um de meus poucos pertences, era a Bíblia que consegui levar, parecia a minha única esperança naquele local sombrio, entre tantas mulheres presas de olhares desconfiados, algumas até me comentavam seus sofrimentos, (qualquer deslizes espancamentos, estupros, torturas de todas espécies às vezes até à morte, entre parênteses também porque Sakira não relatava aos netos, só pensava....) mantinha raros contatos com Eric, que me consolava, estava mantendo alguns contatos com amigos, para me libertar, --- até lá vai rezando, porque eu voltei a rezar continuamente! Falava assim sempre que podia.
Depois dos esperançosos estímulos de Eric, até aumentei minhas súplicas, (ela sentiu um medo atroz, depois da confirmação de sua condenação, seria apedrejada, era questão de tempo!...)Um dia em minhas orações, no meu minúsculo quartinho, ajoelhada pedia, implorava a Jesus a minha liberdade, só seria possível com a sua ajuda, de repente minha cela entra um guarda dizendo: --- o teu livro, o teu livro, temos ordem de queima-lo!
(só queimar a Bíblia? Não, D.ª Sakira, foi empurrada para o pátio, foi duramente açoitada, chutada, naquele momento ela sabia que depois até o estupro seria possível, num apavorante pedido: --- isso não, meu Jesus, não permita?)
---Vó, você está chorando? Pergunta Helana, comovida.
---Vó, pare, não queremos que lembre mais, por favor! Intercede Hernane.
--- Não, crianças, enxugando as lágrimas, é que naquele momento eu via a minha bíblia já quase queimada, fiquei triste por isso, mas tenho de continuar, porque o que vi, devo lhes contar, continua vó Sakira já refeita da emoção:
no momento que meu livro sagrado estava sendo queimado, vi sua fumaça formar uma figura de mulher muito linda, meiga tão contemplativa, entendia claramente sua mensagem: filha você será salva, depois nitidamente outra fumaça formar uma figura de Cristo crucificado com mensagem também: eu vim ao mundo para a salvação dos homens.
Depois disto a minha alegria foi total, tanto que minhas companheiras percebia, até a que tinha me denunciado me pediu perdão. Por um passe de mágica, quer dizer, por um milagre, alguma autoridade maior me concedeu a liberdade da prisão, mas não podia deixar o país de jeito nenhum.
Depois outro milagre iluminando minha vida, por completo, Eric consegue um meio seguro de fugirmos e vir para o Brasil, mas antes nos casamos de uma maneira discreta, um padre nosso amigo fez a cerimônia!
Depois entramos neste país lindo, mais lindo do que eu imaginava, e olha que nas minhas imaginações já ficava deslumbrada, ser este povo tão amável, querido e respeitado no mundo inteiro. Ao chegarmos aqui, o avô que vocês não chegaram a conhecer, já tinha conseguido comprar esta simples fazendinha, as suas pequenas economias as empregou aqui, ao percorrermos no nosso carro, eu ia ficando encantada, até chegarmos na nossa casa, vislumbrava com as matas, muito verde exuberante, as indescritíveis lindas cascatas, as pessoas também me contagiava, eu então na euforia dizia: realmente aqui é um paraíso!... Continuei vivendo aqui e vocês já sabem o resultado!...
Portanto, meus netos: Hernane e Helana, vocês são Cristãos, separados em algumas convicções, mas a tolerância um com o outro é a maior forma de amar, sentimento maior, tão grande, que chega ser até eterno, porque é o maior dos mandamentos do nosso Criador! Porque se cada um querer impor suas convicções a seu modo, a ferro e fogo,aí sim as desavenças aumentam e o mal tem o poder de infiltrar cada vez mais até entre os filhos de Deus, aqueles que se propõem em por avante o seu verdadeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!
D.ª Laila, chegou a tempo de ouvir o fim da história, mas já sabia de cor totalmente, e nos olhos aumentaram mais as lágrimas ao ver vó netos todos emocionados abraçados, se ajuntou também nos calorosos abraços e um grande agradecimento:
--- Deus lhe pague minha mãe!...