A IRMANDADE

Lia acabara de receber a notícia que conseguiu ser aprovada na seleção para uma bolsa de estudo, em uma escola de elite, distante do munícipio de onde ela mora. A garota vem de uma família humilde, de pais batalhadores, com suas mãos calejadas pela lida diária, eles trabalham vendendo frutas e verduras no mercado. Ela queria ter oportunidade de estudar fora, de futuramente fazer vestibular para Letras e ser uma profissional competente...

Liliane da Silva sempre foi muito estudiosa, porém ela sabia que se continuasse vivendo ali e estudando na única escola daquele pequeno Vilarejo, provavelmente, ela iria terminar como os seus pais, vendedores de frutas e verduras, que para ela era um prazer ter pais tão trabalhadores, porém aos seus quinze anos de idade ela sonhava mais alto, queria ser como a sua professora, uma mediadora do saber, queria trocar diferentes aprendizagens com seus futuros alunos.

A sua mãe, dona Eva, aguardava o abraço da filha, mas Lia estava atônita, ainda em estado de surpresa, pela excelente notícia.

- Lia, você não está feliz? Por que está chorando? Pergunta-lhe dona Eva.

- Eu estou muito feliz, mamãe! Eu choro de muita felicidade, foram noites e noites acordada, estudando para essa seleção, ter sido aprovada é muito mais que um prêmio, é uma realização pessoal, uma conquista e principalmente, é a chance de um futuro melhor para mim e a minha família. Responde-lhe e enxuga as lágrimas que escorrem pela sua face rosada.

Dona Eva olha fixamente para ela, beija-lhe o rosto e continua falando tranquilamente:

- Querida filha, amanhã será um novo dia, uma nova etapa em sua vida! Aproveite para arrumar sua mala, pois bem cedinho o ônibus da Prefeitura virá buscá-la e sai em seguida.

Lia não consegue acreditar em sua aprovação, o novo amanhecer será de muitas alegrias, de descobertas, um novo horizonte, novas cores. Ela aproveita para contemplar o pôr do sol, que se despede no dia, onde os seus raios brilhantes se misturam ao alaranjado do crepúsculo que tinge quase de vermelho o horizonte... A garota pega a única mala velha que tem em casa e, vai dobrando cuidadosamente as suas roupas, pois o futuro lhe espera.

Já na nova Instituição de Ensino, Lia caminha sozinha pelo corredor vazio da escola, Vida em Primeiro Lugar, ela segue em direção ao alojamento das novatas, pois suas aulas só começarão no dia seguinte. Ela entra em um quarto todo pintado de rosa, com três camas, onde duas delas já estão ocupadas por jovens que ainda dormem. Ela se senta na terceira cama e o silêncio é quebrado por uma das jovens que diz:

- Boa Tarde, sou Tina! Eu sou da Irmandade “Cor de Rosa”, e você?

- Boa Tarde, sou Lia! Eu acabei de chegar e desconheço que exista qualquer Irmandade nesta escola, pois para mim, só conheço um tipo de Irmandade, que é laço de parentesco entre irmãos e, sou filha única. Responde-lhe com ar de serenidade no rosto.

- Boa Tarde, eu sou Sandra! Lia, Irmandade aqui, é um grupo de estudantes que defendem os mesmos interesses ou objetivos comuns. Entendeu? Você quer ser um membro da nossa Irmandade? Pergunta-lhe Sandra.

- Eu entendi sim! Eu prometo-lhes pensar sobre o assunto e depois decidirei. Lia responde-lhe e vai descansar um pouco...

O sol nem havia resplandecido no horizonte quando o toque da campainha desperta os estudantes para o desjejum matinal e logo após o início das primeiras aulas. Lia toma rápido um copo de leite puro e come algumas torradas e segue em seguida para sua sala de aula, ela está muito ansiosa, pois é o seu primeiro dia naquela escola de elite. Ao toque do intervalo ela aproveita para ir à Biblioteca pesquisar o conceito de Irmandade. “Sabe-se que a palavra Irmandade vem de irmão. Significa que a pessoa tem vínculo de sangue com a outra através de um ou dos dois progenitores. A palavra irmão está no campo semântico das palavras afins: irmã, irmanar e irmandade...” Assim, Lia fica pensativa sobre o assunto: “Acho que terei de aceitar o convite das garotas, pois preciso me entrosar na escola” e logo, retorna à sala de aula.

Lia comunica as colegas de quarto que aceita tornar-se membro da “Irmandade Cor de Rosa”, porém as garotas explicam à Lia que ela precisará provar sua lealdade para se tornar um membro da Irmandade. À tardinha Lia entra no quarto para estudar e cruza com Sandra que vai logo falando:

- Lia, você precisa participar da prova para ingressar na Irmandade, que será realizada às 22h00 de hoje, no Cemitério que fica localizado dentro da Capela, aqui na escola. Nós membros da Irmandade estaremos lá te esperando...

Exatamente às 22h00 Lia chega ao Ossuário, Alameda dos Mortos, localizado dentro da Capela na escola. A garota caminha receosa pelo corredor comprido, sombrio e vazio daquele lugar, porém chega ao final do corredor e não consegue encontrar ninguém, ela volta ao portão de entrada da Capela e percebe que está fechado por um cadeado. Lia fica bastante aflita, pois se sente sozinha, roga a Deus por proteção, pensa nos pais e na falta de compromisso das novas colegas. De repente, as luzes se apagam e tudo fica às escuras, ela já não consegue enxergar quase nada à frente, somente o brilho dos Vagalumes que piscam no ar. Seus batimentos cardíacos aceleram, um tremor que não tem fim, um suor frio escorre pelo seu rosto que se mistura as lágrimas que insistem em cair e o medo toma conta dos seus sentidos, ela já não consegue respirar. É neste clima desesperador que algo terrível acontece: Um sopro em seu ouvido esquerdo, um toque forte em seu ombro, um sussurro anormal e ela desmaia.

Os pais de Lia são chamados ao Hospital Central que fica próximo à escola, onde sua filha foi atendida de urgência. Dona Eva está muito aflita, pois sabe que Lia tem problemas cardíacos desde criança, eles ficam esperando por notícias na antessala. Logo, um médico entra e diz:

- Bom Dia! Vocês devem ser os pais da garota Liliane da Silva, eu sou o médico que atendeu sua filha, ela teve uma parada Cardiorrespiratória e chegou neste hospital já desacordada, veio trazida pelo zelador da escola que não soube explicar como aquilo aconteceu. Infelizmente, ela demorou muito para ser socorrida, por isso existe grande possibilidade da sua filha ficar com sequelas (dificuldade na fala e alterações de memória). O mundo se fechou para os pais daquela garota que sonhava em ser uma professora...

Os tempos passaram e nunca mais Lia foi a mesma, ela atualmente mora com os pais e é dependente deles em tudo.

As brincadeiras de mau gosto que servem para ridicularizar os colegas na escola podem deixar marcas profundas, dolorosas e trágicas, danos irreparáveis, cicatrizes pelo corpo, na alma e no coração dos estudantes. São sonhos partidos, vidas quebradas e pessoas destruídas... Diga não à violência! Diga sim à vida!

Elisabete Leite – 12/09/2018

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Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 16/09/2018
Reeditado em 08/10/2018
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