Um Crime Estranho(3)

Aquela rua era tão parada quanto um local inabitado, talvez mais até, um odor de não-mudança perpassava todas aquelas calçadas mal-acabadas e sujas, era um local vazio, nele podia-se dizer que realmente não transpirava vida... e talvez até a morte lhe escapasse. As janelas abriam-se vagarosamente, os vizinhos mal falavam entre si, tudo era monótono, um bairro ao qual ninguém gostaria de colocar os pés.

Na casa de número 33, morava um casal chamado Augusto e Vivian, Augusto era servente numa olaria, Vivian, uma costureira com poucos dotes para a arte da costura, os dois viviam como grandes estranhos, quando não se ignoravam, brigavam por ninharias; o amor presente era o físico, mas aquele completamente sem ternura, se beirava ao animalesco seria um severo e distinto elogio. Augusto bebia constantemente, começara a beber aos 17 anos(tinha 32), já havia sofrido dois colapsos e uma crise de pancreatite, não tinha família e a esposa não pensava em ajudá-lo, dormia quase todo fim de semana para fora, no quintal. Via-se no fundo do quintal as garrafas empilhadas, objetos inúteis e que eram guardados há um bom tempo. Vivian reclamava e punha-se a menosprezar qualquer pessoa que viesse ajudá-la, na pequena vizinhança desse infeliz bairro, alguns saíam-se por gentileza e fraternidade... ela, recusava toda e qualquer aproximação, não via-se nunca conversando com alguém, ao chegar a casa, era sempre de forma rude e de supetão, um grande vendaval de carne entrava pela sala.

Qualquer gesto ou ato dentro da residência era motivo para discussões, elas terminavam sempre em batidas de porta ou objetos sendo arremessados, não se tinha mais de 10 pratos em casa, os únicos objetos que ainda não haviam sido quebrados eram as janelas e a pia suja do banheiro.

Vivian enojava-se de tudo que a cercava, nada era considerado em sua mente comum,até mesmo a saliva lhe causava repúdio, lavava as mãos constantemente, o esmalte de suas unhas era pintado toda semana, mas com toda essa " mania", andava quase sempre desarrumada; os cabelos escuros jogados desorganizada mente sobre os ombros, uma medusa em roupas modernas.

Constantemente via-se Augusto reclamando pelos bares e ruas, o comportamento cruel e doentio de Vivian o perturbavam ainda mais, as pessoas irritavam-se, pois ele falava enquanto estava alcoolizado, até parava os transeuntes, ao regressar para a casa, se Vivian estava, novas discussões enchiam o local, Vivian chorava copiosamente quando ele batia a porta do quarto.

Certo dia em um outono que não se mostrava, um dia estranho e ao qual toda pessoa diria ser mais um sonho que realidade, Vivian chegou em casa, sentou-se e tirou um pequeno cochilo, a porta abriu-se e um vulto com uma capa escura entrou na sala, carregava um pequeno vidro e um algodão, aproximou-se de Vivian e molhou o algodão com o líquido, Vivian... acordou, estaria desmaiada? Um olhar de susto percorreu seu rosto; o desconhecido a arrastou até o quarto e fechou a porta.

Augusto chegou duas horas depois, estava bem vestido e percebia-se que não bebera, usava uma pequena corrente no braço, comprada em um mafuá, chamou por Vivian na cozinha, depois fora ao quintal ver se ela não estava conversando com uma vizinha, depois foi ao quarto de hóspedes e coçou a cabeça, confuso que estava, pois às oito, Vivian sempre chegava, foi até o quarto do casal e decidiu tomar um banho; quase não usava aquele banheiro da residência, ao sair do banheiro, vestiu uma camiseta verde- escura e esquecera da calça, como sempre guardava as calças no guarda-roupa do casal, antes guardava em uma pequena peça no quarto vago, ao abrir, uma expressão de susto e repulsa tomou conta dele, Vivian estava espremida no guarda-roupa de tamanho ínfimo, morta, o assassino sabendo que ela só caberia se fizesse um buraco na parte inferior do guarda-roupa, os pés estavam prensados e vermelhos pelo pequeno buraco feito, o rosto de Vivian estava maquilado com uma sombra azulada e um batom creme discreto, em seu pescoço duas facadas em linha reta, quase tocando uma na outra e uma palavra escrita no colo desnudo de Vivian: "Incrível”. Augusto estava chocado, fechou rapidamente a porta do guarda-roupa e saiu do quarto, foi até a garagem e pegou o carro, abriu rapidamente a garagem e dirigiu até a esquina, dobrou-a e um barulho de vidros ouviu-se logo depois. O carro havia colidido com uma vitrine de uma loja.

Martin Schongauer
Enviado por Martin Schongauer em 01/09/2018
Reeditado em 18/10/2021
Código do texto: T6436061
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