A SUSPEITA

Tina chegou atrasada à escola. Estava esbaforida. Havia perdido o ônibus e com a sala lotada nem cadeira havia para se sentar. Entrou timidamente na sala. Em sua mente um turbilhão de sentimentos. Era seu primeiro dia de aula. Seu sofrimento era visível e marcava seus olhos espantados.

A professora acolheu carinhosamente a menina de aproximadamente oito anos. Apresentou-a para os colegas, explicou a chegada da colega e a necessidade de acolhê-la bem. Pediu a menina para falar um pouco de si mesma.

Com os olhos em estado de pânico a menina olhou para a turma. Ficou paralisada por uns instantes depois ainda titubeando se apresentou. Contou que estava vindo de Guará dos Retalhos e que chegara à cidade havia apenas dois dias. Olhou para os colegas e conseguiu perceber que todos estavam paralisados observando-a fixamente. Sentiu seu rosto corar e as palavras faltaram.

A professora percebeu o constrangimento e pediu a uma colega que a auxiliasse para buscar uma mesa e cadeira. A sala começou um burburinho difícil de ser controlado. A professora se apresentou com pulso forte e aos poucos todos foram se assentando e acalmando.

Havia nos olhos daquela menina mais do que aparentava, pensou a professora. Seria apenas timidez. O que poderia ser? Chamou a atenção da turma e iniciou sua aula. Começou a falar de lendas urbanas. Explicou o que eram lendas urbanas, como elas surgiram. Trouxe também um pequeno vídeo para explicar um pouco melhor. Enquanto ia falando Tina entrou na sala. Colocou sua mesa e a cadeira e se assentou.

Ouviu a professora falar sobre lendas urbanas. Pensou intimamente que jamais poderia deixar transparecer o que realmente era. A professora continuou a explicar e ela de cabeça baixa ia escondendo os traços que certamente a trairiam se não tomasse cuidado.

A professora ia falando e observando a nova aluna. Viu que abaixou a cabeça e parecia esconder algo. Continuou a falar sobre o assunto e passou o vídeo de uma Lenda Urbana chamada A garota do cemitério. À medida que o vídeo ia passando a professora observava transformações na menina. Sua pele de repente começou a ficar verde com tons azulados. Seus cabelos começaram a suspender como se houvesse levado um susto. E seus olhos ficaram vermelhos como fogo.

A professora teve um sobressalto: estaria diante da Garota do Cemitério.

A lenda urbana dizia que a Garota do Cemitério era uma menina que vivia rondando o cemitério em busca de sua família perdida em um incêndio que ocorrera durante um acidente. Ocasião em que nem os corpos haviam sido encontrados para serem enterrados. E a menina sem destino caminhava pelo mundo. Durante o dia, para ver se encontrava seus pais, e à noite ia para o cemitério tentar encontrar sua família querida.

A professora teve um sobressalto: Onde estaria a Laura? Correu até a porta e nada. Foi até a janela que dava para a cantina e nada. Onde estaria Laura? Fechou a lâmpada do projetor pediu silêncio aos alunos e foi até Tina.

Neste momento, Tina percebeu que havia sido descoberta. Sempre havia sido assim. Quando desejava ser uma garota normal era descoberta e precisava fugir loucamente. Quando teria paz? Passou por baixo dos braços da professora, transpôs a porta fechada, correu loucamente pelo pátio da escola, rompeu o muro e ganhou a rua.

A professora, em vão tentava acalmar as crianças. Laura de repente apareceu na janela da sala acenando para a professora. A diretora foi chamada. Todos tentavam explicar o que havia acontecido na sala, mas ninguém conseguia compreender o que aquela menina estranha estaria fazendo na sala deles.

E Tina? Tina, durante o dia vive tentando, até hoje, uma vaga pelas escolas do mundo na vã esperança de encontrar os pais e à noite perambula pelos cemitério, na expectativa de encontrar os seus.

E você?

Tome cuidado com "A garota do cemitério".

NEUZA DRUMOND
Enviado por NEUZA DRUMOND em 13/09/2018
Código do texto: T6447752
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