TROCA DE INJÚRIAS
Wanda, mulher decidida, vinte e seis anos de idade, mãe de Adelaide de três anos de sobrevivência, linda como a mãe. Ela e sua filhinha moravam em um barraco de três cômodos onde se ajeitavam todos os dias. Era conhecidíssima no bairro e estava naquela tarde conversando com dona Isabel. A conversa que começou animada foi ficando pesada. De repente surge uma discursão entre as duas mulheres. Começaram a trocar injúrias.      — Olhe aqui, eu não vim ao mundo para ficar discutindo com uma velha ignorante. — expressou Wanda em alta voz. — Posso ser velha, mas não sou leviana.— respondeu dona Isabel.      Wanda já ia rebater quando Carlos se aproximou. O rapaz era filho único de dona Isabel, entendeu logo o que estava acontecendo entre aquelas duas mulheres e convidou sua mãe para se retirar, tentando conter as duas senhoras, uma mais jovem e a outra, sua mãe, já na terceira idade, que estavam com os nervos à flor da pele.
     — Leva sua querida mamãezinha, meu boneco, leva essa velha daqui. Carlos, que começou a ficar irritado com a jovem senhora, e dona Isabel saíram nervosos pela rua, viraram a esquina e chegaram a casa onde moravam.
     Carlos encontrou, mais tarde em um dos bares do bairro, dois amigos, Felipe e Marcelo. Contou o fato e chegaram à conclusão que deviam falar com Wanda.
     Foram até a casa dela onde a encontraram alimentando sua filhinha com o pouco de alimento que tinha.
     — Wanda, você precisa pedir desculpas para a dona Isabel. Ela é uma pessoa legal, não merece o que você falou. Certamente foi nervosismo. — falou Felipe.
     — Mas que meninos meigos. — Wanda falou com sarcasmo passando a mão no queixo de Felipe e olhando com ar de superioridade para os outros dois. Os quatro saíram da casa e foram em direção à casa de dona Isabel, dobrando a mesma esquina antes contornada por Carlos e sua mãe. Chegando ao destino, Wanda foi logo tomando a iniciativa do diálogo:
     — Oh dona Isabel, humildemente venho pedir desculpas para a senhora. Desculpe-me se a senhora for capaz. — virando o rosto para os três rapazes, ela arrebatou. — Meninos, é assim que se pede desculpas? É assim que vocês queriam que eu fizesse? — depois soltou uma gargalhada que deixou os quatros atônitos de ira.
     Wanda, após a gargalhada, saiu mexendo os quadris de volta para a sua casa. Os três rapazes entenderam através de olhares entre si que Wanda era um caso perdido.
     Irados, decidiram desforrar. Era 19h30 quando chegaram à casa da mulher que debochara da tentativa de pacificação de Carlos. Adelaide estava na sala brincando. Entraram e foram até a cozinha onde Wanda estava lavando as louças do mísero jantar.
     — Oi rapazes, vocês por aqui de novo? O que...
     Wanda não pode completar a pergunta. Os três rapazes já a haviam dominado e depois passaram uma faixa sobre a sua boca.
     Um dos rapazes lembrou-se de Adelaide. Voltou até a sala e começou a brincar com a menina.
     Wanda, dominada, impedida de gritar por socorro, foi levada até ao banheiro.
     Já despida, tudo parecia se encaminhar para um estupro coletivo, o que não ocorreu.
     Wanda pode sentir quando a primeira facada lhe atravessou a pele e o sangue escorreu pelo lado externo... Mais uma facada... Outra mais... Ao todo foram doze.
     Os rapazes saíram, entraram no corcel de Carlos e partiram rumo à estrada asfaltada, levando consigo Adelaide que conheciam os rapazes e poderiam denunciá-los para a polícia.      Adelaide, inocente, estava alegre. Adorava passear de carro e isso ela já havia feito com Carlos há algum tempo quando ele e sua mãe estavam se dando bem. Carlos a tratava naquela época como um pai. Ela perguntou pela mãe e não teve resposta dos rapazes.
     A intenção do trio era sair da cidade em fuga. Depois voltariam. Diriam para a polícia que estavam dando uma volta com a menina a pedido de Wanda. Mas como fazer a menina ficar calada? Afinal, fora Adelaide, ninguém havia notado a entrada e a saída deles naquele barraco.
     A polícia foi chamada ao hospital São Manoel. Em um leito da enfermaria feminina, a paciente com doze perfurações em seu corpo e falando de forma cansada precisava fazer uma denúncia. Sua filha de três anos havia sido sequestrada pelos seus agressores. Ela havia sobrevivido ao ataque por ter se fingido de morta.
     A polícia saiu em perseguição ao trio. Tarde demais. A dezesseis quilômetros da entrada da pequena cidade um carro foi incendiado com dois corpos dentro. Foram identificados como sendo de Carlos e Marcelo. Dois dias depois o corpo de Adelaide apareceu já em estado de decomposição dentro do matagal dois quilômetros mais a frente onde o carro havia sido incendiado.
     Wanda, dois meses após os fatos, recebe uma mensagem no seu WatsApp.: “Oi amor, tudo arrumado por aqui. Venha amanhã, estarei te esperando a dois quarteirões da rodoviária, indo para a Vila Rubim. Você sabe onde é.” Doze facadas foi o preço que ela pagou para se livrar de Marcelo que, por covardia, não assumiu a filha e da nojentinha da Adelaide, lembrança da sua burrice em engravidar e de Carlos que a traiu com a melhor amiga. Tentaria uma nova chance de ser feliz nos braços de Felipe.
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 23/07/2018
Reeditado em 23/07/2018
Código do texto: T6398227
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